Pela União dos Católicos

“O Legionário”, N.º 161, 23 de dezembro de 1934

 

A carta escrita por S. Ex.a Rev.ma D. Duarte Leopoldo e Silva ao Pe. Cursino de Moura, Diretor da Federação das Congregações Marianas, é um documento admirável e perfeitamente expressivo do acendrado espírito cristão do nosso amantíssimo Arcebispo. Ela precisa ser lida com atenção e muito meditada por todos os Congregados Marianos, a quem S. Ex.a se dirigiu com o particular afeto que visivelmente lhes dedica. É uma página belíssima e cheia de ensinamentos preciosos para o momento que atravessamos, a braços com tantos problemas de cuja boa solução depende o futuro da ação católica entre nós.

Numa palavra traçou o Arcebispo de São Paulo todo o programa capaz de elevar e dignificar a vida de um homem: estar sempre com Jesus Cristo, tendo a sua cruz por “guia único”, a sua doutrina por “doutrina única”, a sua Igreja infalível e eterna por “mestra única” e Ele próprio, Deus e Senhor Nosso, representado na Terra pelo Papa, por “chefe único”.

Com estas palavras, apela S. Ex.a para a união de toda a mocidade mariana, coesa e disciplinada, sob a direção segura da Igreja.

Para cumprir tão respeitáveis ordens, é preciso agora que cada um saiba colocar os seus ideais religiosos acima de todos os outros interesses e todas as preocupações. Certamente, se o católico é um homem que vive no mundo como os outros, ele não pode deixar de se voltar para os problemas temporais que o cercam, especialmente para aqueles que mais de perto dizem respeito ao bem comum da sociedade. O seu desinteresse pelas mais sérias questões temporais poderia mesmo acarretar graves prejuízos para a vida religiosa. Mas é preciso subordinar as atividades de ordem temporal à ordem espiritual e religiosa representada pela Igreja.

Nesse sentido, igualmente deve ser entendida a entrevista dada à “União” do Rio, por Tristão de Athayde, sobre a atitude dos católicos em face do integralismo. O extraordinário pensador católico brasileiro não podia deixar de mencionar como primeira condição para a participação dos católicos, num movimento de natureza política “a preeminência de sua consciência católica sobre sua consciência política”. Uma vez bem compreendido esse princípio, com toda a extensão que ele importa, ninguém poderá fugir aos compromissos supremos com a sua consciência ditados pela religião. Além disso, acrescentou Tristão de Athayde que todos aqueles que têm responsabilidade de direção na ação católica devem conservar-se alheios àquelas participações. De fato, a sua abstenção dos movimentos políticos partidários impõe-se em virtude da própria norma ditada pelo Santo Padre para a ação católica e a fim de a tornar realmente efetiva e praticada: “fora e acima dos partidos”.

A entrevista de Tristão de Athayde nos faz lembrar um artigo escrito há alguns meses pelo conhecido escritor católico francês Etienne Gilson, num semanário de sua terra. Afirmações semelhantes aí faz Gilson dizendo que quando se pede aos católicos, como tal, a colaboração em movimentos tendentes a defender a família, a ordem ou a moralidade, é preciso lembrar que todos esses objetivos são abrangidos pela finalidade da Igreja e que aos católicos deve ser reservada a escolha dos meios mais aptos para aquela colaboração, pois a Igreja não tem só um fim, mas também certos meios que lhe são próprios: a verdade de que é depositária, a graça, os sacramentos.

Enfim, quando os católicos se dispõem a participar de qualquer movimento político, é preciso que eles assegurem antes de tudo a salvaguarda dos princípios de sua consciência católica. Para isso, faz-se mister o conhecimento profundo de tais princípios por cada um e a união de todos em torno deles, acima de quaisquer divisões partidárias, para que os interesses políticos não venham a perturbar os interesses religiosos. Esse será o melhor meio de atender ao admirável apelo dirigido pelo Ex.mo Sr. Arcebispo, em que devemos ver não só um programa orientador mas uma ordem para ser executada com docilidade e obediência.