Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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18 de fevereiro de 1980

O Fracasso da "Détente" e a Política Vaticana

Prometi em meu último artigo publicar as doze imposturas com as quais, segundo artigo de Revel em "L’Express" de 26 de janeiro, a Rússia conseguiu induzir à "détente" o mundo ocidental. Só que, sempre conforme minha promessa, as enuncio adaptadas às temáticas da "Ostpolitik" vaticana.

A cada impostura soviética se seguirá um travessão. E depois deste se encontrará meu comentário.

1. Os governos comunistas já não estão levando ao último limite a perseguição religiosa. Um pouco por toda parte, e muito notadamente na Polônia, se toleram abertas algumas igrejas, se consente em que a hierarquia eclesiástica desempenhe fragmentos mínimos de seu ministério, tolera-se a formação de seminaristas etc. Tais governos são "respeitosos" desse statu quo. Em conseqüência, os católicos devem compreendê-los quando, sem suprimir essas liberdades religiosas residuais, eles perseguem a Igreja em todos os campos. Pois tudo isto está no âmbito da perseguição religiosa não total que haviam pré-fixado. – Teoria falsa, da qual não se poderia esperar que os comunistas respeitassem os limites só por benevolência. Esses fiapos de concessões feitas no Oriente à Igreja desmobilizaram a campanha anticomunista movida pelos católicos no mundo inteiro. E foi um fator inestimável da infiltração comunista em todo o Ocidente.

2. A ofensiva atéia movida pelos governos comunistas não conseguiu a total extirpação do nome de Deus na alma do povo. Tais governos encetaram pois uma política de concessões para com a religião. Para os manter nessa política, é necessário aos católicos cessar a polêmica anticomunista no Ocidente. – Este erro funesto vem favorecendo a expansão do materialismo histórico nos povos livres, sem que a freie a reação da maior potência espiritual do mundo.

3. A falência moral e ideológica do comunismo acabará por desviar dele todos os povos. Há dez anos Brzezinski assinava no "New Leader" um artigo intitulado "O comunismo morreu". – Por sua vez, também, muitos católicos supuseram, senão morto, pelo menos moribundo o chacal comunista. Para se candidatarem a ficar com pedaços dele quando morresse, puseram-se a lhe coçar o queixo. Hoje estão com os dedos presos entre os dentes dele.

4. O comunismo nacionalista vai-se instalar por toda parte e limitar a influência soviética no mundo. O titoísmo vai-se generalizar. Em 1975, depois da queda de Saigon, o "New York Times" profetizou que o comunismo vietnamita se tornaria rapidamente anti-soviético". "Sem comentários", diz Revel. – A "Ostpolitik" vaticana acreditou nas virtudes terapêuticas do eurocomunismo. E ei-lo morto. Sem comentários, digo eu também.

5. A teoria da convergência dos sistemas econômicos do Oriente e do Ocidente. O mundo contemporâneo tende todo ele para a unidade política e econômica. – Reflexo desta tendência, e condição indispensável para a obtenção desta unidade, é a "queda das barreiras ideológicas" entre comunistas e católicos. Assim, o processo de unificação se instaurou... do lado dos católicos, que deixaram cair incontáveis barreiras. Enquanto do lado do comunismo, apesar dos fogos de artifício da "détente", elas continuaram de pé.

6. É preciso que os contatos Leste-Oeste se multipliquem o mais amplamente possível. Segundo o pensamento expresso por Lloyd George em 1922, "a influência moderadora do comércio (e, esperavam muitos, também a dos contatos ideológicos) conduzirá mais seguramente do que qualquer outro método ao fim da ferocidade, do banditismo e da brutalidade do bolchevismo". – Os católicos, por sua vez, acreditaram nos efeitos milagrosos desse bálsamo soberano. Mas aí estão as perseguições religiosas na Tchecoslováquia, denunciadas há dias em comunicado oficial da Cúria Generalícia da Companhia de Jesus.

7. O conflito entre a China e a Rússia se substituirá ao conflito entre as sociedades democráticas e o totalitarismo soviético. Os dois gigantes comunistas se entredestruirão. – Nós católicos quisemos imaginar que poderíamos cruzar os braços. Mero pretexto para as inércias da covardia e da preguiça.

8. O eurocomunismo marca o fim da Igreja comunista mundial, e constitui um desafio à Rússia. – Comentário idêntico. Hoje o eurocomunismo é uma velheira política que ninguém mais toma a sério.

9. Os muçulmanos soviéticos constituem uma força explosiva no sistema comunista. Moscou será forçada a entrar em composição com os países islâmicos do Oriente próximo. – Assim os católicos podem esperar do fervor dos maometanos que o Kremlin seja obrigado a conceder a estes liberdades religiosas mais amplas, as quais eventualmente se estendam aos católicos, sem que estes tenham que arcar com os esforços e as lutas anticomunistas. Mesmo comentário.

Os pontos 10, 11 e 12 do artigo de Revel são tão estritamente políticos que não comportam transposição fácil para o campo religioso. Não creio, aliás, que a enumeração de Revel tenha sido senão exemplificativa. A transposição dela aos temas católicos só inclui, em todo caso, uma pequena parte das patotas do gênero. Estas são incontáveis. E os progressistas as difundem torrencialmente por todos os países, com um zelo só comparável ao que a TFP põe em desmascará-las.

No campo católico, como fazer cessar essa catástrofe que, a prosseguir sem freios, mataria a Igreja se Ela fosse mortal? Bastam as palavras saídas dos lábios de um só homem. Do sucessor daquele a quem foi dito: "Tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt. 16, 18).

Dele depende, em última análise, que tudo resista no orbe católico, ou que tudo desmorone. À escolha.

Oh! quanto pedimos a Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças, que, continuando na longa e árdua senda em que ele deu alguns primeiros passos, chegue ao momento ápice em que diga a palavra certa para abater a muralhas do Erro, do Mal e do Hediondo, e levantar as da Verdade, do Bem e do Sublime.

Nota: Os negritos são deste site.


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