Legionário, N.º 519, 23 de agosto de 1942

Os Discursos de Domingo

Não podemos passar sem um atento comentário aos discursos pronunciados, na magnífica noite de triunfo mariano, de domingo p.p., por S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano e pelo Ex.mo. Sr. Ministro da Agricultura. Tanto em um quanto em outro encontramos considerações da mais alta atualidade que é de nossa obrigação por em relevo.

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Empolgado certamente pela magnificência sem precedentes com que o povo católico de São Paulo prestava homenagem a Nossa Senhora Aparecida na esplêndida glorificação que lhe preparou no vale do Anhangabaú, o Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano pronunciou de improviso uma importantíssima alocução, que impôs a São Paulo graves responsabilidades.

Com efeito, as palavras do Ex.mo Sr. D. José Gaspar de Afonseca e Silva constituíram um verdadeiro voto de confiança no entusiasmo, na generosidade e no fervor do povo paulista, e a este cumpre, agora, corresponder-lhe com exatidão e brio.

Enumerando as diversas dificuldades que circundam a realização do próximo Congresso Eucarístico, é de se notar que o Sr. Arcebispo não procurou contestá-las, nem contrabalançar seu efeito pela perspectiva de modificações que venha a suprimi-las. Não, S. Ex.a Rev.ma quis pelo contrário deixar bem claro que o Congresso exigirá eventualmente, de nossa parte, sacrifícios, manifestando ao mesmo tempo sua inabalável confiança na jovial energia com que os saberemos vencer.

Estamos, pois, na obrigação de demonstrar a todo o Brasil que, com efeito, nossa dedicação não é menor do que a confiança que nela deposita a Santa Igreja.

Todas as razões nos devem levar a tal.

Em primeiro lugar, cumpre reconhecer que o que de nós se pedirá é só o inevitável. Tudo quanto poderá ser feito no sentido de facilitar o acesso ao Congresso, e a participação em suas sessões, foi levado a cabo pelas Autoridades Eclesiásticas. Assim, não podemos encontrar escusas em nosso comodismo.

Em segundo lugar, importa reconhecer que Nosso Senhor Sacramentado merece de nós, como de todas as gerações de fiéis que nos precederam ou que nos sucederem, o maior heroísmo. Como recusar-lhes, então os pequenos sacrifícios que o Congresso talvez exija de nós?

Finalmente, é preciso não perdermos de vista que os princípios e as tradições de verdadeira piedade católica pedem absolutamente não apenas preces e esmolas, mas o tributo da expiação, para que Nosso Senhor Sacramentado Se aplaque, ante os pecados da humanidade, nas grandes ocasiões de sofrimento e de luta. Se Nosso Senhor permitiu, pois, que certos entraves de caráter material venham a tornar difícil nossa participação nas sessões do Congresso. Ele nos deu, implicitamente, uma oportunidade sem igual para perfumarmos nossas preces com o insubstituível perfume da penitência, de tão bom odor diante do trono de Deus.

Mas não basta que nos disponhamos a tal. Cada um de nós deve ser um propagandista do Congresso, e essa propaganda se faz não apenas por meio de farto material para isso preparado pela Junta Executiva, mas pela ação individual de cada um de nós no ambiente em que vivemos a fim de criar em relação ao Congresso um ambiente de entusiasmo sempre maior e, em relação aos pequenos sacrifícios que ele vai exigir, o projeto cada vez mais deliberado, mais consciente e mais sobrenaturalizado, de viver com entusiasmo esses sacrifícios.

São Paulo se caracterizou sempre por uma fibra particularmente rija, uma disposição especial para a luta, uma aptidão particular para vencer obstáculos. Melhor ocasião não se poderia encontrar para por em evidência, sobrenaturalizando-se, essas qualidades providenciais.

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Quanto à oração do Ex.mo Sr. Ministro da Agricultura, Dr. Apolônio Sales, denotou em seu conjunto uma piedade vivaz e desassombrada, e teve tópicos verdadeiramente magistrais.

Lamentamos que, de peça tão notável, a imprensa diária tenha dado apenas um resumo. Com efeito, há sobretudo uma declaração de S. Ex.a, que para nós, da Ação Católica e das organizações auxiliares, Congregados, Filhas de Maria, Vicentinos, etc., é verdadeiramente confortadora.

Tendo diante de si aquela imensa mole humana que se comprimia em torno das Autoridades Eclesiásticas e Civis a fim de homenagear a Padroeira do Brasil, o Sr. Ministro da Agricultura lembrou com muita razão que ali estavam os membros das associações religiosas, inocente e pacífico exército de Cristo, que entretanto possuía armas de luta e de penetração tão aguda, que era sobretudo contra elas que investiam em todos os países dirigidos por elementos anti-católicos, os que queriam destruir a Igreja.

Essa lúcida observação lembra-nos ao mesmo tempo nossa eficácia e nossa responsabilidade. Tem razão S. Ex.a: é tal a força de falanges apostólicas convenientemente organizadas, que elas constituem um obstáculo intransponível no caminho dos adversários da Igreja. Apoio fortíssimo de todos os esforços favoráveis ao Catolicismo, tais associações são também o terror, dos homens, organizações ou correntes das que lhe são contrárias. Se, portanto, queremos dotar de vigor a Santa Igreja, organizemos fortemente nosso movimento. Se, pelo contrário, desleixarmos tal preocupação, estaremos franqueando o campo a nossos adversários. O papel das obras do laicato católico, e especialissimamente da Ação Católica, é em nossos dias verdadeiramente imenso. O que implica, em outros termos, em afirmar que é imensa nossa responsabilidade perante a Igreja e o Brasil.

A segunda resolução que nos foi sugerida na magnífica noite de domingo é, sem dúvida, no sentido de, no Congresso Eucarístico, afervorarmos de tal maneira nossa piedade para com a Sagrada Eucaristia, Nossa Senhora e o Santo Padre, que as vastas falanges católicas sejam verdadeiros focos de luz e de calor, luz para iluminar os que estão nas trevas, calor para aquecer os tíbios... e queimar os que quiserem atacar-nos.