Legionário, N.º 244, 16 de maio de 1937

A Sucessão Presidencial

Há alguns meses atrás, publicamos um artigo de fundo em que manifestamos nosso receio de que a campanha da sucessão presidencial tomasse um aspecto exageradamente combativo. E apontamos os perigos que daí adviriam para a ordem social e para a unidade nacional.

Quando escrevemos aquele artigo, estavam ainda in ovo” as negociações políticas. Hoje, que elas se desenvolveram e enchem de rumor o País inteiro, vemos que, infelizmente, não eram infundados nossos receios.

A nota dominante da atual situação é a confusão. Aliás, costuma ser invariavelmente essa a nota dominante de todas as situações delicadas, desde que o atual Presidente da República está à testa dos destinos do País.

A bem dizer, não há mais no Brasil quadros políticos claramente definidos. No Rio Grande, o partido situacionista está cindido. A situação estadual é oposição federal. A oposição estadual é situacionista no cenário federal. E muitos dos amigos do Sr. Flores da Cunha são hoje seus adversários, bem como diversos de seus antigos adversários são hoje seus amigos.

O mesmo se dá em São Paulo. O P.R.P. sofreu uma rumorosa cisão. E, segundo nos afirmam elementos absolutamente bem informados, desde que o Governo Provisório suscitou uma candidatura paulista, não será esta a única cisão a se verificar em nossa política.

Minas está nas mãos de um governador que não passa de  instrumento do Governo Federal. A vida partidária e política naquele Estado está desorganizada e asfixiada. A invicta Bretanha brasileira está inerte e incapaz de fazer valer no terreno político sua força conservadora e moderadora.

A Bahia está caminhando por uma tangente sinuosa e insegura, entre a oposição e a situação. O partido oposicionista baiano não sabe bem se está a favor ou contra o governo de sua terra (!) porque o governo não sabe ou não diz se está a favor ou contra o candidato que a oposição baiana aceitou.

Pernambuco tem, no cenário federal, dois representantes, o Sr. Lima Cavalcanti e o Sr. Agamenon Magalhães. Ambos foram acusados de serem comunistas. E, ao que parece, os acusadores de ambos não estavam inteiramente sem razão. O Srs. Cavalcanti e Agamenon se entredevoram. E a política pernambucana está reduzida a um caos.

Isto tudo se dá nos maiores Estados do Brasil, e se repete, com variantes mais ou menos intensas, nas demais unidades da Federação.

* * *

Não é sem um vivo sentimento de repugnância que o jornalista católico desce a esta cozinha pouco limpa e mal arejada e mal iluminada. Mas é preciso que os católicos vejam o  que se passa, para que  percebam o perigo que estão correndo.

Somos de opinião que os partidos políticos foram a desgraça para o Brasil. Nenhum vínculo a eles nos prende. Sobre sua sepultura, nunca cantaríamos um hino de pesar, mas sim um festivo Alleluia”.

Entretanto, somos forçados a reconhecer que, no momento que passa, a desagregação dos partidos políticos constitui um mal. A desorganização de nossa política só pode aproveitar, no momento, aos comunistas, sinistros pescadores de águas turvas, que tem lucros inapreciáveis na exploração da cegueira e de imediatismo dos políticos liberais postos em apuros.

Atrás de toda esta confusão, entreabre-se a perspectiva de uma derrogação da Constituição vigente. Esta derrogação não teria por efeito instaurar um regime de autoridade, mas um regime idêntico ao que conhecemos até 1933, em que o poder discricionário se aliava a um método de governo todo feito de recuos, de transações, de defecções e de fraquezas.

Se fizermos o balanço da vida brasileira entre 30 e 33, deveremos reconhecer que os únicos a lucrar foram os comunistas.

Portanto, se se restaurar o estado de coisas que precedeu à Constituição de 34, os lucros pertencerão novamente aos [inimigos da Civilização cristã].

Querem isto os católicos?

Ou estão dispostos a lançar mãos de todos os meios lícitos e legais, para evitar que isto se dê?