Legionário, 372, 29 de outubro de 1939

7 DIAS EM REVISTA

Diz a Constituição vigente que “a família está sob a proteção do Estado”. E, como já tivemos ocasião de acentuar, esse foi um dos dispositivos que mais predispuseram, nos arraiais alheios à política partidária, os admiradores do Estado Novo a lhe depositar confiança. Porquanto, se tal dispositivo, já existente na Carta Constitucional de 1934, fosse cancelado na de 10 de novembro, o alarme da opinião pública seria incalculável.

 Ora, não podemos deixar de considerar como altamente nociva à popularidade das instituições atuais a constante elaboração, por parte de órgãos bafejados pela proteção do Estado, e que portanto, deveriam ser ciosos da popularidade deste, de projetos de lei que destoam absolutamente da proteção que a família deve ter por parte do Estado.

Não há para a família, legitimamente formada - e só esta é que constitui legalmente uma família - injúria maior nem ameaça mais grave do que a tendência de a equiparar a “famílias” ilegítimas. Isto implica em torpedear pela base as instituições familiares.

Deplorável, e deplorabilíssimo, pois, é que órgãos como a DASP (Diretória Administrativa de Serviço Público) e o Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado, formulem projetos de lei que beneficiam os “filhos de qualquer natureza”, com o apoio de pensões e outras medidas de proteção, até aqui reservadas exclusivamente aos filhos legítimos.

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Registramos a notícia, veiculada pelos diários desta Capital, de que o conflito existente entre a Alemanha e a Santa Sé se agravou por motivo da atitude simpática à Polônia, assumida recentemente por esta última.

A atitude assumida pelo Vaticano em tal emergência irritou infundadamente os círculos nazistas, que acusam a Santa Sé de se não ter conservado neutra no conflito.

Segundo declarações do “Osservatore Romano”, realmente, a Santa Sé não foi neutra. Mas os católicos brasileiros não precisam de explicações por essa violação de neutralidade. O Papado tomou a única atitude que lhe competia tomar.

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Cada vez mais, no cenário internacional, vão sendo apagadas as supostas divergências ideológicas durante muito tempo ostentadas por certos países em relação a outros. Assim, a Itália, cujo governo se erigiu, em tempos, inimigo irreconciliável de toda e qualquer expansão comunista, depois de ter fornecido em larga escala à marinha de guerra da Rússia, enviou recentemente três navios para o México.

A notícia, como é obvio, prova que na ordem concreta dos fatos, as relações entre a Itália e o México não são nada tão más.

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A orientação seguida pelo Sr. Chamberlain continua a provocar, na Inglaterra, sérias apreensões. Assim é que aquele político tem tido que enfrentar oposições de vulto. Entre elas, se destaca a do “Daylly Express”, que combateu a distribuição de boletins pelas forças aeronáuticas inglesas sobre território alemão. Pondera aquela folha que uma derrota militar desprestigiaria muito mais o Sr. Hitler do que o bombardeio de boletins que contra ele tem feito o governo inglês.

Por outro lado, na Câmara dos Comuns, um deputado conservador, em interpelação dirigida ao governo, manifestou seu receio de que os víveres negociados pela Inglaterra com a Rússia, e fornecidos a esta última, sejam reexportados para a Alemanha, com visível prejuízo para o bloqueio promovido pela Inglaterra. Finalmente, o deputado major Atlee acusou o governo de não manter a moral da população no grau de entusiasmo e otimismo que convém ao estado de guerra.

Todas estas notícias mostram claramente a apreensão que reina na Inglaterra.

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Não parece que participe dessa apreensão o Sr. Neville Henderson, personagem da maior influência na política inglesa, e ex-embaixador da Inglaterra no Reich, até o momento em que foi declarada a guerra.

Há poucos dias, aquele diplomata publicou um livro sobre os motivos da guerra. Mostra-se ele de um otimismo o mais categórico possível a respeito do futuro. E para isto não lhe faltam razões.

Eis como aquele diplomata vê, sem o menor “humour”, e sem a sombra da mais leve ironia, o chefe do governo alemão. Não se pode negar que o seu depoimento é surpreendente:

“O Sr. Hitler é, por si próprio, de índole artística e não política, pois liquidada a questão da Polônia, pretende acabar seus dias como artista e não como fazedor de guerra; não quer fazer da Alemanha somente uma caserna para militares e não o fará, a não ser obrigado. Resolvido o problema polonês, pretende levar vida tranqüila.”