Legionário, N.º 503, 3 de maio de 1942

7 Dias em Revista

Pouco temos que dizer acerca do último discurso do Sr. Adolph Hitler e de suas tonitruantes afirmações de que é um "enviado do Todo-Poderoso". Quem é este "Todo-Poderoso", na boca do ditador nazista? O Deus verdadeiro e vivo? Ou algum nebuloso e vago Wotan germânico, ressuscitado das trevas do paganismo? Não o sabemos. Em todo o caso, não pode invocar o auxílio do único Deus verdadeiro quem apostata da Igreja de Jesus Cristo. Imaginar que um enviado de Deus seja ao mesmo tempo um perseguidor da Igreja, é uma monstruosa blasfêmia. E foi dessa blasfêmia que o Sr. Adolph Hitler se tornou réu em seu último discurso.

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A referência ao Brasil também não merece comentários. O que quer insinuar o Sr. Hitler? Que porque queimamos nosso café ele tem o direito de se apoderar à viva força de uma parte dessa produção supérflua? Pouco importa. Pense ele o que pensar, nossa indiferença quanto à impressão que lhe causamos continuará a ser completa.

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Destacamos apenas, como trecho curioso do discurso, a referência amistosa ao Estado francês da chamada "França livre", que é a França de Vichy (!?): prova ela como a França de Pétain faz bem o jogo nazista.

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No fundo, todos se entendem, tanto os [...] nazistas ou os comunistas. Em Buenos Aires o Sr. Chautemps, famoso Sr. Chautemps, membro de [...] todos os "kominterns", etc., se incumbiu de dar aos jornais uma entrevista em que, a despeito de ser uma das pessoas alvejadas no processo de Riom... procura salvar o Sr. Pétain.

Entende o Sr. Chautemps que o Sr. Pétain só aceitou o Sr. Laval que no fundo abomina, porque não tem remédio senão fazê-lo, mas que a independência da França de Vichy desapareceu. Se assim é, por que continua no governo o Sr. Pétain, amortecendo pela sua presença a exasperação francesa contra a figura de Laval?

Acrescenta, entretanto, o Sr. Chautemps que o Sr. Darlan, continuando à testa da esquadra, ainda pode opor-se à sua entrega, e isto sobretudo porque não está na dependência de Laval, mas de Pétain.

Tudo isto posto, insinua o Sr. Chautemps que ainda não é tempo de romper com Vichy. Que melhor serviço poderia ele prestar ao nazismo? E quem é ele? Um comunista [...] averiguado.

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De nossa parte, não hesitamos em afirmar que, se não houver na França alguma séria modificação, a esquadra francesa terminará nas mãos do Sr. Hitler, por mais que as democracias contemporizem com Vichy.