Legionário, N.º 643, 3 de dezembro de 1944

7 DIAS EM REVISTA

A imprensa diária se ocupou do caso de um japonês, pastor da seita adventista do sétimo dia, condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional, por haver insuflado seus prosélitos, soldados do exército, a só obedecer às ordens não contrárias aos preceitos da igrejola, entre os quais se acha o de não matar, nem mesmo em defesa da pátria!

Como bem ponderou um dos juizes do Supremo Tribunal Federal que julgaram o respectivo pedido de "habeas-corpus", trata-se da pregação de idéias que encerram um verdadeiro suicídio nacional, o que aconteceria se todos soldados brasileiros se recusassem a matar o inimigo, em tempo de guerra.

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Este fato concreto se presta a interessantes considerações. Com efeito, de acordo com a doutrina católica, o poder civil somente deve ser exercido de acordo com a lei de Deus. Prescrevendo qualquer coisa contrária a esta lei, exorbita de sua autoridade e nenhum direito tem à obediência do cidadão.

Dir-se-á: onde vai parar a eficácia das leis? Esta doutrina será uma porta aberta à desordem, pois ficará ao alvitre da consciência de cada um o discernimento entre as leis opostas ou não à Lei Divina. É o caso do Pastor adventista.

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Tal objeção foi admiravelmente resolvida pela Pastoral Coletiva do Episcopado norte americano, publicada quando do Concílio Plenário de Baltimore em 1855:

"Este incontestável princípio não pode ter no sistema católico as mesmas conseqüências que nos das seitas. Nestas, o indivíduo é o último juiz do que a lei de Deus manda ou proíbe, e está consequentemente exposto a pretender a sanção da mais alta lei, para o que, em suma, pode ser, e é muitas vezes, mera sugestão de um ânimo indisciplinado, ou imaginação perturbada”.

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E prosseguem os Prelados norte-americanos:

“Não se pode esperar que o governo civil reconheça uma autoridade que nenhuma garantia tem de seu caráter divino, e nenhum limite em sua aplicação, sem expor o Estado à desordem e à ruína".

“O católico tem um guia na Igreja, instituição divina, que o habilita a discriminar entre o que a lei de Deus proíbe ou concede, e esta autoridade o Estado é obrigado a reconhecer como suprema na sua esfera de ensino moral tanto quanto dogmático”.

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Muito bem dizia Veuillot que a Igreja é a Autoridade e o protestantismo, o livre exame... Aí está porque no catolicismo não há lugar para os Sargentos York.

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E por falar em protestantismo, é curioso observar que a agência Reuters acaba de transmitir aos quatro cantos do mundo a notícia de que um pequeno grêmio protestante, “sem maior influência”, como diz o despacho telegráfico, aprovou em Londres uma resolução afirmando que o Papa ou os representantes do Vaticano deveriam ser excluídos da mesa da Conferência da Paz.

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Como acabamos de ver aqui no Brasil, e como vários outros países também já experimentaram, certas seitas protestantes [de] que são exemplares os adventistas e as “Testemunhas de Jeová”, se mostram contrárias à guerra, qualquer que ela seja.

Este telegrama de Londres nos informa que há também grupinhos protestantes contrários à própria paz.

Com efeito, ninguém ignora que os germens da guerra atual foram produzidos pela Conferência de Versailles, por não querer seguir a voz de Bento XV. De novo e em breve teremos a repetição do conflito, se a política de ódios e os planos Morgenthau se substituírem aos princípios da paz como fruto da justiça esposados pelo Sumo Pontífice Pio XII, cabeça de toda a Igreja, Pai e Doutor de todas as nações.