Legionário, N.° 766, 13 de abril de 1947

ASSUNTOS NACIONAIS

Não podemos de deixar de consignar, do modo mais simpático e elogioso, as declarações feitas pelos Srs. Ministros da Guerra, Marinha e Aeronáutica, contra o funcionamento da chamada "juventude comunista" em nosso país.

As últimas eleições demonstraram, sem dúvida, que o comunismo, não tem grandes possibilidades de deitar raízes no Brasil. Depois de um ano inteiro de propaganda escancarada e atividade eleitoral intensa, os comunistas não só não ganharam adeptos novos, como até perderam votos. Significa isto, com clareza iniludível, que eles não impressionaram as massas. A atual crise financeira - que desdobra em tantos aspectos cruciantes, crise de transporte, crise de habitação, carestia de viveres e de agasalho - é a atmosfera ideal para proliferação das idéias comunistas. Pois, agindo livremente, e em ambiente terrivelmente propício, eles perderam terreno. Esta é a realidade palpável,  que os resultados das últimas eleições vieram trazer a lume. Vistas por este prisma as atividades comunistas não justificam, pois, grande alarme.

Mas a tentativa de estender sobre nossa juventude uma rede de propaganda vermelha particularmente ampla e bem tecida, causa em qualquer coração reto um verdadeiro sobressalto.

Por sua natureza, a mocidade é incauta e voltada para as novidades. A geração que a precedeu velou mal, ou não velou de todo pelo patrimônio de tradições, costumes e princípios que deveria transmitir à juventude como um preservativo contra as idéias dissolventes. O resultado é que os moços de hoje estão particularmente expostos ao perigo com que os ameaça a propaganda vermelha.

Assim, as atividades de Moscou entre nós enveredaram por um terreno particularmente por em circulação suas... (frase truncada no original) ...demos recear um êxito.

Nada, pois, mais justo, do que uma providência governamental que lhe venha cercear a liberdade de proselitismo.

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Tal providência seria tanto mais justa quanto o partido comunista, para facilmente por em circulação suas idéias nefastas, vem adotando uma tática desleal. Conhecendo as convicções religiosas de nosso povo, os comunistas vão apregoando aos quatro cantos que não combatem a liberdade de religião. E se, levados pela necessidade de conservar em suas atitudes algum resquício de lógica, tomam por vezes posições contra a Igreja, eles o fazem do modo mais blandicioso e desleal. Haja visto a declaração de votos da bancada comunista na constituinte estadual, a propósito da entronização da imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo no recinto das sessões. Foi uma declaração jeitosa, cheia de reticências, evitando por todos os modos de dizer a verdade crua que é uma só: os comunistas são necessariamente materialistas, e por tanto ateus. Daí se segue que são contrários à entronização de qualquer símbolo religioso na Assembléia.

Quando um partido político chega a ocultar suas doutrinas para melhor embair o público, saiu do terreno da propaganda para o da chantagem. E ao chantagista não se reconhece liberdade.

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Aliás, ainda admitindo que os comunistas dificilmente chegarão a constituir maioria no Brasil, e a obter por via legal a transformação de nossas instituições políticas, sociais e econômicas, estamos longe de afirmar que o PC deixe de constituir um perigo.

Não há exemplo de país que os comunistas tenham chegado ao poder por eleições livres e honestas. Nem de país em que tendo chegado ao poder pela violência, convoquem eleições livres e honestas para saber se o povo os quer nos postos a que se alçaram.

Eles não têm escrúpulos nem simplicidade deste jaez. Vencem por meios de minorias articuladas. Derrubam as maiorias inorgânicas e divididas pelo emprego de [golpes de] forças desferidos em drásticos golpes-surpresa. Esta é a idéia fixa de todo comunista. E, em geral tão logo as circunstâncias lhes permitam o uso da força, não deixam de o fazer sem perder tempo com preocupações [....], como as de não derramar sangue humano.

Assim, pois, achar que o comunismo não é um perigo porque não tem eleitorado que lhe garanta vitória legal não passa de rasa ingenuidade.