Legionário, 356, 9 de julho de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

 

À margem do grande Concílio que se realiza presentemente na Capital do país, devemos acentuar desde já certos fatos dignos de nota.

Um deles é a insistência do Santo Padre Pio XII a respeito da Obra das Vocações. Na carta que Sua Santidade escreveu a S.Ema o Cardeal Legado, a primeira questão indicada à atenção do Concílio é de “ser estudado o modo de promover a obra das vocações sacerdotais, e, em especial, a maneira mais longa de assegurar os recursos que permitam a um maior número de jovens brasileiros vir receber aqui, em nossa veneranda Roma, a formação da piedade e na ciência sagrada”.

A Obra das Vocações já tem organizada, entre nós, uma propaganda muito eficaz, apta a fazer sentir ao público a vital e insuperável importância de sua finalidade. Não é, pois, necessário que insistamos hoje a este respeito. Bastará que ponhamos em destaque o interesse [do Papa e isto] será suficiente para fazer vibrar de entusiasmo os católicos de São Paulo e do Brasil inteiro.

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Além da Obra das vocações, indica Sua Santidade, como importantíssimos temas a Ação Católica e o combate ao protestantismo e ao espiritismo.

Quanto à primeira, o Papa distingue dois problemas. Como, na Ação Católica, a vida interior é tudo, o Santo Padre se refere antes de tudo à sua “intensificação”. Além disto, deverá o Concílio cuidar das providências necessárias para a organizar melhor em todas as dioceses do Brasil.

Quanto ao combate aos “erros protestantes e a prática do espiritismo” estão intimamente ligados à atividade da Ação Católica, que, como legião “sicut acies ordinata”, deverá combatê-los desassombrada, galharda e aguerridamente.

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Também merece especial registro o telegrama que S. Ema o Cardeal Legado enviou ao Ex.mo Sr. Presidente da República.

Foi o seguinte o texto do telegrama:

“Com respeitosa homenagem ao supremo chefe da Nação e plena confiança de que continuará em seu alto critério a facilitar o apostolado da Igreja no Brasil, ao mesmo tempo que saudamos a V. Ex.a, bispos e prelados brasileiros, queremos igualmente, desde o início do Concílio Nacional, afirmar-lhe perfeita dedicação à pátria cujos elevados interesses sempre haveremos de servir. Respeitosas saudações. – Cardeal Leme”.

Como se vê de sua própria redação, quis o Cardeal Dom Sebastião Leme manifestar sua atenção para com o Chefe da Nação, que, ocupando a suprema direção do Estado, representa como tal o povo brasileiro, e, ainda como tal, deveria ser objeto desta atenção, de acordo com a doutrina da Igreja, que manda que se preste reverência a todas as autoridades constituídas, em razão da dignidade de suas funções.

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Quanto às notas referentes ao Concílio, resolvemos deixar para o fim a nota sensível, mais bela e mais delicada. É o lindíssimo telegrama enviado pelo Cardeal Legado ao Santo Padre, em nome dos Padres Conciliares. É o seguinte o seu texto:

“A S. S. Pio XII – Cidade do Vaticano. – Reunidos em Concílio Plenário ao oscular pés de V. S., queremos reafirmar nossa incondicional obediência filial e afetuosa veneração à Sé Apostólica e ao Romano Pontífice. Pedimos a Deus que proteja nosso grande Papa e pai amantíssimo, imploramos a bênção apostólica. – Cardeal Leme.”

Graças a Deus podemos dizer que dos muitos títulos pelos quais o Episcopado Nacional se impõe à veneração de todos os fiéis, um há que é o resumo de todas as suas virtudes e a expressão mais viril e mais delicada de toda a sua nobreza moral: é o incondicionalismo de sua disciplina em relação à Santa Sé.

O Brasil será grande na medida em que for católico. E será católico na medida em que, fiel a seus Bispos e ao Sumo Pontífice, primar por esse incondicionalismo que só as coisas divinas merecem.

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Houve um país, na semana passada, em que um Príncipe da Igreja, segundo narram os telegramas, sofreu “uma verdadeira chuva de ovos podres, batatas, e grosseiros insultos, que chegaram quase a se transformar em danos corporais”. O povo quebrou a janela de uma casa onde aquele Príncipe da Igreja pernoitava de viagem, e, por outro lado, foram quebrados os vidros do seu automóvel. Saindo desta localidade e dirigindo-se a outra, o Prelado foi recebido por uma grande demonstração hostil. O povo vociferava pedindo a prisão do Prelado e gritando-lhe insultos. Um celerado desferiu um golpe contra o Prelado, que atirou longe seu barrete. Os seus serviçais foram também maltratados”.

Quem é este povo? Uma malta de comunistas (...), de anarquistas? Propriamente isto, não. Mas um grupo de nazistas, o que vem a dar na mesma. O país é a inditosa Áustria. E o Prelado é o Cardeal Innitzer, cuja brandura para com os nazistas quando do “Anschluss” torna esta agressão verdadeiramente absurda e evidentemente inspirada em um ódio diabólico contra a Igreja.