Legionário, N.o 490, 1º de fevereiro de 1942

O CENTRO DO MUNDO

Uma tendência de sabor acentuadamente totalitário, que se nota nas previsões sobre o mundo de pós-guerra feitas por partidários das democracias, consiste na formação de grandes blocos de países, organizados sobre base simultaneamente federal e racial. Assim, por exemplo, todos os povos de idioma inglês poderiam constituir uma grande federação - trata-se de uma federação no sentido próprio e exato do termo, e não de simples aliança ofensiva e defensiva - que abrangeria também os Estados Unidos.

Este desígnio político pareceu em certos círculos britânicos tão viável, que uma associação inglesa chegou a dirigir uma formal petição neste sentido ao governo Churchill. Por outro lado, os povos amarelos, os povos ibero-americanos, etc., etc., constituiriam, por sua vez, grandes super-estados que, sem absorver inteiramente as nações de que se constituíssem, teriam ao menos uma consistência e uma autoridade provavelmente maiores que o império britânico em relação aos múltiplos povos que abrange.

É bem de se ver que estas tendências não apresentam qualquer diferença substancial em relação ao projeto de federação do continente europeu sob a égide do Sr. Hitler. Apenas, haveria talvez, à sombra do nazismo, maior dependência e mais sentido de centralização. Quanto ao caráter racial destas vastas federações, representaria ele a vitória, no campo anti-nazista, do princípio advogado pelo Sr. Hitler quando afirmava que, de direito, todos os povos alemães minoritários deveriam estar na dependência do III Reich.

Em um como noutro caso, o princípio é o mesmo: os povos de mesma raça e mesma língua, sejam quais forem as barreiras entre eles levantadas pela tradição, pela formação histórica, pelos pendores culturais, pelos acidentes geográficos e até pelas discrepâncias religiosas, devem ter um só e mesmo governo. Isto implica em afirmar, em outros termos, que de todas as influências religiosas, morais, culturais e psicológicas, nenhuma tem valor e peso equiparável às influências sociais. Daí para a afirmação do predomínio do biológico sobre o psicológico, do racial sobre o espiritual, a distância é mínima. E chegados a estas zonas doutrinárias, teremos ingressado francamente na esfera ideológica do Sr. Alfredo Rosenberg, o truculento filósofo pagão e materialista, universalmente reconhecido como o mais autêntico inspirador da doutrina neo-pagã e racista do III Reich.

Em nosso último artigo, mostramos que a História é rica em fatos que provam ser, por vezes, tão terrível o poder de expansão do erro que ele se incidia entre as hostes de seus próprios vencedores, e se propaga, às vezes, nas dobras dos estandartes que se ergueram para o combater.

Assim, a Santa Aliança, evidentemente planejada para combater o liberalismo, pressupunha o princípio da igualdade entre as religiões católica, cismática e protestante; e com isso arvorou o liberalismo no terreno onde mais nocivo e satânico ele é, isto é, em matéria religiosa.

Da mesma maneira o Congresso de Viena, reunido para coordenar os esforços de todas as monarquias contra a hidra satânica da Revolução, aboliu o organismo naturalmente indicado para tão santa tarefa, e ao decretar a extinção do Sacro Império Romano Alemão consumou, involuntariamente, uma grande vitória revolucionária! Fato típico: o único voto discordante foi do núncio apostólico junto ao Congresso.

É razoável que receamos para o mundo a suprema desgraça de ver que os povos anti-totalitários, vencendo o nazismo, realizassem ao menos em grande parte os ideais dele. E, portanto, queremos indicar o perigo para que saibam evitá-lo aqueles que não poupam sangue, ouro e dinamite para expurgar do mundo o fantasma sombrio do totalitarismo.

No nosso próximo artigo contamos mostrar que:

1 - a formação de vastos blocos super-nacionais só agrava os inconvenientes da desastrosa "política de equilíbrio".

2 - que se esses blocos não significarem a supressão da autonomia dos países a eles filiados, terão todos os inconvenientes e toda a debilidade da pouco saudosa Liga das Nações;

3 - que, se pelo contrário, a cometerem a supressão de tal autonomia, se afastarão da sabedoria política das tradições internacionais católicas, que se gloria da independência fecunda das pequenas nações e não se acumplicia com o sacrifício delas em holocausto aos grandes molochs políticos;

4 - que a paz não pode resultar destas alquimias enganadoras, mas somente do amor entre os povos. Este amor só vem de Deus; o amor de Deus só o conhece quem adora a Jesus Cristo; só adora devidamente a Jesus Cristo quem está no grêmio da Igreja Católica Apostólica Romana, e só está com a Igreja quem está com o Papa. Quer queiram, quer não, o centro de gravidade do mundo é o Vaticano, e enquanto sobre ele não se apoiarem, cambalearão de desatino em desatino, rolarão de abismo em abismo, até que resolvam voltar à paz dulcíssima da mansão paterna!