Plinio Corrêa de Oliveira

 

Santo Edelberto, Rei

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 23 de fevereiro de 1966

 

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Santo Edelberto [552-616], rei de Kent [Inglaterra], recebe Santo Agostinho de Canterbury [534-604] e seus missionários enviados pelo Papa São Gregório Magno [540-604]

Santo Edelberto, primeiro rei cristão dos ingleses, a respeito do qual Rohrbacher escreveu o seguinte:

“Em 596, o Papa São Gregório Magno enviou, sob a chefia de Santo Agostinho de Canterbury, um grupo de missionários à Inglaterra, então pagã. Aportando à ilha, os apóstolos fizeram saber ao rei Edelberto de sua chegada, e que lhes traziam uma mensagem de vida eterna. O soberano, que por intermédio de sua esposa já ouvira falar da religião católica, prometeu recebê-los numa entrevista pública. Os monges chegaram em procissão, trazendo como estandarte uma cruz de prata e a imagem do Salvador pintado num quadro, entoando litanias a Deus em prol da salvação deles e do povo pelo qual lá haviam aportado. Mandou o soberano que se sentassem e eles começaram a lhe anunciar o Evangelho.

“Respondeu Edelberto: As vossas palavras e promessas são belíssimas. Mas por serem novas e incertas, não me é dado aquiescer e deixar o que tenho observado há tão longo tempo com a nação dos ingleses. Todavia, como vieste de longe e como se me afigura perceber que desejais participar-me aquilo que julgais ser mais verdadeiro e melhor, em vez de vos pôr obstáculo, vos recebemos bem e vos damos o que é necessário à vossa subsistência. Não vos impediremos de atrair para vossa religião todos quantos puderdes persuadir.

“Cedeu-lhe, então, um abrigo na ilha que receberia, no futuro, o nome de Cantuária. Algum tempo depois, impressionado com o exemplo dos monges e com sua doutrina, o rei converteu-se e foi batizado. E dos vinte anos em que ainda viveu, dedicou-os à propagação da fé entre seus súditos, apoiado e exortado pelo pontífice Gregório Magno. Protegeu os cristãos, levantou templos, fez leis admiradas e imitadas durante séculos, aplicou-se também à conversão dos príncipes vizinhos e conduziu dois deles ao cristianismo. Faleceu Santo Edelberto em 606(?). Seu exemplo frutificou, pois nunca nação alguma deu à Igreja tantos reis santos quanto a Inglaterra.”

*     *    *

Aqui são duas grandes figuras de fundadores de Idade Média. Vemos o contato de um grande missionário, que é Santo Agostinho de Cantuária com um grande rei fundador que é Santo Edelberto. Digo que ele é fundador porque a Inglaterra anterior à conversão não passava se não de um amontoado de bárbaros pagãos. Não havia uma civilização inglesa e não havia uma Inglaterra propriamente dita. O que havia apenas era os germens da futura Inglaterra que, em contato com Santo Agostinho, floresceram e deram na Inglaterra posterior.

A solenidade aqui descrita é verdadeiramente uma maravilha! A gente pode imaginar aquele rei e aqueles guerreiros semibárbaros ainda colocados numa floresta, por exemplo, e numa clareira. Veem ao longe, cantando, Santo Agostinho com os seus seguidores, os monges; entram numa clareira onde todos se sentam e começa então a conversa. Pode-se imaginar o coração de Santo Edelberto tocado pela ação da graça de Santo Agostinho desde o começo. O santo Rei fala e dá a Santo Agostinho uma liberdade de movimentos e de palavras, dizendo: Eu quero estudar isso melhor...

Mas já se vê uma simpatia, porque promete abrigo, agradece o fato de virem de tão longe, concede-lhes liberdade para levar para a religião de Santo Agostinho a quantos queiram. Quer dizer, o rei toma, em relação ao Santo, um primeiro movimento de alma - já no início -, em relação àquela verdade cujo precônio estava ouvindo naquele momento.

Assim, Santo Agostinho instaurou ali a religião e o rei não só aderiu inteiramente depois do devido exame da matéria, porque se vê que era homem consciencioso, que examinaria bem as coisas, mas depois disso feito, até ainda levou para a religião católica outros reis vizinhos. O que prova bem como realmente era apenas o primeiro passo aquela liberdade que ele deu. 

Com efeito, quem toma contato com a religião católica, movido pela graça, tem logo a possibilidade de vislumbrar - não quero dizer de ter certeza absoluta - que se trata da religião verdadeira. E então todo movimento naquela direção é bom.

Assim, essas condescendências são sempre manifestações de simpatia boa quando é para o bem; simpatia má quando é para o mal. E há um bem objetivo e um mal objetivo, uma verdade objetiva e um erro objetivo, porque é claro qual é a religião verdadeira e qual a falsa. Daí decorre exatamente o lado verdadeiramente errado do ecumenismo.


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