Legionário, N.º 347, 7 de maio de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

O desenvolvimento dos acontecimentos na Hungria continua, infelizmente, a justificar as observações que temos feito por estas colunas.

Todos se lembram dos belos discursos, recheados de estrondosas manifestações de Fé, que os políticos situacionistas da Hungria fizeram por ocasião do Congresso Eucarístico. Tantas e tais foram essas demonstrações de catolicidade, que todos creram que a gloriosa pátria de Santo Estêvão constituía uma cunha católica cravada no flanco da zona de expansão nazista, a fim de conter as hordas pagãs na Europa Central.

Entretanto, algum tempo depois disto, essa catolicidade de encomenda se esvaiu como que por encanto. E o partido situacionista húngaro, com a aprovação do Regente Horty, votou leis racistas solenemente condenadas pelo Episcopado húngaro.

Onde está agora aquela religiosidade dos políticos que tão espetacularmente se exibiram no Congresso Eucarístico?

Os católicos húngaros, valorosos, intrépidos e denodados como são, hão de ter tido agora uma dura desilusão... se é que chegaram a ter ilusões. Queira Deus que ao menos esse caso concreto abra os olhos de outros católicos no mundo inteiro.

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A influência nazista pelo mundo inteiro é, efetivamente, muito maior do que se poderia imaginar. Por isso é que assistimos, às vezes, a fatos surpreendentes.

Assim, enquanto os jornais alemães cobrem o Sr. Chamberlain de injúrias, o prefeito de uma pequena localidade da África do Sul recebeu uma advertência do governo daquela colônia inglesa... por ter feito alusões ofensivas ao Sr. Hitler.

De um lado, em pleno Berlim, os jornais oficiais arrastam o Sr. Chamberlain pelas sarjetas, por ordem do governo e, por outro lado, até no fundo da África do Sul é proibido falar mal do Sr. Hitler...

Mas o prefeito de Porto Elizabeth, que é a localidade sul-africana mencionada, não se atrapalhou. Pelo contrário, oficiou ao chefe do governo sul-africano, lembrando-lhe o heroísmo de Dollfuss e de Schuschnigg, e perguntou-lhe se, protegido pela frota britânica e por uma imensa distância geográfica, ele não quereria imitar a coragem de seus colegas austríacos...

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Em um jornal católico dos Estados Unidos, lemos a curiosa notícia de que o famoso comunista Negrin e a Passionária se refugiaram nos Estados Unidos, para onde levaram a soma considerável de seis milhões dólares em ouro, que entregaram ao governo do México.

Evidentemente, este ouro pertence à Espanha e foi roubado por aqueles dois comunistas. O produto dessa roubalheira entrou mansa e pacificamente nos Estados Unidos, e depois seguiu de lá, não menos mansa e pacificamente, para o México.

Ora, uma regra elementar de honestidade internacional obrigaria o governo norte-americano a seqüestrar esse dinheiro.

São essas as coisas que prejudicam a política do Sr. Roosevelt. Enquanto o mundo não tiver a garantia de que ele é tão anticomunista quanto antinazista, não poderá depositar nele uma confiança plena.

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Finalmente, cabe aqui a pergunta que estamos fartos de repetir: se o Sr. Roosevelt quer trabalhar para reintroduzir a decência, o brio e a correção na vida internacional, por que não começa S. Ex.a por chefiar um largo movimento pan-americano para alterar a situação do México?

Isto sim é que seria pan-americanismo. Mas por este ninguém se interessa.