Legionário, N.o 553, 14 de março de 1943

7 DIAS EM REVISTA

Falamos hoje, em nosso artigo de fundo, acerca de jejuns e mortificações, dizendo que elas podem fazer parte da vida espiritual de um homem, porém não são a essência da vida espiritual. E, instintivamente, nosso pensamento se voltava para o Sr. Ghandi cujo exemplo ilustra perfeitamente o que dizemos.

Com efeito, jejuar não é bom senão na medida em que esta prática nos ajuda à formação de virtudes em nós, e ao combate de defeitos. Implicitamente, jejuar por vaidade, por exibicionismo, por mau humor não é virtude. É mau gosto. E, muitas vezes, é hipocrisia. Haja vista o que dos fariseus disse Nosso Senhor.

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Cessou o jejum do Sr. Ghandi. Por que? Porque ninguém se importou mais com o fato. Ameaçou matar-se de inanição. Ninguém se incomodou com essa pseudo catástrofe, que na realidade só seria catástrofe porque o suicídio é um crime e todo crime é uma catástrofe. E, na indiferença geral, por entre risotas e escárnio, o Sr. Ghandi voltou ao regime normal.

O exemplo do Sr. Ghandi bem mostra que já passou graças a Deus a era do sentimentalismo político, que, só ele, poderia explicar o interesse mundial provocado pelos espetaculares jejuns já anunciados pelo Sr. Ghandi em outras ocasiões.

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 Folgamos em registrar a seguinte declaração do Sr. Eden, transmitida por um telegrama da Agência Reuters, e recentemente feita na Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha:

“Passando a outro assunto, o Sr. Eden declarou ainda que o Vaticano tem dado considerável auxílio aos prisioneiros ingleses de guerra, fazendo em seguida a seguinte declaração:

“O Vaticano tem prestado o maior auxílio moral e material possível aos nossos prisioneiros de guerra que se encontram na Itália e no Extremo Oriente. Assim, os esforços humanitários desenvolvidos pelo Vaticano, nesse sentido, devem ser e têm sido grandemente apreciados pelo nosso governo”.

É bom que se reconheça em todos os países os inestimáveis benefícios que o mundo contemporâneo deve a Pio XII.

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Uma vistosa reportagem do "Diário da Noite" deu a conhecer o funcionamento de um Centro Espírita Ismênia de Jesus, em Santos, que diz distribuir diariamente alimento a 300 pobres. Não sabemos se é real a estatística, não sabemos quem foi essa "Ismênia", tutelar do Centro.

O que é certo, porém, é que notícias tais devem sempre suscitar em nós a reflexão de que as obras que alimentam corpos mortais, mas arrastam à apostasia, e portanto, à morte espiritual [das] almas eternas, não são na realidade obras benfazejas. O bem que elas fazem só serve de engodo para o mal. E, portanto, não deve ser apoiado pelos católicos.