Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 3 de setembro de 1969

Aspectos sui generis de uma campanha gloriosa

Chegou virtualmente a seu termo a campanha de difusão do número de abril-maio do prestigioso mensário de cultura "Catolicismo", levada a cabo pela TFP em todo o território nacional.

Já tratamos aqui do conteúdo dessa edição de "Catolicismo". O boletim católico de Londres "Approaches" publicara uma larga exposição sobre as atividades do IDO-C, superpotência publicitária de envergadura internacional, empenhada em difundir veladamente o ateísmo na Igreja. O órgão oficial da Ação Católica espanhola "Ecclesia", por sua vez, dera a lume um estudo profundo sobre o chamado "movimento profético", constituído por uma imensa rede de células de infiltração, votadas à disseminação, nos meio católicos — por via oral, de cochicho em cochicho — da mesma doutrina atéia a cuja propaganda, por via escrita, o IDO-C se entrega. "Catolicismo" traduziu então ambos os textos, o londrino e o madrilenho, comentou-os e os ilustrou com valioso documentário fotográfico a fim de alertar nosso público para este tremendo perigo.

A campanha de difusão do número de "Catolicismo" especialmente consagrado a esta matéria esteve a cargo dos jovens da TFP — universitários, estudantes secundários, comerciários e operários — os quais começaram por vender a folha em Brasília, e em capitais de Estado, como o Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Curitiba, Florianópolis etc.

Apesar de ser vendido a dois cruzeiros novos o exemplar, e ser denso o conteúdo doutrinário do jornal muito diverso da matéria em geral publicada pelas revistas de larga tiragem, a acolhida do público excedeu às expectativas mais otimistas. E isto, principalmente, nas camadas mais modestas da população. Escoaram-se, assim, rapidamente, quatro tiragens sucessivas do jornal, num total de 55 mil exemplares. Tal êxito levou a direção de "Catolicismo" a preparar uma quinta tiragem do número duplo, esta então de apresentação popular, que por suas características pode ser vendida a 50 centavos o exemplar. Para a venda dessa tiragem, a TFP organizou uma imensa campanha de difusão pelo interior do País. Em conseqüência, dezenove caravanas de nossos jovens percorreram, em 40 dias, 480 cidades localizadas no Sul, Centro e Nordeste do País.

Oportunamente, publicarei pormenores sobre a acolhida triunfal dada pelo nosso Interior a essas caravanas. De momento, basta-me mencionar o total de exemplares vendidos: foram 163 mil. E aí aparece um dos aspectos absolutamente peculiares de nossa recente campanha: creio que, em toda a História de nosso País, jamais um órgão, marcadamente consagrado à alta divulgação doutrinária teve tal saída.

Eis assim o que há de mais imediato a noticiar sobre o grande empreendimento da TFP contra a infiltração atéia na Igreja. Superou ele incontestavelmente os já relevantes feitos anteriores.

* * *

Isto posto, desejo tratar aqui de dois contratempos que tivemos. Por esta forma terá o leitor o conhecimento de outras peculiaridades de nossa campanha.

Já escrevi, nestas colunas, sobre a oposição apaixonada do sr. secretário da Segurança Pública de Minas à realização pacífica e legal de nossas atividades em praça pública. Pensava eu que ele fosse o único, pois, com exceção de Minas, vendemos os jornais em todo o território nacional, recebendo, da parte das autoridades, as garantias necessárias para o exercício das liberdades que a Constituição nos assegura. Exceção feita do caso de Minas, oposição violenta, só a tivemos fora da esfera do Poder Civil. Procedeu ela, quase sempre, de curas progressistas, a capitanear magotes de arruaceiros fanatizados. Diga-se de passagem que, também do ponto de vista das investidas que sofreu, nossa campanha se revelou única nas crônicas nacionais, pois não conheço outro caso de uma propaganda contra o ateísmo, cerceada pela Polícia, como em Minas, e — um pouco por toda a parte — combatida aos brados por sacerdotes no paroxismo da cólera.

Minha ilusão de que só em Minas o Poder Público nos coarctara a ação, se desfez à última hora, pois há poucos dias, na Bahia, na querida, gloriosa e tradicional cidade do Salvador, o secretário da Segurança Pública — não me enviaram de lá o seu nome — nos opôs os mesmos óbices que seu fogoso colega mineiro. E isto apesar da magnífica acolhida popular que vínhamos obtendo na linda capital dos vice-reis.

À guisa de argumento, aquela autoridade só declarou o seguinte: a TFP representa, no panorama brasileiro o extremo oposto do comunismo; logo a TFP é tão autenticamente extremista como este; b) em conseqüência, não deve ter inteira liberdade de ação, pois que não a têm os comunistas. Assim, em Salvador, como em Minas, fomos proibidos de usar estandartes e capas, bem como de atuar em praça pública. Só o que se nos "concedeu" foi irmos de porta em porta vender os jornais, com evidente diminuição de nossa capacidade de ação.

Eu gostaria, a este propósito, que aquela autoridade baiana me respondesse à seguinte argumentação:

1 — Todo erro doutrinário é a negação total ou a deformação — para mais ou para menos — de uma verdade;

2 — Assim, em presença de um erro, há duas atitudes possíveis. Exemplifico com o ateísmo. Em face de um ateu, ou se sustenta a verdade inteiramente oposta ao erro dele, e se afirma que Deus existe; ou então se afirma um erro inteiramente oposto ao do ateu, e se diz que existem — não um Deus — mas muitos deuses;

3 — Isto posto, pergunto qual é a posição extremista simétrica com o ateísmo:

A) é a afirmação de que há um só Deus onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis? Neste caso, todo católico é extremista. E então deveria ser proibido em Minas e na Bahia ser católico. O que, evidentemente, é absurdo;

B) ou a posição extremista simétrica ao ateísmo consiste em afirmar que há muitos deuses? Se este é o extremismo antiateu, então, pergunta-se o que é um extremismo. Obviamente é a afirmação de um erro oposto a outro erro. Assim, a TFP só será o extremismo simétrico com o comunismo, se sustentar erros opostos aos deste.

4 — Pois bem: pergunto então ao sr. secretário da Segurança da Bahia que erro encontra no número duplo de "Catolicismo", ou em qualquer dos numerosos livros difundidos pela TFP? Se julga ter encontrado tal erro, peço-lhe que o mencione de público. Se não o encontrou, a que título nos tacha de extremistas e nos coarcta a liberdade?

Previno a S. Exa. que, até o momento, nem d. Helder, nem os curas progressistas pretenderam ter encontrado tal erro. Como será interessante ver um secretário da Segurança Pública dar um quinau, em matéria de doutrina religiosa ou social cristã, em todo o clero brasileiro, mostrando a este, de pinça na mão, um erro doutrinário que não souberam descobrir nem os bispos e sacerdotes que nos aplaudem, nem os que de nós discordam!

Será de todos, o episódio mais surpreendente de nossa campanha, essa descoberta teológica feita por uma autoridade civil... em um país em que o Estado é separado da Igreja!

Aqui ficam estas ponderações, como um convite — cheio de expectativa — feito a S. Exa., para que se manifeste.


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