Brasil e Espanha

 

"O Legionário" Nº 208, 6 de setembro de 1936

 

As recentes homenagens prestadas à memória do Duque de Caxias, chamaram a atenção de todos os brasileiros, para o problema que, entre nós, constituem as classes armadas. E, aproveitando a ocasião, é oportuno comparar nossa situação militar com a da Espanha.

O líder católico espanhol Gil Robles, quando em visita ao governo de Burgos, foi interpelado pela imprensa a respeito de sua posição perante a luta armada de que sua pátria é teatro. E sua resposta é esta: estou com o governo de Burgos, porque com ele está a Espanha tradicional e católica.

Realmente, há hoje duas Espanhas. Uma a Espanha autêntica, aquela que descende do Cid, de Isabel a Católica, de Colombo, de Filipe II; a Espanha de Santa Teresa, Santo Inácio e São Domingos; a Espanha dos soberbos castelos, das suntuosas catedrais, das grandes universidades. A outra, uma Espanha que mereceria propriamente o nome de anti-Espanha: um grupo de espanhóis que querem desfigurar sua pátria, arrancando-lhe do patrimônio moral todas as tradições, mutilando-lhe a gloriosa e tradicional fisionomia. A Espanha era católica, e querem-na atéia. Era cavalheiresca, aristocrática, saturada de "hidalguia" até nos seus últimos recantos, e querem-na plebéia, vulgar, suja e feia como a camisa suarenta e furada de um estivador. A Espanha era, intelectualmente, "rafinée", com uma cultura fortemente impregnada de caráter nacional pela formação das famosas universidades criadas pelos séculos que nos precederam; e eles querem a destruição dessas universidades, para substituí-las por estabelecimentos de ensino anódinos, internacionais e sovietizados, tão banais e tão sem fisionomia quanto um guichê da Agência Kook de turistas.

Acontece que, antes das últimas eleições, um trabalho insidioso se fez em toda a população. Por meio de um proselitismo astuto e capcioso, os comunistas conseguiram formar, por toda a parte, pequenos grupos de agitadores, desejosos de subverter inteiramente as instituições espanholas. Somados, os comunistas não constituiriam nem sequer a décima parte da população. Mas a sua audácia, segundo esperavam os chefes, venceria finalmente a inércia dos burgueses, e lhes imporia o jugo vermelho do marxismo. E foi o que aconteceu.

Qual foi, contra essa agressão insólita de um grupo de malfeitores, o nervo da reação? Foi o exército espanhol. Sem ele, a Espanha seria hoje, uma província comunista, governada por Moscou. Mas o exército espanhol foi invencível. Nem o suborno, nem as ameaças, nem os sofismas, conseguiram debilitar sua fidelidade à Espanha e às suas tradições. Resistiram. E amanhã estarão vitoriosos.

* * *

No Brasil, infelizmente, também há duas grandes correntes, a corrente brasileira e a anti-brasileira. Na corrente brasileira, estão os que querem a conservação e o aperfeiçoamento do Brasil tradicional, católico, latino, tropical. E na corrente anti-brasileira está a horda que conspira contra as tradições, contra o Catolicismo, contra a latinidade - que deve ser substituída pelo eslavismo -, e contra as características locais de nossa civilização tropical, que devem ser substituídas pelas características (?) internacionais que o judeu Karl Marx quis imprimir a todos os povos da terra.

Novembro de 1935 mostrou que a camorra dos mal intencionados é grande. E as subseqüentes conspirações, tão numerosas quanto os dias que temos vivido de lá para cá, mostram que os agentes do comunismo não estão desarmados.

E agora perguntamos:

Qual será o nervo da reação? O que fará o Exército? Ele conta, certamente, com distintíssimos oficiais, com soldados profundamente amantes das tradições do Brasil católico. Mas estará esse elemento sadio precavido e coordenado para resistir a um assalto de uma minoria gangrenada?

O que será do Brasil se, na "hora H", ele não tiver ao seu lado o Exército e a Marinha, as milícias estaduais, etc.? Não é preciso ser muito inteligente, para responder: o destino do Brasil seria o da Espanha, se esta não tivesse contado com o apoio de suas forças armadas.

Mas é pouco falar. Cumpre agir. Os católicos, em 1934, conquistaram o direito de pregar o nome de Deus nos quartéis. Por que não se utilizam dele? Será possível que o privilégio de falar às forças armadas caiba exclusivamente aos partidários de Lenin?