Catolicismo, N° 464, Agosto de 1989, pág. 26 (www.catolicismo.com.br)

 

Moderados tendem a favorecer a esquerda

 

SANTIAGO — Uma substanciosa análise do panorama político chile­no, com vistas ao pleito presidencial de dezembro próximo, foi dada a públi­co pela Sociedade Chile­na de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, através de manifesto no jornal "El Mercúrio", desta Capital. O documen­to demonstra que, sob os efeitos de uma propagan­da pseudo-centrista, o pa­ís vai de fato resvalando rumo a uma esquerdiza­ção. Abrindo-se assim campo para o reapareci­mento de um novo Ke­rensky que, na trilha do falecido democrata-cristão Eduardo Frei, prepare ter­reno para um outro Salva­dor Allende.

Ressalta a TFP: embo­ra o anticomunismo mili­tante se faça presente na platéia (ou seja, entre os eleitores) o mesmo não ocorre no palco político, onde numerosos dirigen­tes não-socialistas empe­nham-se em diluir suas posições ideológicas, pa­ra se mostrarem o mais centristas possíveis. Mani­festam eles uma espécie de respeito humano, pelo qual tomam habitualmen­te ares pragmáticos, sem jamais declarar-se a favor de princípios definidos. Entre outras razões, leva-os a isso o mito habilmen­te divulgado de que as maiorias são esquerdistas.

Na realidade, a maio­ria do povo chileno rejei­ta a esquerdização, e mes­mo entre os 54% de eleito­res que no plebiscito de outubro último votaram pelo "não" à permanên­cia de Pinochet, encontra-se uma ponderável parce­la decididamente contrária ao socialismo e ao comu­nismo. Apenas considera­ram eles pouco convenien­te outorgar um mandato de mais oito anos a Pino­chet, no atual contexto de pressão internacional e eclesiástica pró-esquerda.

O manifesto da TFP cita ainda, para fundamen­tar sua assertiva quanto à inconsistência do esquer­dismo junto ao público chileno, recente entrevis­ta do conhecido sociólo­go neo-socialista francês Alain Touraine, reconhe­cendo o êxito econômico alcançado no Chile e não descartando uma vitória direitista nas próximas elei­ções.

O documento aponta por fim a analogia entre a índole da Democracia Cristã chilena — partido que se apresenta como cen­trista por excelência — e a facção dos Girondinos, da Revolução Francesa. Em 1791, os deputados majoritariamente prove­nientes da província da Gironda constituíram uma força revolucionária mode­rada, de burgueses favorá­veis à extinção incruenta do Antigo Regime. Após a Assembléia de outubro de 1791, ingenuamente imaginaram eles que a Re­volução estava encerrada. De fato, ela se desdobra­ria na etapa jacobina, que chegou a ter aspectos co­munistas durante o Terror, em 1794.

Dessa forma, os giron­dinos passaram a ser sím­bolo de todas as correntes ideológicas centro-esquer­distas, tributárias das ex­tremas esquerdas, às quais aparentemente combatem, mas secretamente admi­ram. A situação se repetiu em 1917, na Rússia, onde a queda do czarismo se deveu à ação de uma bur­guesia com espírito giron­dino, que favoreceu a as­censão do socialista Ke­rensky, o qual, por sua vez, entregou o poder ao comunista Lenine.