Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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9 de junho de 1974

"A Ostpolitik do Vaticano favorece Moscou"

A tomada de atitude da TFP face à política de aproximação do Vaticano com os governos dos países comunistas vai despertando manifestações de solidariedade muito mais numerosas do que eu imaginara. E isto é inteiramente explicável, sendo nosso povo ao mesmo tempo profundamente católico e radicalmente anticomunista.

Entretanto, ao lado do inteiramente explicável existe o paradoxal. E este consiste em que, sendo tantos os que nos aplaudem, sejam tão poucos os que levantam a voz, de público, para fazer coro conosco. Não entro na análise das causas desse paradoxo. Ele existe, e é preciso tomá-lo em linha de conta.

O resultado da reação normal, como da paradoxal, tem sido sentir-me eu obrigado a voltar sempre ao assunto. De um lado, porque a isto me convida o eco que encontro, de outro, e principalmente porque sou quase só eu a falar. E assim eis-me de novo nesta Resistência que, com tanta dor de coração, devo levar avante.

* * *

Hoje ofereço ao leitor um depoimento de primeira importância sobre o tema. Transcrevo tópicos de artigo sobre a Ostpolitik do Vaticano, da autoria de um insigne católico alemão. Trata-se do Dr. Bernhard Vogel, presidente do Comitê Central dos Católicos da Alemanha e Ministro da Cultura do Estado da Renania-Palatinado (Beliner Morgenpost, 28-4-74). O artigo tem por título "A Ostpolitik do Vaticano favorece Moscou".

Passo a palavra ao Dr. Vogel.

"O fato não pode ser mais ignorado: a Ostpolitik do Vaticano entrou no fogo cruzado da crítica. Cada vez mais claro se torna aos olhos do conhecedor do assunto, que ela não traz a melhora da situação da Igreja nos Estados comunistas, mas reforça a posição de Moscou no jogo pela Europa.

"Muito elucidativo, nesse contexto, é o comunicado geral sobre a visita de Casaroli à Polônia. Neste se afirma que a delegação da Santa Sé expressou ao governo polonês sua alta consideração pela "contribuição construtiva para a normalização das relações na Europa e a paz no mundo". Isto é mais do que um lugar comum da linguagem diplomática. É preciso ter presente que esse aplauso foi dado a um governo cujos representantes na Conferência de Segurança e Colaboração, em Helsinki, criticaram severamente, a mando do bloco comunista, a exigência dos países ocidentais para liberdade de expressão, informação humana.

"Se esse documento ainda diz que ambos os lados afirmam "seu vivo interesse na questão da consolidação do processo de distensão do mundo" e exprimem o desejo "de que esse processo assuma um caráter realmente universal", isto significa tomar para si uma linguagem com a qual se expressam o conteúdo e metas específicas da política comunista.

"Tal fato se torna ainda mais claro na parte do comunicado em que o lado polonês qualifica de inestimáveis os esforços da Santa Sé, "os quais são impregnados de boa vontade para estimular a coexistência pacífica das nações e a justiça nas relações internacionais". Em vão se procuraria em todo o documento a citação de princípios tão fundamentais como os da liberdade e dos direitos humanos.

"Em vista de tais manifestações como do acontecido no "caso" Mindszenty, da nomeação de bispos na Checoslováquia e dos boatos surgidos sobre as negociações para a instalação de uma nunciatura em Berlim oriental, surge o receio de que o Vaticano ainda espera certas distensões para a Igreja nos países orientais, aceitando em troca as concepções soviéticas de normalização das relações na Europa e não acentuando suficientemente posições morais e religiosas às quais não se pode renunciar.

"Bem entendido, não se trata aqui, para nós, de condenar negociações e tratados como tais. Mas é preciso que (...) evitem toda aparência de que a Igreja se acomode com um sistema, o qual, antes como depois, só conhece falta de liberdade, exploração e opressão, e que vê o combate à religião como uma tarefa primordial".

Nota: Os negritos são deste site.