A D V E R T Ê N C I A
O presente texto é a transcrição de excertos de entrevista do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para a Rádio Uruguaiana, acompanhado do arquivo de áudio, e não foi revisto pelo autor.
Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
Locutor da revista “Catolicismo” – A seguir Vc. tomará contacto com o dia a dia do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, respondendo a perguntas de uma emissora sul-riograndense. Vc. poderá avaliar os gostos, preferências e opiniões pessoais daquele que, a justo título, foi chamado de “Cruzado do Século XX” (*)
Plinio Corrêa de Oliveira – Passo agora para o simpático programa pinga-fogo, prestando-me de muito bom grado às várias perguntas que o repórter queira me fazer.
Repórter – A primeira pergunta, Dr. Plinio, é o que é que o Sr. pensa do casamento e da família?
Plinio Corrêa de Oliveira – Não sou casado. Não adoto, entretanto, de nenhum modo, a definição que o velho Bismark dava do casamento. Ele dizia que o casamento era como uma praça sitiada: os que estão fora querem entrar; os que estão dentro querem sair.
O casamento é uma instituição de direito natural, que Nosso Senhor Jesus Cristo elevou à condição de Sacramento, e que realiza as condições ideais para que a missão da família e do casamento se alcance bem. A missão essencial do casamento é a reprodução do gênero humano, para obedecer ao Mandamento Divino: “ide, e povoai toda a Terra”. É preciso para isto que os filhos tenham as condições de educação normais. E para a educação normal do filho, nada melhor do que a conjugação do afeto paterno, do afeto materno e do amor fraterno, com seus vários matizes que constituem o ambiente perfeito, para a formação mental, temperamental e cultural da prole. O casamento, bem entendido, indissolúvel. Eu sou antidivorcista.
R.: Dr. Plinio, qual é a qualidade que o senhor mais preza em si mesmo?
PCO – A qualidade que mais prezo em mim mesmo é de ser filho da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Abaixo disso, mas com que raízes no meu coração, é a condição de brasileiro.
R.: E o defeito?
PCO – É a minha péssima memória. Tive-a má, desde o tempo de criança. Naturalmente, com o decurso dos anos, ela não pode ter senão piorado.
R.: O ideal do Sr. qual é?
PCO – Servir com todas as minhas forças até o meu último alento de vida a Igreja, a Civilização Cristã, especialmente no meu querido Brasil.
R.: O que o Sr. acha do sonho?
PCO – Quem tem verdadeiro ideal não sonha, no sentido que eu presumo que o senhor emprega a palavra sonho: são os sonhos de olhos abertos, dos homens sonhadores, que vivem imaginando coisas impossíveis. Quem tem verdadeiros ideais não sonha. Quem sonha não tem verdadeiros ideais.
R.: O lazer do Sr.?
PCO – De preferência leituras históricas. E entre as leituras históricas, de preferência, biografias.
R.: O Sr. tem medo?
PCO – Sim, de Deus.
R.: De música, quais as que o Sr. gosta?
PCO – Eu gosto da música gregoriana, da música polifônica e de músicas militares de bom quilate.
R.: Dr. Plinio, queríamos saber a opinião do Sr. sobre o cinema, teatro, TV e rádio.
PCO – Tenho a vida terrivelmente ocupada e, por isso, não tenho tempo de acompanhá-los. Devo acrescentar que, desde meu tempo de moço, de mocinho até, me pareceu que a vida era muito mais interessante de observar, de analisar, do que esses meios de diversão. Por isso, eu me empenho muito em ser observador da vida, dos homens e das coisas. Isso tudo me parece muito mais interessante do que o cinema, o teatro etc.
R.: Como o Sr. vê a velhice?
PCO – Como ela é: uma preparação próxima para o Juízo de Deus. Encanecendo, o homem vai-se preparando para ser julgado por Deus. E para isso estou-me preparando eu.
R.: E a ecologia, o que pensar dela?
PCO – Que é uma palavra elástica, com significados variáveis e quase todos reprováveis.
R.: E as drogas?
PCO – Constituem um dos maiores flagelos da humanidade contemporânea.
R.: E da superstição?
PCO – Como católico apostólico romano, não as tenho. Não tenho superstição alguma.
R.: E quem o Sr. acha que seja uma personalidade mundial?
PCO – Infelizmente eu devo dizer que o mundo contemporâneo está terrivelmente vazio de personalidades mundiais.
R.: E do Brasil?
PCO – Lamento, mas está inteiramente nessa linha.
R.: E gaúcha?
PCO – Eu acho que toda a federação brasileira, está nesse caso. Está o Rio Grande do Sul, como está São Paulo, como estão todas as unidades da federação.
