Legionário, No 278, 9 de janeiro de 1938 

Sete dias em Revista

Por ocasião das festas de Ano Bom, é hábito que os Chefes de Estado troquem entre si telegramas de cortesia e votos de felicidade. Evidentemente, no terreno diplomático, empresta-se a tais votos um significado muito superficial, mais ou menos como se faz, no trato entre particulares, com certas formas de polidez, como por exemplo o “prazer em conhecê-lo”, “prazer em vê-lo”, “um criado às ordens”, e outras do mesmo jaez.

Assim como o “prazer em conhecê-lo” é de rigor entre pessoas que são apresentadas, assim também os telegramas de ano bom são de rigor entre Chefes de Estado, ainda que muito tensas as relações entre eles. E os repórteres se comprazem em acentuar maliciosamente o contraste entre as amabilidades protocolares do ano bom, e as intenções verdadeiramente hostis que animam não  raramente os Chefes de Estado gratulantes.

No fundo, evidentemente, há em tudo isto boa dose de palhaçada, pois que ninguém toma a sério tais votos. Quem poderia crer, por exemplo, na sinceridade dos votos que o Sr. Hitler dirigiu a S. S. o Papa Pio XI? Há dias, o Santo Padre denunciou-o como insigne fautor de heresia, e a afirmação de S. S. é certamente verdadeira. Que intenções cordiais poderá ter um fautor de heresia em relação ao Chefe da Igreja?

Ciente de tudo isto, o Santo Padre mandou, no entanto, a Hitler um telegrama paternal e sobriamente cordial, um telegrama de paz, amoroso com quanto ofendido, que deseja a felicidade do filho pródigo conquanto tenha dele a mais grave razão de queixa. Que um fautor de heresia tenha de ser necessariamente um inimigo da Santa Sé, ninguém o contesta. Mas nem por isto a Santa Sé será inimiga do fautor de heresia. Porque a Mãe, mesmo quando castiga, quando condena, quando censura, não deixa de ser Mãe.

Em outro local, comenta-nos a fundação duma igreja católica brasileira da qual, parodiando Voltaire, poderíamos dizer que não é nem católica, nem brasileira, e nem mesmo igreja.

Do jornal “Ação”, transcrevemos a seguinte carta fornecida ao Sr. Salomão Ferraz pelo Ex.mo Sr. Ministro das Relações Exteriores:

“Gabinete do Ministro das Relações Exteriores - Rio, em 21 de Setembro de 1937. - Ex.mo Sr. Pedro de Morais Barros, - Ministro do Brasil em Haia.

“Tenho o prazer de apresentar e recomendar a Vossa Excelência D. Salomão Ferraz, eleito bispo da Igreja Católica Livre do Brasil e que vai a Holanda a fim de sagrar-se.

“Peço a Vossa Excelência o obséquio de atender o meu recomendado com sua solicitude costumeira, cercando-o de todas as facilidades possíveis no cumprimento do alto desígnio que o leva a esse país.

“Aproveito o ensejo para reiterar-lhe os protestos de perfeita estima e distinta consideração com que me subscrevo.

“De Vossa Excelência, collbr. e amgo. mto. atto. - a. Pimentel Brandão. Ministro das Relações Exteriores”.

Convém acrescentar que o Ex.mo Sr. Ministro do Exterior, em nota distribuída à imprensa, afirmou não ter sido sua intenção auxiliar a fundação da pseudo-igreja, que S. Ex.a qualifica de impostora.

* * *

São merecedoras de todo o elogio as belas palavras que o Ex.mo Sr. José Bonifácio de Andrada e Silva, embaixador do Brasil junto a Santa Sé, pronunciou por ocasião da entrega de suas credenciais ao Santo Padre Pio XI.

Entre outros tópicos dignos de registro, destacamos os seguintes:

“Católico, diz o embaixador, educado em uma atmosfera de sentimentos cristãos dos mais puros, pertencendo a uma família em que o culto da religião católica é praticado diariamente, considero esta honra como uma graça divina.”

“De acordo com os sentimentos do meu país e do governo brasileiro, e obedecendo às exigências do meu dever de católico, empregarei todo o meu ardor, todas as minhas energias para consolidar cada vez mais as tradicionais relações de amizade entre o meu país e a Santa Sé, feliz em poder servir junto à Vossa Santidade os interesses do Brasil e da Igreja, coluna e fundamento da verdade”.

* * *

A descoberta de material de propaganda subversiva enviada da Espanha ao Brasil pelo correio, vem provar mais uma vez que os governantes da Espanha vermelha não passam de um grupo de malfeitores internacionais, empenhados em semear a guerra social no mundo inteiro.

É, pois, muitíssimo de se desejar que o atual Estado brasileiro rompa de vez relações com Valência, estabelecendo-as com os autênticos representantes da Espanha católica e nacionalista à testa dos quais está o General Franco.

A dissolução dos centros espanhóis da esquerda é um feliz prenúncio da realização desse nosso desejo. Devemos esperar que a ruptura completa com Valência não tarde.

* * *

Enquanto o Sr. Roosevelt se manifestou, na sua oração de Ano Bom, tão hostil aos Estado fortes, que ele qualifica de opressivos e de tirânicos, não teve uma palavra de censura para com a Rússia ou o pobre México, entregues uma e outro à pior tirania que se conhece em nossos tempos.

Seja qual for o juízo que se faça da política do Sr. Roosevelt, esta omissão não pode deixar de ser objeto da mais grave censura por parte dos católicos. Tome lá S. Ex.a a posição internacional que preferir, que isto não nos importa. Mas tenha a bondade de não fingir ignorar o que, de cruel e dramático, se passa por assim dizer nas barbas de sua Pátria, com a cumplicidade criminosa de homens de Estado yankees.

* * *

É curioso o empenho com que (...) divulga notícias alarmantes sobre o estado de saúde do Santo Padre.

Ainda há dias, a referida agência o dava como seriamente doente.

Esse desejo dos inimigos da Santa Igreja de ver morto quanto antes o Papa, são indireta e involuntariamente um esplêndido reconhecimento da grande sabedoria e incomparável eficiência com que Pio XI dirige a barca de São Pedro.

O que os inimigos da Igreja ignoram porém, é que um Papa pode morrer, mas o Espírito Santo não morre, e que é Ele que na realidade dirige a Santa Igreja de Deus.