Diário de São Paulo, 8 de janeiro de 1947

"O ERRO DO SR. ADHEMAR DE BARROS É O MESMO DE KERENSKY: ELE SERÁ TRAGADO PELO COMUNISMO INTERNACIONAL"

A propósito da aliança PCB-PSP fala ao "Diário de São Paulo" o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

O acordo firmado entre o Partido Social Progressista do Sr. Adhemar de Barros e o Partido Comunista do Brasil provocou, nos meios católicos de São Paulo, grande indignação. Várias associações religiosas, inclusive a Liga Eleitoral Católica, logo após a divulgação da notícia de acordo, manifestaram publicamente o seu repúdio àquele que, até então, havia feito profissão de fé católica, o que o obrigava, moralmente, a manter-se afastado dos inimigos declarados da Igreja Católica. Assim, conforme tivemos oportunidade de notificar ontem, o Sr. Adhemar de Barros deverá ser afastado da Irmandade do Senhor dos Passos, da qual era provedor, tendo os licenciados do Ginásio Nossa Senhora do Carmo, deste ano, retirado o convite que lhe haviam feito para ser o seu paraninfo. Por sua vez, os alunos do Colégio Arquidiocesano, também licenciados este ano, deverão comunicar ao Sr. Adhemar de Barros que não o consideram mais seu paraninfo.

Um grave erro

Ontem, registrando mais um depoimento, o "Diário de São Paulo" ouviu o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, líder católico e professor da Universidade Católica.

As suas declarações ao "Diário de São Paulo" foram as seguintes:

"A meu ver, o acordo entre o PSP e o PCB - ainda que o consideremos do mero ponto de vista político - constitui grave erro. O comunismo, antes mesmo de ser um partido político, é uma seita filosófica que professa um evolucionismo materialista, mas, a seu modo, profundamente "místico". Desse princípio ideológico errado, que os chefes da seita vivem em toda a sua intensidade, e disseminam na massa de seus partidários, provém a atmosfera de exaltação messiânica e efervescente que se reflete na propaganda cheia de promessas utópicas, e nos método de ação explosivos e tumultuosos do Partido. Do mesmo fundamento filosófico que o comunismo professa enquanto seita, deriva através de uma lógica impecável, o seu programa de reformas políticas, econômicas e sociais. Quem, com lógica impecável, extrai conseqüências de princípios falsos, chega a conclusões irremediavelmente falsas".

Conceitos falsos

"Da filosofia evolucionista e materialista do comunismo deriva um conceito falso do homem e da sociedade. Deste falso conceito, por sua vez, decorre um modo errôneo de conceituar as relações dos homens entre si, a estruturação da sociedade, os direitos e deveres desta para com cada homem. O comunismo não constitui, pois, algo que se fez mais ou menos às pressas, para disputar uma eleição. É uma doutrina errada mas profunda em seu erro, lógica em suas conseqüências, estudada com a maior meticulosidade em todos os seus aspectos".

Direção internacional

"Quanto à tática do PC, está longe de ter sido improvisada ontem ou hoje. Também ela sofre a ação dos princípios ideológicos do comunismo. Além de sua coerência doutrinária com as premissas do Partido, foi consubstanciada com o maior espírito prático, com um misto maquiavélico de audácia e prudência, de astúcia e brutalidade, de força e paciência, em princípios de ação e de luta que valem para o mundo inteiro. Ninguém ignora que uma direção internacional com rede em Moscou recebe informações de toda a parte, e dirige os partidos comunistas dos vários países, na tarefa delicada de adaptar estes princípios às condições concretas de cada qual. Nenhum passo importante se dá sem razões sólidas e bem pesadas. E estas razões tendem a produzir o mais depressa possível a vitória total do comunismo".

Uma comparação

"Tudo isto posto, comparemos o PSP ao PCB, ponto por ponto: a ideologia profunda, consistente, inflexível de um, com o programa recente, sem preocupação filosófica, sem estruturação interior profunda de outro. A tática antiga, comprovada pela experiência e pelo êxito, melhorada e atualizada a todo o momento pelos comunistas; e o sistema de concessões, de expediente, de imediatismo da maior parte dos partidos nacionais. A força, o misticismo, a exaltação dos comunistas; o moderantismo burguês, a hesitação, a indiferença para com princípios e idéias do outro lado. O resultado da comparação é claro, e dispensa delongas. Quaisquer que tenham sido as mútuas concessões sem as quais este acordo - como qualquer outro - não terá sido possível, suponhamos que, amanhã, o candidato da coligação PSP-PCB suba ao poder. Que elementos terá o Sr. Adhemar de Barros para fazer face ao seu aliado todo-poderoso? É impossível esperar que ele e seus conselheiros vençam em sagacidade, em força, em completo aparelhamento para a luta, os seus aliados de hoje? O erro do Sr. Adhemar de Barros é o mesmo de Kerensky e todos que têm procurado, em outros países, colaborar com a revolução na esperança de a iludir e esmagar mais tarde: são tragados pelas próprias águas do dique que auxiliaram a romper".