Legionário, N.o 290, 3 de abril de 1938

7 DIAS EM REVISTA

É de lamentar que em plena cidade de São Paulo um explorador como o charlatão Anesio de Siqueira encontre jornais com a importância e o prestígio dos “Diários Associados” que lhe façam a propaganda, aplaudindo e fomentando suas explorações.

Com grande estardalhaço noticiou-se a sua chegada em São Paulo, e já durante a viagem o espírita dava “passes”,  não só ao povo mas até mesmo a pessoas de famílias das autoridades policiais, como aconteceu em Cruzeiro, onde a filha do delegado foi à estação para ser “curada” pelo explorador.

Uma pessoa influente da localidade pediu a intervenção da polícia, porém, o delegado a recusou... et pour cause.

Bem andou, portanto, a nossa polícia, impedindo que tivesse prosseguimento tal charlatanice.

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Ninguém que tenha bom senso acredita que o Anchluss tenha sido bem recebido pela Áustria.

O Sr. Hitler, porém, sustenta o contrário. Façamos, pois, abstração de nossas convicções para ouvir o que ele diz, e julguemo-lo pelas palavras de sua própria boca.

Discursando na campanha a favor do plebiscito austríaco, Hitler declarou que foi acolhido na Áustria, quando lá esteve há dias, por uma tal onda de amor que se decidiu a realizar o plebiscito.

Em outros termos, ele invadiu a Áustria sem saber se os austríacos desejavam o Anchluss ou não, e sem se importar com isto, como a opinião pública lhe pareceu favorável, ele decidiu consultá-la. Mas se não fosse, ela teria de engulir o Anchluss à força.

Isto significa que o plebiscito é, uma mera farsa... e o Sr. Hitler um farsante.

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À vista dos métodos e processos do Sr. Hitler, o principado de Liechtenstein acha-se justamente apreensivo com as pretensões de uma pequena minoria que deseja a sua anexação à Alemanha, apesar de já ter o Parlamento do Principado se pronunciado contra essa pretensão.

Teme-se com razão que o Sr. Hitler mande suas tropas ocuparem o Principado com aviões, gases, tanques e bombas, para depois se dirigir para lá a fim de se banhar em uma “onda de amor” como o foi na Áustria.

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Aliás, não é só o Principado de Liechtenstein nem é só a Checoslováquia que se acha alarmado. Também a Suíça, outro país pequeno, procura por todos os meios defender-se das garras de um homem que só usa a força. É que o único defensor dos fracos e dos pequenos é Cristo, e, quando Ele é expulso da vida internacional dos povos, está chegada a hora de os pequenos povos serem esmagados sem piedade. Um famoso rei pagão disse certa vez “ai dos vencidos”. Hoje, o brado dos novos Césares pagãos é “ai dos pequenos”.

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Em outro discurso de propaganda eleitoral, Hitler diz: “Deu-se a Schuschnnig a oportunidade de corrigir o que estava errado, mas ele recusou. Procurou outro caminho, que acarretou a sua própria queda. O que daí resultou, vós todos o sabeis. Operou-se um milagre. A um homem que oprimia a sua nação, durante anos, foi dada uma oportunidade. Ele a recusa, trama novo plano de traição, prepara seu álibi para essa traição.

Uma fraude miserável e insolente foi engenhada. No dia em que ela deveria consumar-se, este homem não mais permanece em seu lugar. Em três dias uma nação se levanta; em dois dias depõe um regime, em um dia saúda o seu libertador. Essa é a maior vitória de um ideal”. É doloroso; mais do que isto: é vergonhoso que muitos católicos pensem do mesmo modo. E o fanatismo de certa gente é tal, que temos de antemão certeza de que nem o artigo que transcrevemos do “Osservatore Romano” conseguirá mudar sua opinião.

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O governo nazista suspendeu o jornal “Durchbruch” por ter atacado o Vaticano, qualificando a Áustria de “colônia do Vaticano”, além de outros ataques tão do gosto nazista.

Essa atitude do governo alemão nada mais é do que amabilidade de véspera de eleição. Vejamos depois do plebiscito da Áustria, se ele continuará assim procedendo.

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Os legitimistas austríacos são ridicularizados atualmente pelos nazistas, que cumulam o arquiduque Otto de Habsburgo de pilhérias, chamando-o de “Rei de ontem”, etc.

Este fato nos faz lembrar uma cena que presenciamos há dias no Jardim da Aclimação.

Numa jaula, estavam presos um tigre e um leão. Do lado de fora, meninotes zombavam das feras, insultavam-nas, e cobriam-nas de desafios arrogantes, e, como prova de seu heroísmo, cuspiam nas feras. Se, porém, uma das grades se partisse, não haveria certamente fujões mais velozes do que aqueles expansivos heróis.

Se o arquiduque estivesse no trono, não teria bajuladores mais incondicionais do que alguns que agora dele mofam.

Mas como o infortúnio se abateu sobre o último representante do tronco glorioso dos Habsburgos, cobrem-no de zombarias.

Mentalidade... de moleques... (...)