Legionário, N.o 246, 30 de maio de 1937

7 DIAS EM REVISTA

Impressionou agradavelmente a todos os católicos a visita que o Ex.mo Sr. Governador do Estado fez a S. Ex.a Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano.

Já vão longe os tempos em que um laicismo agressivo e impolido mantinha as autoridades civis distantes das eclesiásticas, numa atitude de indiferença que mal disfarçava uma hostilidade surda.

Aos poucos, no terreno do protocolo e das gentilezas, as tradições de laicismo vão sendo varridas de nossa política, e a atitude do Poder Temporal se vai tornando cada vez mais correta em relação ao Poder Espiritual.

Manda a Justiça, entretanto, que se assinale que o gesto do atual governador não é comum.

Muitos foram os antecessores de S. Ex.a que nunca puseram os pés no Palácio São Luiz. E não é preciso procurar em um passado de muitos anos, para encontrar um deles.

Ora, os católicos não podem deixar de ser sensíveis a tudo isto. Porque tudo que se relaciona com a figura máxima da Arquidiocese repercute diretamente no âmago de nossos corações.

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Em um discurso dirigido à mocidade do Império Britânico, o deão protestante de Canterbury, que ainda recentemente elogiou os comunistas espanhóis, disse o seguinte:

“Deveis estar prontos a defender três grandes causas: as da liberdade, da justiça e da paz. A liberdade é a vossa herança”.

Na boca de um protestante de tendências comunistas, bem se sabe o que significa essa linguagem. Liberdade se identifica com anarquia. Justiça significa a eliminação de toda a hierarquia social. E paz não é senão a fraternidade da revolução francesa.

Em nome de quem são pregadas essas idéias demolidoras? Em nome do Cristo. Por que? Porque o livre exame torna fáceis as mais monstruosas deturpações de sua doutrina.

E ainda há quem suponha que um vago cristianismo, que não seja explicitamente católico, pode servir de solução para o Brasil!

Certos católicos alemães estão pagando muito caro esta ingenuidade.

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Um telegrama de Berlim informou-nos que o embaixador do Reich junto à Santa Sé está para ser substituído por motivos de idade, e que se cogita da escolha de um sucessor protestante porque, “de acordo com a tradição diplomática, o representante da Alemanha junto ao Vaticano é quase sempre um protestante”.

Esta “tradição” impede aos milhões e milhões de católicos alemães que tenham um representante de sua confiança junto ao Santo Padre. Cria, pois, um profundo constrangimento para eles. Mas esse constrangimento em nada perturba o “liberalismo” protestante.

Para os protestantes, o liberalismo religioso só serve em uma categoria de países: os países católicos.

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Um telegrama da Agência Havas informa que, na grande parada naval realizada recentemente na Inglaterra, todos os Almirantes Britânicos e estrangeiros compareceram trajando vistosos uniformes de gala, em homenagem ao Rei, “exceto os representantes da Marinha Soviética, sobre cujo uniforme escuro austero, viam-se as insígnias distintivas dos postos”.

“Austero” por que? Será possível que, para a Agência Havas, as noções de “impolido”, “plebeu”, “deselegante” sejam sinônimas de “austero”?

É com pequenas coisas deste jaez que se envenena a alma de um povo. O leitor desatento fixa no espírito essa noção de “austeridade”. E passará a achar, embora subconscientemente, que tudo quanto não se enquadrar na plebeidade bolchevista não é austero. Por exemplo, o Papa, no esplendor de sua Corte.

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É escandalosa a hipocrisia das folhas nazistas que quiseram impor ao Vaticano que fizesse calar o Cardeal Arcebispo de Chicago que criticou ao “Füehrer”.

Para ter o direito de fazer tal pedido seria preciso que, em primeiro lugar, o “Füehrer” fizesse calar as inúmeras folhas que circulam na Alemanha, sob a inspiração do Partido Oficial, atirando contra a Santa Sé as injúrias mais baixas e as mais rasteiras calúnias.

Aos modernos hitleristas (...) aplica-se de cheio a condenação do Mestre Divino: enxergam o argueiro no olho do próximo, e não vêem a trave que está no seu próprio olho.

Isto, supondo-se “argumentandi gratia, que o Cardeal Mundelein realmente se tenha excedido, o que contestamos.

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Um comunicado oficial do Governo alemão noticia que foi fechado o Seminário de Fulda pela falta de moralidade de seus alunos.

Moralidade? Mas quem quer falar em moralidade? O homem para quem a palavra de honra empenhada ao pé de tratados internacionais solenes não tem valor?

É este homem que vem caluniar um grupo de rapazes que se segregara das delícias do mundo para se preparar para o serviço de Deus?

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Da nossa Câmara dos Deputados nos chega uma notícia deliciosamente cômica: foi solicitada a abertura de um crédito de 2.500 contos para a instalação do funcionalismo necessário para a fixação do salário mínimo.

Dois mil e quinhentos contos! Isto não é remuneração para salário mínimo, mas para salário máximo!

É com esta seriedade que se tratam no Brasil as questões sociais, nos círculos parlamentares.

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Na “Ofensiva” do dia 18 p.p., o Sr. Custódio de Viveiros afirma que a plataforma do Sr. Armando de Salles Oliveira e a do Sr. Plínio Salgado defendem ambas a “liberdade absoluta de religião”.

Se isto é assim, a que título os integralistas querem monopolizar o apoio político de todos os católicos na destruição da ordem de coisas vigentes? (...)

Mas para que substituir a esta ordem de coisa o Integralismo, se este está de acordo com a política religiosa dos liberais?