Legionário, N.º 380, 24 de dezembro de 1939

7 DIAS EM REVISTA

Foi de extraordinária oportunidade o edital publicado há já algum tempo por ordem do Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano proibindo os bailes beneficentes na Arquidiocese, pela simplicíssima razão de que eles são beneficentes somente para o corpo, e não para a alma.

Dentro desta ordem de idéias, merece aplauso irrestrito a atitude das diplomandas do Colégio Santa Inês que, neste ano, comemoraram sua formatura com um retiro espiritual. A idéia de comemorar com um retiro aos pés de Deus Nosso Senhor um fato que outros costumam comemorar com bailes, deve encher de contentamento as diretoras daquela Escola, pelo fruto feliz da educação que souberam dar às suas alunas.

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A agonia gloriosa da Finlândia, agonia esta através da qual alguns lampejos de esperança nos fazem entrever a possibilidade de uma estrondosa vitória, não deve deixar indiferente o “Legionário”. A doutrina do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo jamais será bem compreendida por aqueles que não souberem sentir, como se fossem vibrados contra si mesmos, os golpes desferidos pelos inimigos da Igreja contra o catolicismo, em qualquer país do mundo. Um altar destruído ou uma Hóstia profanada, serão sempre um altar destruído ou uma Hóstia profanada, quer se trate do fato ocorrido na Turquia, na Suécia ou em São Paulo.

Assim, pois, não queremos [deixar de] abordar nesta seção alguns aspectos do conflito finlandês, bem como fazer a nossos leitores um vigoroso apelo, para que rezem ardentemente a Nosso Senhor e a Maria, Medianeira de todas as graças, pela vitória dos finlandeses ou pelo menos por sua incolumidade em relação à propaganda comunista e atéia.

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É tradição piedosa da Igreja que os aniversários e outras efemérides referentes aos dignitários eclesiásticos sejam celebrados pela organização de ramalhetes espirituais, constantes de numerosos atos de virtude praticados pelos súditos. Entra pelos olhos que nada há de mais conforme ao espírito católico.

Como o comunismo, com aquelas colorações diabólicas que o gênio de De Maistre soube discernir na Revolução Francesa, é exatamente o oposto da Igreja – nada há de mais oposto à Igreja do que o ateísmo ou, pior ainda, o paganismo engendrado por nosso século – cabia aos comunistas organizar para Stalin um “ramalhete espiritual” original, a fim de comemorar seu aniversário: uma ofensiva tremenda contra a pequena e infeliz Finlândia! Usando uma comparação já empregada pelo Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano, poderíamos dizer que é um ramalhete espiritual escrito com o sangue de Abel.

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Foi publicado, esta semana, um decreto ou resolução da Santa Sé, autorizando os Chineses a comparecerem a cerimonias de culto pagão, desde que tivessem caráter cívico.

A este propósito temos duas considerações a fazer. Em primeiro lugar, idêntica autorização existe quanto ao Japão e já é antiga. O Almirante Yamamoto, quando aqui esteve informou-nos que se trata de antiquíssimos  ritos religiosos nos quais já ninguém acredita, mesmo entre os pagãos, mas que todos praticam por servirem eles de pretexto para manifestações patrióticas. É exatamente o que aconteceu em Roma na última fase de sua história, quando ninguém mais dava o menor significado intrínseco aos velhos ritos dos banquetes funerários junto aos túmulos dos antepassados. Assim, pois, também na China provavelmente, trata-se de cerimônias que perderam intrinsecamente seu caráter.

Por outro lado, se a Santa Sé apesar disto se julgou na necessidade de baixar um decreto sobre o caso, convém acentuar que idêntica liberdade não podem tomar os católicos em relação a outras religiões, a não ser nos casos e com as autorizações eclesiásticas previstas pela Igreja.