Reforma Agrária - Questão de Consciência


Secção I

A investida do socialismo contra a propriedade rural

Titulo III

Como a campanha pela "Reforma Agrária" encontra eco num povo que não é socialista

Capítulo II

Ambiente já receptivo para a propaganda socialista

 

Receptividade

Descrever métodos eficientes de propaganda não basta para lhes explicar o sucesso. É preciso, ainda, mostrar a adequação desses métodos ao ambiente em que são empregados.

O ambiente brasileiro está, de há muito, receptivo para os processos de propaganda socialista que acabamos de descrever.

 

Causas dessa receptividade

As doutrinas e as tendências que, em fins do século XVIII, deram origem à Revolução Francesa afirmavam uma igualdade natural absoluta entre os homens. Em nome desse princípio, a Revolução introduziu a igualdade no campo político, proclamando na França a república, que ela considerava a única forma de governo consentânea com o "dogma" da igualdade.

Implantando a igualdade política, a Revolução Francesa deixou intactas as desigualdades econômicas, bem como as desigualdades sociais que destas decorrem. Paralelamente com a expansão universal dos princípios revolucionários, um problema de fundo se delineou assim, ao longo de todo o século XIX, mais claro para alguns espíritos, menos claro para outros. Sobretudo as almas fortemente impregnadas de sentimentalismo romântico e filantrópico se mostravam impressionadas com ele. Esse problema poderia formular-se assim: se a igualdade natural entre os homens deve acarretar a igualdade política, por que não há de conduzir também à igualdade econômica e social?

Esta interrogação foi tomando consistência paulatinamente num ambiente marcado pelas mais diversas influências ideológicas e por questões sociais que se iam tornando pungentes.

Havendo membros da grande família espiritual dos sentimentais românticos nos mais variados setores da opinião, o problema da igualdade foi assumindo em cada setor um colorido próprio. Nos meios conservadores, tomou o aspecto de uma aspiração profunda e confusa, que não ousava explicitar-se por efeito da pressão do ambiente, mas que criava uma simpatia para com o socialismo, paradoxalmente coexistentes com o repúdio algum tanto assustado que este provocava nos mesmos meios.

Em muitos católicos românticos e sentimentais, qualquer que fosse sua categoria social, o mesmo fenômeno de simpatia e repúdio se produziu. A ignorância da doutrina da Igreja no tocante à igualdade fundamental e às legítimas desigualdades entre os homens; a triste situação do operariado urbano, provocada pela industrialização incipiente; os impulsos legítimos do espírito de justiça e de caridade, de mistura com as vibrações do sentimentalismo romântico, levaram muitos católicos a simpatizarem com o socialismo. Este lhes causava, entretanto, apreensão pelo seu aspecto revolucionário e pelo conflito que criava com o senso das proporções e da hierarquia que existe em todo coração católico.

Se estes anseios de igualdade absoluta tiveram como fruto mais genuíno e característico, no século passado, o aparecimento do socialismo pré-marxista e marxista, o seu efeito foi muito além, pois produziram eles um imenso epifenômeno que vem ganhando em intensidade até nossos dias.

Consiste ele em uma predisposição para o socialismo, de imensas parcelas da opinião pública nos próprios setores declaradamente não socialistas.

Essa predisposição explica a receptividade da sociedade burguesa contemporânea para os métodos de propaganda velada empregados pelos socialistas.

 

Receptividade e repulsa em relação à "Reforma Agrária"

Assim, no momento em que a "Reforma Agrária" se apresenta diante da opinião pública, ao mesmo tempo que seu radicalismo provoca repulsa nesta, um certo pendor igualitário pode paralisar muitos do que devem lutar contra ela.

 

Conclusão

As considerações feitas nestes três Títulos da Secção I conduzem a algumas conclusões essenciais, que importa resumir.

A mentalidade tão arraigadamente católica de nosso País vem sendo minada, de modo paulatino e despercebido, por uma doutrina que ela repudiaria se a visse em seu conjunto e em seus princípios últimos. É o socialismo.

Servido pela finura de instinto político próprio às revoluções, o socialismo vem, de há muito, operando essa transformação de alma por processos sagazes e eficientes.

Ele visa, no momento, a conduzir o Brasil à aceitação de uma transformação social e econômica incruenta, mas autenticamente revolucionária, que é a "Reforma Agrária".

A implantação desta criará um estado de tensão entre o País, que é católico, e a legislação, que será inspirada por princípios opostos aos da civilização cristã. Daí uma crise religiosa, e sobretudo uma grave questão de consciência.

Cumpre que o nosso povo reaja contra o perigo, não só rejeitando o socialismo explícito, mas também muitas opiniões que dão à mentalidade de bom número de brasileiros um cunho socialista, sem que eles o saibam.

 

Observação relativa à revisão agrária

Tem-se usado a expressão revisão agrária para designar uma "Reforma Agrária" moderada. O projeto de lei n.o 154 de 1960, do governo do Estado de São Paulo, por exemplo, se intitula de revisão agrária nesse sentido.

"Reforma Agrária" moderada e revisão agrária eqüivalem a uma socialização moderada da vida do campo. O socialismo, ainda que moderado, não pode ser aceito pela consciência católica, conforme ensinou Pio XI (54). O que dizemos da "Reforma Agrária" abrange, pois, a revisão agrária.


Nota:

(54) Cfr. Título II, Capítulo III.


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