"O Século", 18 de setembro de 1932

A Nota da Semana

Plinio Corrêa de Oliveira

"O Século" não poderia receber melhor recompensa, pelos esforços que tem desenvolvido em bem servir a causa da Igreja, do que as palavras do Venerando Arcebispo Metropolitano, pronunciadas no estúdio do Palácio das Indústrias.

Efetivamente, "O Século" sempre lutou contra a ditadura do Sr. Getúlio Vargas, no qual via o maior obstáculo à constitucionalização do País e o mais eficiente líder comunista do Brasil.

No Sr. Getúlio Vargas, porque era esta a figura de proa, atrás da qual se ocultava a figura sinistra do Coronel João Alberto, o verdadeiro paladino do comunismo e do anticonstitucionalismo no Brasil.

Não lutávamos contra a ditadura, e pela constituinte, por ser a ditadura antiliberal e liberal a futura constituinte. Católico, exclusivamente católico, apaixonadamente católico, "O Século" é absolutamente indiferente à questão da forma de governo.

A ditadura, em si, nunca seria, portanto, considerada pelo "O Século" como um mal. Atacando o Governo Provisório, não atacávamos "a ditadura", mas esta ditadura que, na ação governamental que desenvolveu e nos propósitos mal disfarçados de seus próceres, conspirava ativamente contra os interesses da Igreja e da Pátria.

Repudiamos, portanto, a pecha de liberais, que alguns elementos nos lançaram, como repudiaremos qualquer outra acusação que revelasse incompreensão da atitude elevada e imparcial que nos norteia.

Se a ditadura brasileira, em lugar de ser exercida por um grupo de políticos gananciosos e subornados pelo comunismo, estivesse em mãos de elementos honestos e integrados no espírito tradicionalmente religioso do país, não seríamos capazes de lhes negar nosso apoio.

No entanto, a realidade que tínhamos diante de nós era outra.

A anarquia campeava em todos os departamentos da administração. A fraqueza e a inconstância do ditador, seu pasmoso poder de dissimulação, lhe tiravam qualquer autoridade e qualquer prestígio aos olhos da nação.

Seus delegados militares, e especialmente o Coronel João Alberto, emitiam em entrevistas escandalosas as mais desencontradas e perigosas opiniões. O Interventor em São Paulo, acompanhando as palavras com os atos, fazia de Piratininga a nova Canaã de todos os agentes de Moscou.

Nestas condições, como não trabalhar pela queda imediata do regime oriundo da revolução de outubro?

Por outro lado, impunha-se a Constituinte porque, neste deserto de homens e de caracteres, que foi a política nacional sob o azorrague dos "tenentes" revolucionários, nenhum homem havia com prestígio suficiente para assumir sobre si todas as responsabilidades da ditadura e livrar o Brasil da mortal influência dos "tenentes interventores", e dos cirurgiões políticos, à moda do Sr. Pedro Ernesto.

A realidade, portanto, era esta: de um lado, um grupo de malfeitores, salariados pelo comunismo, para destruir a civilização cristã no Brasil; de outro lado, o grosso dos elementos honestos e conservadores do país, coligados contra a ditadura para a defesa de seus ideais, de seus lares e de suas fortunas.

Como hesitar? Como tergiversar? Como calar, sem que o silêncio se transformasse imediatamente em cumplicidade?

Pusemo-nos a campo, portanto, francamente, decididamente, quando ainda era inseguro o sucesso da causa constitucionalista, que começava apenas a se bater nas colunas dos jornais.

Ainda era Interventor o Coronel João Alberto, e já nós lhe fazíamos sentir nossa inflexível hostilidade. E não nos intimidaram nem as mais descomedidas prepotências do Coronel Rabello.

Chamaram-nos uns de liberais, outros de reacionários. Veio finalmente a única voz autorizada a nos julgar, e de cujo julgamento fazemos absoluta questão. E esta voz - a do Sr. Arcebispo - foi para nós uma aprovação e uma bênção, aprovação que ratifica as lutas do passado, bênção que encoraja para os prélios do futuro.

O Sr. Arcebispo Metropolitano, na profunda visão, que possui, dos interesses religiosos e sociais de sua Arquidiocese, atacou precisamente os pontos que têm sido mais feridos pela campanha do "Século". Sua atitude, de reprovação serena mas severa, foi exatamente a que já havíamos assumido. Seu denodo e a sua energia desassombrada, com que soube apontar os "verdadeiros comunistas", foram uma aprovação do denodo e da energia com que não hesitamos em estigmatizar a esses mesmos comunistas quando, entre nós, eram governo.

"O Século" pode, pois, registrar para sua história um fato auspicioso e do máximo alcance. Conta com as bênçãos do Episcopado, que são as bênçãos de Deus.

E de que nos devemos aí recear por parte dos homens, quando Deus nos estimula?