Catolicismo, n.° 452, Agosto de 1988 (www.catolicismo.com.br)
Com vistas ao ano 2000
Plinio Corrêa de Oliveira
SEM QUALQUER vacilação, respondo “sim” à pergunta formulada pela “Folha de S. Paulo”, que deseja saber se sou favorável à censura de cenas de nudismo na televisão.
Com efeito, ela não versa sobre a moralidade dos trajes, mas sobre a nudez total, e não faz distinção de sexo, nem de idade. Libertar de qualquer censura a nudez na televisão, evidentemente abrange não só a exibição de uma ou algumas pessoas nuas, mas também de uma quantidade indefinida de pessoas nessa situação.
Totalmente abolida a censura, qual a bacanal cuja exibição na TV pudesse ser vetada, até mesmo para crianças na mais delicada inocência de sua idade?
Há mais. Desentravada de qualquer óbice na televisão, a nudez não tardaria a passar do vídeo para a existência cotidiana. E isto importaria na implantação da imoralidade nos costumes.
É inútil acrescentar que tal fato acarretaria, por sua vez, a extinção do matrimônio, e a implantação do amor livre.
Bem vejo que, instalados em numerosas zonas de influência da sociedade moderna, são muitos os que trabalham ativamente para que até tal extremo se chegue. Essa caminhada para o abismo não data do nosso século, mas dos primórdios do romantismo, no século XIX, para não remontar ainda mais atrás.
Qualquer concessão — ainda que incipiente e tímida — feita à imoralidade no tempo de nossos bisavós, acarretou concessões maiores no tempo de nossos avós. Estas, por sua vez, se dilataram sensivelmente mais no tempo de nossos pais, desfechando, ao longo do século XX, em manifestações de liberalismo moral sempre mais escandalosos. A conseqüência é que a muitos contemporâneos nossos agrada vivamente prever que a passagem do atual milênio para o próximo seja celebrada por uma humanidade afeita ao nudismo.
E se fosse só (“só”…!) isso: é de se prever pior.
A carta branca dada ao nudismo é mero aspecto do permissivismo moral absoluto. E, por sua vez, este vai acarretando a implantação de outras formas de imoralidade que os costumes e as leis do Ocidente vêm transformando em amor livre; das anulações de casamento, escandalosamente facilitadas no próprio foro religioso, em certos países como os Estados Unidos; do aborto, francamente permitido pela lei em vários Estados modernos; da própria homossexualidade, igualmente permitida em muitos deles, e de fato tornada impune em quase todos os outros.
Ademais, vai se delineando, aqui ou acolá, a tendência a considerar com “indulgência” o incesto.
E o pendor generalizado em tudo isto encaminha obviamente para a inteira negação da moral cristã, que preceitua no Decálogo: V — Não matarás; VI — Não pecarás contra a castidade; IX — Não cobiçarás a mulher do próximo.
Os fatos confirmam, assim, as palavras da Escritura: “um abismo atrai outro abismo” (Ps. 41, 8).
E é o caso de acrescentar que nada poderá servir de anteparo a que o mundo caia nos últimos extremos da imoralidade ainda cogitáveis, como a bestialidade por exemplo. À espera do dia em que certa ciência consiga descobrir formas de abominação moral ainda inexcogitadas…
“Quanta inexorabilidade nessas previsões” — gemerá algum leitor otimista! “É o dr. Plinio de sempre, com seu raciocinar ferreamente conseqüente e caracteristicamente radical”.
A esse leitor replico desde já: É bem você, com sua supina inconseqüência levada aos últimos extremos.
Ao longo de minha existência, sempre me pareceu lógico e inevitável — na ordem natural das coisas — que, se o gênero humano não se convertesse para a integridade da Fé católica e a observância exata dos Mandamentos, ao chegar no ano 2000 estaria transpondo o limiar das últimas degradações.
“Na ordem natural das coisas”, digo. Pois há que tomar na maior conta as previsões de Nossa Senhora feitas em 1917 em Fátima, para uma humanidade que não retrocedesse no caminho da perdição: “A guerra (de 1914-1918) vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, (…) começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguição à Igreja e ao Santo Padre. (…) Várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará” (cfr. A. A. Borelli Machado, “As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia”, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 22 ed., 1987, pp. 44-46).