Legionário, N.º 330, 8 de janeiro de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

No discurso que pronunciou na 4ª feira p.p., o Sr. Franklin Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, afirmou que a Religião, a democracia e a boa fé internacional são os princípios intimamente ligados entre si, e indispensáveis para a manutenção da civilização contemporânea.

Quanto à Religião, a afirmação tem o sabor liberal e protestante que seria de se esperar. É certo que as religiões pagãs, conquanto falsas, constituíram o centro de gravidade e o fundamento das civilizações anteriores a Nosso Senhor Jesus Cristo, o que é imensamente melhor que tais povos tenham tido religiões falsas do que nenhuma religião. É certo também que as seitas heréticas ou cismáticas que se presumem cristãs, pelo próprio fato de terem em sua doutrina algumas parcelas da verdade cristã católica, produzem benefícios nos respectivos fiéis. A Inglaterra, a Suécia, Dinamarca, Noruega etc., puderam prosperar ao menos materialmente, dentro da heresia. No ateísmo, nem sequer este progresso material teria sido possível.

Para a sociedade contemporânea, entretanto, não basta uma religião qualquer, ou a pluralidade de religiões, na qual o liberalismo tanto se compraz. Ou o mundo contemporâneo reingressa inteiramente na verdade plena, que só na Igreja se encontra, ou não haverá meio de evitar as imensas catástrofes de que está ameaçado.

Como protestante que é, não poderia o Sr. Roosevelt ver claramente a procedência do que acima ficou dito. Mas é conveniente resguardar o espírito dos leitores contra a mentalidade liberal implicitamente contida em seu discurso.

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Também quanto à democracia, temos nossas reservas a fazer. Somos clara, positiva e ardorosamente antitotalitários. Nem por isto haveremos de afirmar que a democracia é uma condição essencial para a sobrevivência da sociedade contemporânea. Nem a democracia, nem a aristocracia, nem a monarquia é essencial para a felicidade dos povos. O que sobretudo é indispensável é que a forma de governo seja inspirada na autêntica doutrina do Evangelho. Quanto ao mais, podem os povos adotar formas de governo diversas, conforme suas tradições e índole, e de acordo com as lições fornecidas pela experiência histórica de cada povo.

Isto posto, como contestar que a experiência histórica de quase todos os povos contemporâneos pode dificilmente ser interpretada em sentido favorável à democracia liberal?

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Merece nosso franco aplauso o gesto de delicadeza do governo francês, que agraciou com uma alta distinção honorífica S. Ema. o Sr. Cardeal D. Sebastião Leme, em uma solenidade cheia de delicadeza e expressão, a bordo da belonave que traz o belo nome de “Jeanne d’Arc”.

Condecorando aquele Príncipe da Santa Igreja, não foi apenas seus altos méritos que o governo francês reconheceu. A delicadeza do gesto foi mais longe e atingiu a própria alma católica do Brasil.

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Também merece um largo aplauso o fato de ter feito parte das cerimônias comemorativas da retirada da Laguna uma Missa celebrada pela Ex.mo e Rev.mo Sr. D. Carlos Duarte Costa, no Mosteiro de São Bento.

Com este gesto, mostra o bravo Exército Nacional que não esmoreceu em suas fileiras o espírito católico que foi a grande característica de seus maiores heróis do passado.

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É um gáudio para o “Legionário” publicar louvores e elogios. Gáudio este tanto mais intenso, quanto menos freqüentes são as ocasiões em que se lhe permite tomar essa agradável posição.

No número de hoje, temos mais um elogio a inserir. Refere-se ao fato de ter sido dada a uma das ruas desta capital o nome do grande e saudoso Jackson de Figueiredo.

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Quando o nazismo subiu ao poder, assenhoreou-se do jornal católico “Germânia” que, entregue às mãos de von Papen (!), conservava uma vaga coloração católica, a fim de ver se, retendo alguns leitores católicos, instilava nestes o veneno da doutrina nazista.

Depois, o Sr. von Papen andou fazendo traições e infâmias pelo Ruhr e pela Áustria. Agora está no ostracismo. E finalmente o seu jornal foi fechado.

Diz o Evangelho que Judas nem os trinta dinheiros conservou...

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É digno de nota o seguinte telegrama da United Press, publicado por nossos jornais diários no dia 1º p.p.: “Uma personalidade fascista bem informada, em declarações à imprensa, disse que a França está fazendo o jogo da Itália. Ela se irrita abertamente com as exigências italianas, que até agora não foram apresentadas oficialmente, e que provavelmente não o serão, por enquanto. Mussolini jogará as cartas em tempo oportuno”.