Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, Nº 732, 18 de agosto de 1946

  Bookmark and Share

Os problemas do Oriente hão de ocupar forçosamente um grande papel na vida política contemporânea. Não estamos ainda habituados a essa idéia. Parece à nossa vaidade de ocidentais, que toda a Ásia - sem falar na África - constitui um distante, confuso e sonolento là-bas, onde as maiores convulsões se podem despertar, crescer e desaparecer, sem pôr em risco a civilização. Mas estamos enganados. Com a descristianização do mundo, a riqueza tornou-se o principal fator de poder: os orientais tem riquezas. A exploração dessas riquezas precisa de meios mecânicos: os ocidentais estão com suas fábricas aptas a aparelhar o Oriente inteiro com os instrumentos agrícolas e industriais necessários para seu desenvolvimento econômico. O destino dos povos se resolve hoje pelas armas: os ocidentais estão porfiando entre si para colocar a bom preço nos mercados do Oriente as armas que este um dia voltará contra nós. Estamos, pois, cometendo todos os erros que nos levam à ruína. É claro que tudo isto dá as questões do Oriente uma importância, uma atualidade, e até mesmo uma gravidade a que o LEGIONÁRIO chamará obstinadamente a atenção de seus leitores.

* * *

Assim, pois, devemos registrar mais uma vez, que continua o Oriente em ebulição. A começar pelo caso persa, que revive. A hostilidade entre ingleses e soviéticos no Irã recrudesce sensivelmente, ameaçando a tranquilidade de todo o Oriente médio. Ao que parece, os americanos do norte cruzam os braços. E os srs. Sultaneth e Faruz recomeçam seu jogo de confusão, cujo verdadeiro objetivo é difícil decifrar. Nada indica que cheguemos logo a uma guerra na Ásia. Mas, para evitar essa guerra o Sr. Attlee já tem provavelmente algumas das receitas do Sr. Chamberlain na algibeira. Cederá, por exemplo, o controle petrolífero da região aos soviéticos para salvar a paz. E depois dirá que os soviéticos se tornaram tão poderosos com a aquisição do petróleo, que é inevitável ceder-lhes todo o resto na Ásia média e ocidental.

* * *

Na Índia, como prevíramos, a noticia de que os ingleses se retirariam dentro em breve começou a provocar um movimento geral do mundo oriental contra a influência do Ocidente. Assim, a Índia portuguesa continua sendo sacudida por violentos movimentos nativistas, aos quais Portugal, pelo menos se contar só com o apoio inglês, não poderá resistir.

Não há indícios de que estas agitações tenham penetrado na Índia francesa, ou na Indochina, onde, como se sabe, a hegemonia também é francesa. Uma aproximação luso-francesa seria muito interessante, nesta emergência. Mas, segundo tudo indica, os comunistas que participam do gabinete francês tolherão qualquer tentativa do Sr. Bidault neste sentido.

Ninguém ignora a importância da Índia portuguesa para o esforço missionário. É fácil calcular, assim, quanto nos devemos interessar pelo desenvolvimento dos acontecimentos naquela região.

* * *

Na China, as hostilidades passaram do estado de fagulhas esporádicas para o de pequenos incêndios locais. Os telegramas já falam francamente em guerra civil em certas regiões. O martírio do povo chinês está longe de ter chegado ao seu termo.

* * *

A imprensa noticiou que, no Egito, se realizou uma cerimônia de alto valor simbólico. Na cidadela do Cairo, com a presença do Rei Fuad, foi hasteada a bandeira egípcia. Outrora tremulava ali o pavilhão britânico. É a proclamação oficial de que cessou o poder militar da Inglaterra no Egito.

* * *

Enquanto isto, move-se todo o mundo pan-islâmico. O jornalista Ralph Mc. Gill, em artigo recentemente publicado pela imprensa desta capital, acentuou muito bem que o pan-islamismo é um movimento genuinamente anticristão. Seu principal objetivo, o princípio em nome do qual levanta as massas, não é de modo nenhum a hegemonia política do mundo árabe, mas o ideal religioso de soerguer o mundo maometano. Quer organizar uma Liga das Nações Maometanas, para a grandeza da religião de Maomé. E odeiam o mundo cristão.

Onde nos levará tudo isto?


Bookmark and Share