Legionário, N.º 226, 10 de janeiro de 1937

Sete dias em Revista

O Sr. Presidente da República, em sua mensagem de Ano Bom, deu como definitivamente assegurada no Brasil, a tranqüilidade social. Desejaríamos ser da opinião de Sua Ex.a. Infelizmente, porém, não podemos concordar com sua afirmação. Realmente, não é crível que o Governo solicite a prorrogação do estado de guerra sem que um sério motivo exista para isto. Não é crível, também, que o Governo esteja sendo forçado a expulsar diariamente do País estrangeiros que atentam contra a ordem social e que, a despeito disto, não exista propaganda comunista.

Não sabemos se será boa política esta de negar o perigo. Não será preferível apontar o inimigo, para que não adormeçam na inércia as forças anticomunistas? Parece que sim.

O Sr. Getúlio Vargas, no entanto, é doutor em política. Terá seus motivos para agir assim. Quais serão? Diga-o o leitor arguto.

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Um confusíssimo telegrama da Agência Havas noticia que os Prelados alemães resolveram hipotecar seu apoio ao Hitlerismo.

À primeira vista, causa surpresa a notícia. A Santa Sé tem condenado repetidas vezes o nazismo, e tem denunciado a política pagã do Füehrer alemão. À vista disto, como poderiam os bispos alemães afirmar sua solidariedade ao hitlerismo? Não representaria isto uma ruptura com Roma?

Não. O que se deu foi o seguinte: os bispos alemães hipotecaram sua solidariedade à campanha anticomunista do Governo. Afirmaram que cabe à Alemanha ser um baluarte da luta anti-bolchevista. Mas afirmaram também, e energicamente, que estão no mais cabal desacordo com a política paganizante do Füehrer.

Significa isto que os bispos alemães agiram com uma louvável imparcialidade, elogiaram o que Hitler faz de bom, e criticaram o que faz de mal.

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O Sr. Dr. Cardoso de Mello Neto, no discurso que proferiu na sua posse no Governo do Estado, afirmou que onde quer que o destino nos haja colocado, unidos na mesma Fé, pondo a nossa confiança em Deus, trabalhemos pelo Brasil. Louvável a confiança em Deus. Louvável também, a preocupação de externar sua Fé em circunstância tão solene. Louvável, ainda, o desejo de trabalhar pelo Brasil, com um forte sentimento da unidade nacional.

Mas o que faz nisto a palavra “destino”?

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O brilhante jornal católico Italiano “L'Avenire d'Itália” publicou um longo artigo sobre a 8ª Conferência Pan-Americana de Buenos Aires. Neste artigo de grande responsabilidade, o jornal católico mostra que a Conferência falhou porque não passou de um encontro disfarçadamente hostil de nações disputadas pelo imperialismo inglês e pelo dos Estados Unidos. Em lugar de tratar de questões interessando a esses imperialismos, a Conferência deveria tratar da repressão ao comunismo.

Este artigo só nos chegou ao conhecimento por um telegrama da Havas, de 25 p.p. Antes disto, porém, vínhamos sustentando insistentemente a mesma tese.

Folgamos em acentuar esta identidade de pontos de vista.

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O Sr. Campos Vergal opôs restrições formais ao projeto que autoriza a abertura de um largo crédito para auxiliar a construção das catedrais em São Paulo e no Interior.

Doravante, não comentaremos as atitudes do Sr. Vergal a respeito de Estado e Igreja. Nem sequer oferecem o interesse de uma argumentação bem feita. Tudo quanto S. Ex.a diz tem sido já muito antes refutado e arqui-refutado.

Julgamos, pois, perfeitamente dispensável qualquer comentário.

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Parece que não é só o Carnaval que se quer “oficializar”. Também se quer “oficializar” e “carnavalizar” as principais datas do ano. Por isto, armou-se na Praça do Patriarca um grande tablado, para que nossa população passasse o Ano Bom dançando.

Se a dança fosse só dança, e dança às direitas, ainda não seria tanto. É lícito dançar. Embora não seja recomendável dançar na passagem do ano, quando se deve estar rezando.

Em todo o caso, não é isto o pior. Sabemos como costumam ser, em regra geral, as danças dos bailes públicos. E sabemos que, muitas vezes, elas têm suas “suites”.

Como aprovar a oficialização dessas “suites”?

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É curioso notar-se uma tendência para reformar o calendário, de sorte a não contar mais os anos a partir do nascimento de Jesus Cristo, mas de substituí-lo por outros acontecimentos.

Na Itália, o ano acaba atualmente não mais a 31 de dezembro, mas a 28 de outubro, que é o aniversário da marcha fascista sobre Roma.

Quem, no entanto, ousaria afirmar, por mais admirador que seja de Mussolini e do fascismo, que o Nascimento de Cristo foi menos importante para a História do que a marcha sobre Roma?

Não há nisto evidente absurdo?

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Registramos com prazer as palavras calorosamente disciplinadoras com que o Sr. Ministro da Guerra saudou a oficialidade da 1ª Região, por ocasião da passagem do ano.

Palavras como esta fazem-nos esperar que a orientação do General João Gomes não sofrerá solução de continuidade. (...)