Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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1º de setembro de 1974

"Détente..."

Proporciono hoje aos leitores mais alguns documentos próprios a conservá-los na posição de Resistência à distensão de S.S. o Papa Paulo VI com os regimes comunistas.

Cito aqui um trecho de ilustre Arcebispo, já então com um passado intimamente ligado ao mais alto governo da Igreja universal. Discorrendo sobre a oposição desenvolvida pelos católicos contra o comunismo atrás da cortina de ferro, teve ele as seguintes expressões:

"E se os opressores (comunistas) encontram um obstáculo invencível à afirmação absoluta de suas idéias, na presença organizada da Igreja Católica, não é porque esta seja inimiga do homem e da sociedade e nociva ao verdadeiro progresso e ao bem comum, mas porque o são às idéias deles (isto é, dos opressores).

"O drama parece tão ilógico e tão grande, que alguma outra misteriosa causa está em jogo: o ‘poder das trevas’. (...)

"Compete-nos recordar este drama (da perseguição religiosa atrás da cortina de ferro), que está tendo terrível desenvolvimento. Nosso tempo apenas o vislumbra; não é propenso a participar de sua paixão, não gosta de pronunciar-se por demais abertamente em favor das vítimas, nem de fixar a opinião pública na tonificante recordação dele".

Quão verdadeiras, quão impressionantes, quão atuais são estas palavras.

Entretanto, datam elas de 1959. Seu autor é Mons. João Batista Montini, então Arcebispo de Milão ("La gloria del martírio”, alocução na Igreja dos Santos Apóstolos e São Nazario, Milão, em 29 de junho).

Que modificação terá ocorrido atrás da cortina de ferro para que a linha de Paulo VI em relação aos regimes comunistas destoe tanto da de Mons. Montini?

Não o sabemos. Ninguém o sabe. Enigma...

* * *

Já tive ocasião de me referir, nesta coluna, a S. Excia. Mons. Boza Masvidal, o valoroso Bispo cubano expulso de sua pátria sob a ameaça de metralhadoras, e residente hoje na Venezuela.

O Prelado concedeu uma importante entrevista a "Catolicismo", o prestigioso mensário de cultura que se publica em Campos sob os auspícios do ilustre Bispo Diocesano, D. Antônio de Castro Mayer.

Nessa entrevista, de uma atualidade flagrante, Mons. Boza Masvidal descreve de um modo impressionante todo o martírio que vai sofrendo a Igreja em sua pobre Pátria.

Em dado momento, o representante de "Catolicismo" lhe perguntou como considera a política de conciliação com o regime comunista cubano, levada a efeito pelo Exmo. Mons. Cesare Zacchi, recentemente promovido de Encarregado de Negócios a Núncio pelo Papa Paulo VI.

O Prelado cubano respondeu nos seguintes termos: "Não compartilho a atitude de Mons. Cesare Zacchi, Encarregado da Nunciatura em Havana, por ser uma atitude de defesa do regime e de compromisso com o mesmo. Hoje que a Igreja quer em toda parte ter as mãos livres para cumprir a sua missão sem liames humanos, é inexplicável esse compromisso com um regime violador de todos os direitos e opressor da pessoa humana".

Se bem que as palavras de S. Excia. se referissem exclusivamente à atitude do Núncio Apostólico, é impossível não ver que os conceitos nela contidos se relacionam com o próprio Vaticano, de cujas diretrizes Mons. Zacchi é – pela natureza do cargo – um executor.

 

Cardeal Štěpán Trochta (1905-1974)

Muito importante é uma carta enviada ao Santo Padre e publicada a 8 de maio passado pela agência noticiosa FCI de Londres. O autor da missiva é o sacerdote Jesef Novotny, encarregado da missão católica livre de Viena. Através de canais subterrâneos, recebeu ele um relatório sobre os fatos que conduziram ao falecimento repentino do Cardeal Trochta, Arcebispo de Praga.

O Purpurado se achava em delicadas condições de saúde. E disto sabia o Secretário para Assuntos Religiosos do governo comunista checoslovaco. Apesar disto, ou por isto, o funcionário se apresentou na residência cardinalícia e exigiu ser recebido imediatamente pelo ilustre enfermo. Entre este último e seu "visitante", que estava bêbado e falava aos gritos, engajou-se uma conversa que teve a duração de seis horas.

No decurso dela, o Secretário para Assuntos Religiosos sujeitou o Cardeal a severo interrogatório, e a processos de tortura psicológica. Na manhã seguinte, o Purpurado sofreu um ataque de apoplexia, e à tarde faleceu.

O fato criminoso, próprio a suscitar a indignação universal, passou na surdina.

Détente...

Nota: Os negritos são deste site.