Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

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16 de dezembro de 1973 

"Magnificat" pela Venezuela

A imprensa cotidiana de São Paulo noticiou que o presidente Caldera, da Venezuela, em entrevista de imprensa, radio e TV, se empenhou em refutar uma carta aberta que lhe fora endereçada pela TFP venezuelana. O fato merece um comentário de esclarecimento.

O comentário: o alto grau de eficiência e prestígio alcançado por uma Sociedade ainda nova como a TFP venezuelana, a ponto de mover o chefe de Estado a lhe responder com tanto alarde publicitário.

O esclarecimento consiste na narração de uma série de fatos do maior interesse, que mal cabem nos exíguos limites deste artigo.

Em síntese, a TFP venezuelana alcançou sobre a democracia-cristã de seu país uma vitória análoga à sua coirmã chilena sobre Frei (e por via de conseqüência, sobre Allende). Com a vantagem, para a Venezuela, de que a ofensiva anti DC pode evitar a catástrofe da qual o Chile só agora se vai, aos poucos, reerguendo.

O presidente venezuelano pertence à DC. Assim, preparava ele, para as próximas eleições, a ascensão de um candidato do mesmo partido, o sr. L. Fernandez. E esse candidato – como genuíno democrata-cristão – se apresentava ao eleitorado afetando discretas simpatias para com os socialistas e comunistas, e de outra parte prestigiado, também discretamente, por elementos do Episcopado.

Por essa forma, Fernandez esperava assentar sua vitória sobre uma coligação católico-comuno-socialista.

Com muita vantagem para o jogo, um bispo venezuelano, Mons. Maradey, publicou um comunicado em que afirmava poderem os católicos votar em candidatos socialistas, desde que a doutrina destes nada contivesse de oposto à doutrina católica. A 10 de março, a TFP venezuelana publicou uma interpelação a Mons. Maradey para que explicasse no que consiste precisamente a linha demarcatória entre um socialismo católico e outro anticatólico. A incômoda pergunta ficou sem resposta.

Entretanto, acobertando a atitude de Mons. Maradey, a assembléia plenária dos bispos venezuelanos divulgou, a 15 de julho, um documento em que assumia a mesma posição ambígua já tomada pelo citado bispo. Daí se seguiu análoga interpelação da TFP àquele alto organismo eclesiástico.

Resposta nenhuma.

Sobreveio em seguida uma declaração do presidente Rafael Caldera a favor de um reatamento de relações diplomáticas entre Venezuela e Cuba. Esse documento, além de censurável em si mesmo, criava um clima pró-esquerda propício ao candidato governamental.

A TFP divulgou então uma carta aberta ao chefe de Estado, respondida como acima dissemos.

Mas a fermentação comuno-"cristã" não cessava. Diante de notícias sempre mais insistentes de que os comunistas iam votar maciçamente em favor do demo-cristão Fernandez, a TFP publicou, a 6 de dezembro, uma mensagem a este, aconselhando-o que desmentisse tais versões, sob pena de seu silêncio eqüivaler a uma confissão ruinosa para a sua candidatura.

Essas sucessivas tomadas de atitude, a TFP as divulgou, ora em sua vibrante revista Covadonga, ora, também, nos maiores diários de Caracas, com a assinatura do valoroso presidente da entidade, Sr. Pedro Morazzani.

A TFP desenvolveu assim uma campanha em regra, elevadamente ideológica, sem qualquer compensação de natureza política ou partidária. O telefone da sede da TFP não cessou de tilintar transmitindo adesões e invectivas bem demonstrativas do alto grau de interesse que a campanha produzira. Verificou-se a eleição, e o candidato da DC saiu derrotado por uma margem de mais de 400 mil votos.

Não cabe dúvida de que considerável parte dessa diferença se deveu à ação lúcida, atilada e corajosa de nossa brilhante coirmã venezuelana. Recuou desse modo na Venezuela a DC e atrás dela o PC.

Ontem cantávamos o "Magnificat" pelo Chile. Chegou, com isto, a vez de cantarmos o "Magnificat" pela Venezuela.