Legionário, N.º 331, 15 de janeiro de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

O Sr. Prestes Maia, prefeito de São Paulo, resolveu não oficializar o carnaval deste ano, como vinha fazendo a Prefeitura já há alguns anos.

A oportunidade e o acerto dessa medida são por demais manifestos, tanto mais que a Prefeitura nunca deveria ter dado o seu patrocínio às imoralidades, desmandos e crimes cometidos no Carnaval.

O prefeito de São Paulo, des-oficializando-o logo no primeiro ano de sua gestão, merece portanto os maiores elogios, não só de todos os paulistanos, como principalmente do governo, que viu o seu nome enxovalhado todos os anos em uma festa que cada vez mais se transformava em uma vergonhosa bacanal.

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Em contraposição a essa medida louvável do Sr. Prestes Maia, alguns jornais de São Paulo, como “O Estado de São Paulo” e os jornais dos “Diários Associados” infelizmente procuraram anunciar o Carnaval deste ano, instituindo festas e concursos de belezas que, mesmo em épocas normais, seriam reprováveis.

Esses jornais deveriam compreender a sua grande missão de educadora do povo e, portanto, coadjuvar tanto quanto possível a ação moralizadora do Sr. Prestes Maia, e não procurar incentivar uma festa que só contribui para a decadência de nosso povo.

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Recebemos com muita simpatia a notícia da visita que o Sr. Chamberlain e Lord Halifax farão ao Santo Padre Pio XI. Sem entrar na apreciação dos méritos pessoais e da obra daqueles políticos, coisa que, no momento, não vem ao caso, devemos reconhecer no gesto dos dois ministros uma linha de suprema correção e de alto respeito ao Chefe da Cristandade.

Ora, se o “Legionário” protesta sempre que o Papa é “brutalmente” ofendido, ele se rejubila sempre que se dá ao Santo Padre o lugar a que tem direito por sua divina missão.

Aliás, cumpre acrescentar que as relações entre a Inglaterra e a Santa Sé têm melhorado constantemente, do que é prova a recente nomeação de um representante diplomático do Vaticano em Londres, sendo que há muitos anos o Foreign Office mantinha um embaixador junto ao Santo Padre.

Isto é um indício muito expressivo da força que estão adquirindo os católicos na Inglaterra, força esta que obriga Ministros nascidos no protestantismo a homenagear como de direito o Sagrado Vigário de Cristo.

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Também recebemos com visível satisfação a notícia de que S.A. a Princesa Maria de Savóia, logo depois da cerimônia de seu enlace com o Príncipe Luís de Bourbon e Parma, irá orar sobre o túmulo dos Apóstolos no Vaticano, e depois solicitará pessoalmente a bênção do Santo Padre, a cujos pés se ajoelhará.

O “Legionário” folga em registrar que, no meio de todos os esgares do regime fascista, a Casa Real tem tido uma atitude modelar que, por esta forma, mais uma vez se reafirma.

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O embaixador da Espanha republicana em Washington, Sr. De los Rios, dando mostras de uma desfaçatez incrível, convidou várias personalidades católicas americanas para visitar a Espanha Republicana.

Causou tal indignação a hipocrisia do Sr. De los Rios nos meios católicos americanos, que Mons. Curley, Arcebispo de Nova York, energicamente declarou que ele não passa de “um mentiroso vulgar e ordinário”, quando fala em liberdade religiosa na Espanha republicana.

Essas palavras do Arcebispo Curley indicam qual deve ser a conduta dos católicos que, embora anti-totalitários, devem combater com toda a energia o erro liberal oposto, não procurando o totalitarismo para combater o liberalismo, nem opor este àquele, mas apenas combatendo a ambos em nome do catolicismo. Um erro não se corrige por outro erro, mas pela pregação da Verdade, que só na Igreja se encontra, e pelo implacável desmascaramento de tudo que se afaste da doutrina católica.

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Um jornal nazista que se edita na Alemanha publicou há dias um editorial em que informa que um grande país sul-americano, cujo nome não declina, está ameaçando perseguir a Religião sob pretexto de nacionalização de todas as escolas católicas e, implicitamente, das Ordens Religiosas docentes. A este propósito, aquela folha investe contra o Episcopado do referido país, acusando-o de não promover a necessária oposição às medidas governamentais.

Em virtude de “constas” mais de uma vez postos em circulação aqui, não parece ser necessária uma desmesurada argúcia para se perceber a que país se refere a notícia.

Esse zelo fingido - e nem poderia deixar de ser fingido - pela causa católica tem sua explicação. No mesmo artigo, o jornal nazista deplora que também as escolas profissionais alemãs do mesmo país sejam fechadas pelo governo, para evitar a desnacionalização do povo.

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Notada a insinceridade da atitude daquele jornal, vejamos agora o comentário que, a este respeito, fez o “Osservatore Romano”:

1 - que é curioso ver um jornal nazista incitar o Episcopado a tomar uma atitude de oposição ao Governo, quando, na Alemanha, idênticas atitudes do Episcopado germânico, originadas por abusos imensamente mais graves do que o que o jornal figura, são tidos pela imprensa nazista como crimes contra o Estado.

2 - o fechamento das escolas profissionais alemãs que fazem propaganda nazista é absolutamente legítima, e que, assim procedendo, o referido governo cumpre simplesmente seu dever.

Trata-se, aí, de uma medida de louvável nacionalismo, que só deixará de ser louvável quando ferir os direitos inalienáveis e insuperáveis de Deus e das almas, caso no qual se converterá em insuportável e odioso abuso.