Legionário, N.o 250, 27 de junho de 1937

7 DIAS EM REVISTA

Transcrevemos na íntegra a pequena notícia abaixo, publicada pelo “Estado de São Paulo”:

“Pelo paquete ‘Duque de Caxias’ regressaram hoje ao Norte numerosos ex-presos políticos recentemente libertados.

Ao cais do porto foram conduzidos em carros de Polícia e ao desembarcarem ali alguns deles prorromperam em vivas a Luís Carlos Prestes e ao Terceiro Regimento de Infantaria e entoaram a Internacional”.

São essas as ovelhas que o Sr. Ministro da Justiça soltou. Não são comunistas. Mas apenas se pilham em liberdade, começam a dar vivas a Luiz Carlos Prestes e à III Internacional.

Quando esses chacais atirarem a um canto a pele de ovelha com que o Sr. Ministro da Justiça amorosamente os envolveu, para ocultá-los à vindita pública e arrancá-los à prisão, eles irão procurar carne humana com que saciar sua fome bolchevista, boa carne branca e macia, de algum burguês rico e bem tratado. E pode bem ser que escolham o próprio Sr. Macedo Soares...

Ao menos, foi o que sucedeu com Filipe Égalité. Protegeu os republicanos, defendeu-os, acobertou-os com seu prestígio de Príncipe. E depois...

Longe de nós desejarmos que aconteça tal coisa. Mas é no que faz pensar a política desenvolvida pelo Sr. Macedo Soares na pasta da Justiça.

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Está causando imensa celeuma o fato de alguns integralistas terem seqüestrado um acadêmico de Direito, dando-lhe algo a beber, e cobrindo-o de pancadas.

Os nossos partidos liberais – P.R.P. e P.C. - ficaram em grande alvoroço. Como é que se prende um homem, se lhe dá um violento remédio, e se lhe ministram inúmeros golpes? É preciso protestar! A dignidade da República exige que o atentado seja punido! É preciso que sejam objeto da mais categórica censura os autores do fato, e que se lhe apliquem as penas da lei! Senão, está morto o regime!

Mas os comunistas de 1935 não se limitaram a espancar um homem: mataram numerosos deles e se preparavam a fazer correr rios de sangue brasileiro.

Onde o protesto de nossos liberais na Câmara Estadual contra a soltura de tais criminosos? Porventura, não exigirá a dignidade do regime que os comunistas sejam presos e justiçados vigorosamente?

Nossos liberais preferem afogar-se em um copo de água. Enquanto isso, o oceano comunista se apresta a devorá-los.

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Não queremos, porém, deixar passar a oportunidade sem nos manifestarmos também contra a violência que o Sr. Paulo Zing sofreu ou alega ter sofrido.

Temos o direito de fazê-lo, porque se erguemos nossa voz contra este fato, já estamos cansados de vociferar contra o comunismo. Não estamos pois, com os liberais, cuja companhia reputamos péssima, e cuja vizinhança só nos agradaria eventualmente, para evitar mal maior.

A violência sofrida pelo Sr. Paulo Zing é indefensável. E isto principalmente porque a razão da violência foi o ter ele cometido o “crime” – de que gostosamente o absolvemos – de sair das fileiras integralistas. Julgarão os integralistas responsáveis pelo espancamento do Sr. Zing, que é delito afastar-se um homem de certa corrente partidária com cujo programa já não está de acordo. Então, por que não foram ao Rio dispensar ao Sr. Jeovah Motta o mesmo tratamento que dispensaram ao Sr. Zing? Por que trataram os órgãos integralistas o Sr. Jeovah Motta com luvas de pelica, e um grupo de partidários do “sigma” encheu o Sr. Zing de pancadas?

Mas cumpre acrescentar que o caso não está ainda devidamente esclarecido. E que só depois disto se deve lançar contra ele uma condenação formal... se for merecida.

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A “Ofensiva” publicou um artigo assinado, em que notamos a descrição de um cortejo integralista, feita nos seguintes termos: “Lá vão marchando, irmanados no mesmo sentimento, homens de todas as posições, de todas as camadas sociais, de todos os credos religiosos. Belisário Penna, uma glória nacional. General Furtado, o general Vieira da Rosa, Lucio dos Santos, a grande cultura católica do País, cuja sinceridade todos admiram, ao lado de espíritas e protestantes do Supremo Conselho e da Câmara dos Quarenta, numa afirmação conjunta do espiritualismo integral”.

Estamos de acordo com o conceito elogioso que a “Ofensiva” faz do Sr. Lucio dos Santos.

Mas quereríamos saber o seguinte: o “espiritualismo integral” é um todo de que fazem parte as religiões falsas, metidas de cambulhada com a Religião Verdadeira? É assim que se deve entender o “espiritualismo” de que tanto falam certos documentos integralistas?

E mais outra coisa: será, porventura, esse amálgama em que se encontram, ao lado de um católico de magnífica têmpera de Lucio dos Santos, espíritas, protestantes e outros “espiritualistas” de outros credos talvez, será este amálgama, perguntamos, a droga que se pretende fazer ingerir ao Brasil, para “recristianizá-lo”?

Em filosofia afirma-se que o efeito não pode ter natureza diversa da causa.

Como, de águas tão impuras, pretende muita gente que poderá sair um Brasil inteiramente católico? Como, do ecletismo o mais chocante, resultará a unidade?

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O Sr. Campos Vergal fez, na Câmara dos Deputados, diversos discursos que merecem censura.

“Merecem censura”, dissemos. Não merecem, porém, nosso comentário.

Deixamo-los, portanto, sem uma palavra de análise.