R.: O que o Sr. acha do governo Collor?
PCO – Face a ele, me inscrevo na maioria dos perplexos e apreensivos.
R.: O que pensar da violência?
PCO – Sou contrário a toda e qualquer violência que não seja conforme a lei.
R.: E o problema da moradia?
PCO – Deve-se fazer uma distinção entre a moradia urbana e a moradia rural. Quanto à moradia rural, eu creio que a Reforma Agrária não faz senão agravá-la. A revista da TFP, “Catolicismo”, tem publicado várias reportagens, muito bem documentadas, a respeito da favelização de áreas em que se têm aplicado, no Brasil, a Reforma Agrária.
Entre outros elementos de desagregação agrária que esta reforma produz, a revista da TFP tem indicado claramente as péssimas condições de moradia dos trabalhadores agro-reformados.
Quanto à moradia urbana, sou de opinião que a pretensa reforma urbana, da qual, graças a Deus, no momento se fala menos, também não fará senão agravar esse mal. Porque na medida em que o Estado mete a mão no problema da moradia, nessa medida o problema se acentua ao infinito. Basta notar o desastre das leis de inquilinato no Brasil. A tal ponto que, hoje em dia, a lei de inquilinato é muito menos exigente do que o foi durante a II Guerra Mundial.
R.: O que o Sr. pensa da pena de morte?
PCO – Sou a favor dela, desde que regulamentada por uma lei ordinária judiciosa e prudente.
R.: E do aborto, Dr. Plinio?
PCO – Sou absolutamente contrário a ele. Aliás, de acordo com a doutrina católica.
R.: O que o Sr. mais admira nas pessoas?
PCO – A coerência na fé católica.
R.: Dr. Plinio, conte-nos um fato pitoresco de sua vida.
PCO – O que me ocorre no momento é um fato acontecido ainda na minha infância. Eu tinha talvez uns quatro ou cinco anos, quando os meus pais foram passar uma temporada de lazer no Rio de Janeiro. E ali foram cumprir o dever de família de visitar o tio de meu pai, que era o Conselheiro João Alfredo do qual já falei nessas declarações.
João Alfredo tinha, nessa ocasião, 84 anos. Estava coberto de todas as glórias que lhe provinham da libertação dos escravos. Era um personagem nacional, reputado além do mais por sua grande inteligência. Meus pais me explicaram isso, que eu assimilei tanto quanto podia. Esperava encontrar diante de mim um grande homem.
Mas, quando cheguei ao escritório dele, que ficava no andar superior de sua residência, encontrei com surpresa um ancião. Ancião tão velho que tinha três anos a mais do que tenho eu hoje. Encontrei um ancião vivo, inteligente, mas que me deu uma primeira surpresa, porque ele quis escrever um cartãozinho com umas palavras para mim e, para isso, pôs sucessivamente três óculos, uns juntos aos outros no nariz… Era porque o venerando conselheiro estava com certeza com a vista muito gasta. Mas eu nunca tinha visto uma pessoa de três óculos; fiquei muito surpreso.
Enquanto os meus pais conversavam com o conselheiro sobre outros assuntos, eu andei passeando pela sala, onde me acompanhava o olhar afetuoso e apreensivo de minha mãe, receosa de que eu me saísse com algum dos muitos ditos inesperados de que eu era useiro e vezeiro. Em certo momento, eu parei junto a uma estante giratória que tinha no alto um monumentozinho de ouro, com um homem onde se via um brilhante posto no peito. Olhei para aquilo e não entendi quem seria …
E interrompi a prosa do conselheiro – primeira extravagância e infração às boas regras – e perguntei-lhe quem era aquele homem. O conselheiro, com aquela afabilidade que o caracterizava disse: “Meu filho, é seu tio!” Eu puxei um profundo suspiro e disse: “Ah! Mas não parece mais…” Isso acentuava a velhice do grande estadista.
Ele respondeu: “Meu filho, um dia você passará por lá também…” Não estou longe disso…
R.: A bebida preferida do Sr.? E o prato preferido?
PCO – Champanhe francesa e gim tônica, de boa qualidade, inglesa.
R.: Os pratos preferidos?
PCO – São muitos. Entre eles, eu menciono com galhardia: vatapá, cuscuz e cozido. Precisaria dizer que também merece colocação aí um muito bom churrasco, quando ele é do Rio Grande do Sul.
(*) Referência ao título que a Plinio Corrêa de Oliveira deu o Prof. Roberto De Mattei em sua avalizada biografia do ilustre homem de ação, “O Cruzado do Século XX – Plinio Corrêa de Oliveira”, editada em 1996. |