Legionário, N.º 232, 21 de fevereiro de 1937

Um gesto monstruoso

Os jornais não deram atenção a um gesto monstruoso de que a Congregação da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro se tornou culpada. A Faculdade de Direito do Rio tem uma missão histórica de extraordinário relevo a cumprir. Como Faculdade de Direito, incumbe-lhe formar as diversas gerações de legisladores brasileiros que por ela vão passando sucessivamente. Como estabelecimento de ensino superior localizado na Capital Federal, incumbe-lhe um poderoso papel coordenador da mentalidade nacional. Dadas as eventuais tendências jurídicas díspares das diversas Faculdades brasileiras, a Faculdade do Rio deveria ser a mediadora, a unificadora a julgadora irrecorrível, que fixaria os rumos do pensamento jurídico nacional, sintetizando-o em uma poderosa unidade, escoimada de todo e qualquer ecletismo.

Infelizmente, porém, a Congregação da Faculdade de Direito do Rio apostatou dessa altíssima missão. Seus professores, reunidos em sessão da Congregação, resolveram manifestar seu contentamento pela soltura dos “intelectuais” presos depois da revolução de novembro de 1935. Cremos que a deliberação não foi unânime. Há, entre os Professores de Direito do Rio, muitos que estão profundamente identificados com as mais sadias correntes do pensamento nacional. Um deles, por exemplo, é o Prof. Alcebíades Delamare. Sem termos especial informação sobre o fato, garantimos que esse valoroso católico não deu e nunca dará sua adesão a uma deliberação desse jaez.

No entanto, o fato - o fato espantoso, o fato escandaloso - o fato inqualificável aí está: a Congregação da Faculdade, representada pela maioria de seus professores, se regozija com a soltura de comunistas que, do alto das próprias cátedras da Faculdade, pregavam no Brasil a revolução social.

Formadora de mentalidades, a Faculdade apostata assim de sua missão e trabalha para entregar ao Brasil gerações embebidas do espírito comunista, em lugar de manter a formação jurídica dos advogados brasileiros em harmonia com as tradições e as imperiosas exigências de nosso povo católico. Ela cria, portanto, uma cisão entre os legisladores futuros e o povo católico, que só poderá trazer para o Brasil as mais funestas conseqüências.

Coordenadora das tendências jurídicas do pensamento nacional, ela abdica de sua liderança intelectual, para se arvorar em cúmplice de uma corrente decididamente anti-nacional, contra a qual se choca e se chocará sempre o espírito jurídico dos brasileiros, que deve ser fundamentalmente católico.

No momento em que todas as forças vivas da nacionalidade continuam alertas, para fazer face a qualquer surto de comunismo, a Faculdade de Direito do Distrito Federal, provavelmente por imprevidência e por intoxicação liberal, se acumplicia, ainda que involuntariamente, com os piores inimigos do Brasil.

É doloroso.

* * *

Realmente, é doloroso.

No entanto, há coisas consoladoras que projetam abundante luz sobre esse espetáculo triste.

A reação já começa a desenhar-se. Há 30 anos atrás, os professores sustentavam, nas cátedras universitárias, doutrinas burguesas e conservadoras que eram, pelos alunos, consideradas tímidas e sem atualidade. Enquanto no alto das cátedras pontificava o espírito burguês, nos bancos dos alunos fervia o espírito socialista e revolucionário. O mundo caminhava velozmente para a esquerda. E os liberais procuravam detê-lo com breques de teia de aranha.

Hoje, felizmente, a situação está mudada. Do alto das cátedras vociferam ainda, freqüentemente, os últimos arautos do espírito revolucionário ou liberal. Mas nos bancos escolares sentam-se, muito freqüentemente também, defensores da ordem, cheios de juventude e de Fé, desejosos de esmagar, com o dulcíssimo peso da Cruz do Cristo, o liberalismo, o socialismo, o comunismo e outros “ismos” congêneres.

A própria Faculdade do Rio de Janeiro é teatro dessa renovação sadia que empolga todas as Universidades do Brasil. Conta ela com uma aguerrida legião de estudantes católicos que opõe à pregação dos comunistas uma resistência vitoriosa e invencível que, mais cedo ou mais tarde, há de prostrar por terra os adversários da Igreja.

Pode o presente estar em mãos de inimigos da Igreja. O futuro, a Providência divina o colocou em mãos de uma mocidade aguerrida piedosa que, robustecida pela Eucaristia, saberá remediar a cegueira, a imprevidência, a incoerência de tantos e tantos elementos exponenciais das gerações passadas. Não, positivamente não há razão para desanimar.