Legionário, N.º 231, 14 de fevereiro de 1937

Ressurreição surpreendente

O fato predominante, no noticiário político dos últimos dias, é a ressurreição política dos cooperadores que o Sr. Getúlio Vargas teve no “período heróico” do governo discricionário oriundo da revolução de 1930. Entre 30 e 34, isto é, durante todo o tempo em que o Brasil viveu sem constituição e sem leis estáveis, atribuía-se imenso prestígio a umas tantas figuras inteiramente desconhecidas até 30, e que chegaram, depois, a fruir de tão alto poder que restauraram a velha prática portuguesa das capitanias, e dividiram o Brasil em vice-reinados e pequenos feudos (que, em lugar de capitanias, deveriam chamar “tenentias”) entregues aos pró-homens da Revolução.

Aos poucos, porém, não se sabe nem como nem porque, essa gente foi perdendo o prestígio. O vigoroso arranco de 32 acabou com esta situação. E todo o mundo estava certo de que os componentes do Club “3 de outubro” tinham caído em definitivo ostracismo político. O Sr. João Alberto foi viajar. O Sr. Oswaldo Aranha foi ser embaixador. O Sr. José Américo foi ser ministro do Tribunal de Contas. O Sr. Góes Monteiro abandonou a pasta da Guerra. O Sr. Pedro Ernesto acabou por ir à cadeia. O Sr. Juarez Távora sumiu. Do dilúvio, só se salvou o Sr. Juracy Magalhães.

Os entendidos da política afirmavam que o Sr. Getúlio Vargas tinha privado inteiramente os seus antigos companheiros do prestigio  que possuíam. E que, d'ora avante, os “tenentes” poderiam se dar por muito satisfeitos se lhes fosse concedido o direito de gozar pacatamente de alguma modesta pensão paga pelos cofres públicos, em qualquer empreguinho apagado.

No entanto, mal vem a público a questão da sucessão presidencial, o que vemos? O Sr. João Alberto volta. É incumbido de dirigir os esportes, e depois é nomeado Ministro Plenipotenciário de 1a classe. O Sr. Oswaldo Aranha vem ao Brasil. O Sr. Góes Monteiro readquire novo lustro. O Sr. José Américo começa novamente a ser cortejado. Muita gente pleiteia a soltura do Sr. Pedro Ernesto. Não tardará que apareça também o Sr. Juarez Távora. E, dentro em breve, o buliçoso Club “3 de outubro” começará, novamente, a trabalhar pela “mentalidade revolucionária” de pouco saudosa memória.

* * *

Enquanto se discute a sucessão presidencial, o processo dos comunistas de 35 se arrasta morosamente, e, pelas malhas das leis processuais, vão escapando peixes cada vez maiores e mais numerosos.

É cedo, talvez, para que digamos alguma coisa ao público sobre este assunto que, além de exceder imensamente em importância a sucessão presidencial, a ela se liga por laços estreitos.

O assunto excede em importância à sucessão porque, para o Brasil, é indiferente que seja governado por João, Pedro, ou José. O que é indispensável é que o homem que for eleito seja uma expressão dos sentimentos católicos de nossa gente, e não um joguete da III Internacional, algum Kerensky ou algum Azaña indígena, que nos vá entregar, de pés e mãos atados, à Aliança Libertadora.

Por isto mesmo, a questão da repressão ao comunismo se prende, para nós, muito intimamente à questão da sucessão.

Os católicos de descortínio não se deverão contentar com vagas declarações de sabor semi-cristão. Pelo contrário, só devem sufragar o ou os candidatos que apresentem reais garantias de que combaterão com uma inexorável inflexibilidade a propaganda comunista.

É preciso que se diga bem claramente, desde já, o seguinte: na situação que atravessamos, não figura em primeira plana, para nós, a concessão de algumas medidas administrativas ou legislativas favoráveis aos católicos.

O que queremos é que a hidra comunista seja combatida a fundo.

Para este ponto devem convergir todas as nossas preocupações.

Porque se descurarmos disto, e o comunismo devorar o Brasil, do que nos terá valido todo o resto?