Plinio Corrêa de Oliveira

 

Madonna del Miracolo

A felicidade da despretensão, da pureza e da admiração

 

 

 

Santo do Dia, 20 de janeiro de 1976

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

      Após haver narrado a história da Medalha Milagrosa, e a conversão ao Catolicismo do hebreu Alphonse Ratisbonne, em Roma (a 20 de janeiro de 1842), por ocasião de esplendorosa aparição de Nossa Senhora, o prof. Plinio comenta a imagem que foi colocada exatamente no altar em que se deu esse fato portentoso:

 

 

 

        O quadro da Madonna del Miracolo (Nossa Senhora do Milagre) aparece com a fronte encimada por uma coroa e por um resplendor em forma de círculo de 12 estrelas.

        A fisionomia é discretamente sorridente, com o olhar voltado para quem estiver ajoelhado diante d’Ela. Muito afável, mas ao mesmo tempo muito régia. Pelo porte, dá impressão de uma pessoa alta, esguia sem ser magra, muito bem proporcionada e com algo de imponderável da consciência de sua própria dignidade.

 

 

 

       Tem-se a impressão de uma rainha, muito menos pela coroa do que pelo todo d’Ela, pelo misto de grandeza e de misericórdia.

        A pessoa que a contempla tende a ficar apaziguada, serenada, tranqüilizada, como quem sente acalmadas as suas más paixões em agitação. A meu ver o elemento mais tocante desta imagem é este aspecto apaziguador. Como se Ela dissesse: “Meu filho, Eu arranjo tudo, não se atormente, estou aqui ouvindo a você que precisa de tudo, mas Eu posso tudo, e o Meu desejo é de dar-lhe tudo. Portanto, não tenha dúvida, espere mais um pouco, mas atendê-lo-ei abundantemente. Eu para você não tenho reservas, não tenho recusas, não tenho nem recriminações pelos seus pecados. Eu lhe estou olhando num estado de alma, numa disposição de ânimo, por onde você de Mim consegue tudo o que você pedir, e muito mais ainda”.

A pintura tem um certo ar de mistério, mas um mistério suave e diáfano. Seria como o mistério de um dia com um céu muito azul, em que se pergunta o que haverá para além do azul. Mas não é um mistério carregado, é um mistério que fica por detrás do azul e não por detrás das nuvens. Um mistério como quem diz o seguinte: “Se você conhecesse o dom de Deus, se você soubesse quanta coisa Eu tenho para lhe dar, e que maravilhas há em Mim, aí é que você compreenderia. Eu estou notando essas maravilhas e transbordo do desejo de as dar a você. Como você compreenderia bem o que Eu sou se você quisesse abrir os olhos para essas maravilhas”.

E esse apaziguamento que Ela comunica é uma espécie de primeiro passo para a pessoa que queira se deixar maravilhar, para a pessoa, recebendo esta misteriosa ação da graça, começar a admirar e procurar perguntar o que há nEla, o que Ela está exprimindo, o que Ela diz.

Notem a impressão de pureza que o quadro transmite. Ele comunica algo do prazer de ser puro, fazendo compreender que a felicidade não está na impureza, ao invés do que muita gente pensa. É o contrário. Possuindo verdadeiramente a pureza, compreende-se a inefável felicidade que ela concede, perto da qual toda a pseudo felicidade da impureza é lixo, tormento e aflição.

Notem também a humildade. Ela revela uma atitude de rainha, mas fazendo abstração de toda superioridade sobre a pessoa que reza diante d’Ela. Trata a pessoa como se tivesse proporção com Ela; quando nenhum de nós tem essa proporção, nem mesmo os santos.

Entretanto, se aparecesse Nosso Senhor Jesus Cristo, Ela ajoelhar-se-ia para adorar Aquele que é infinitamente mais. Ela tem a felicidade inefável da despretensão e da pureza.

Diante de um mundo que o demônio vai arrastando para o mal, pelo prazer da impureza e do orgulho, a Madonna del Miracolo comunica-nos esse prazer da despretensão e da pureza.

É um chamar a Si suavissimamente, sem pito nem recriminação, mas como quem diz: “Meu filho, você se lembra dos tempos primitivos de sua inocência? Você não se lembra antes de você ter pecado como você era? Você não se lembra que havia coisas dessas em você? Eu lhe ofereço isso. Eu o restauro! Abra-se para Mim, olhe para Mim. Eu lhe dou isso. Venha! No caminho que conduz a Mim só existe perdão, bondade e atração. Venha logo!”

Não é difícil a gente estabelecer uma relação desses traços com a Contra-Revolução, apresentada aqui não no aspecto militante de Nossa Senhora enquanto esmaga a cabeça da serpente, mas no seu aspecto materno, enquanto Ela procura tirar – pelo sorriso – das garras de Revolução, aqueles que a Revolução vai vitimando. E, dessa maneira, fazendo uma altíssima obra de Contra-Revolução.

 

 

É ou não é verdade que o espírito que se deixa impressionar por essa imagem, que se deixa influenciar por essa imagem, fica sumamente propício à admiração? Fica sumamente propício a admirar a hierarquia das coisas mais altas sobre ele, sumamente propício – pela sua própria dignidade – a querer que todas as coisas abaixo dele estejam em hierarquia também?

Debaixo desse ponto de vista, sem querer dizer que esta imagem seja a de Nossa Senhora da Contra-Revolução – porque seria forçar a nota –, poderíamos dizer entretanto que, para aqueles que lutam pela Contra-Revolução, o quadro é de altíssima expressão quanto a um dos aspectos de Nossa Senhora: sua permanente Contra-Revolução, até chegar o fim do mundo.

Isso seria um pouco de comentários na linha dos “Ambientes e Costumes”, feitos a partir da Imagem. Com que vantagem para nossas almas? Não sei. Pelo menos, talvez essa:  explicar um pouco aos mais jovens como analisar uma imagem, o que procurar quando se vê uma imagem, qual é o bom efeito que ela pode produzir em nós, e o estado de alma que uma imagem – simplesmente por existir – pode comunicar às nossas almas.

 

A poucas quadras da famosa Piazza di Spagna e ao lado da sede da Congregação para a Evangelização dos Povos, encontra-se a igreja Sant'Andrea delle Frate. Neste santuário deu-se um fato extraordinário: Nossa Senhora apareceu a um rico e famoso judeu, Afonso Ratisbonne, o qual portava uma Medalha Milagrosa não por devoção, convertendo-o a Cristo.
No altar em que a Virgem Santissima (la Madonna) lhe apareceu, havia um quadro de São Miguel Arcanjo golpeando o demônio, que pode ser apreciado ainda hoje, mas em outro local da igreja.
Foi neste mesmo altar da Aparição que São Maximiliano Kolbe, falecido no tristemente famoso campo de concentração nazista de Auschwitz, celebrou sua primeira Missa no dia 29-4-1919.

Ao lado do altar da Aparição, encontra-se busto de Afonso Ratisbonne, então já sacerdote


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