Legionário, n.º 229, 31 de janeiro de 1937

Sete dias em Revista

Por um esquecimento que lamentamos, não foi registrada, em nossa última edição, a honrosa distinção recebida pela Ex.ma Sra. Da. Olga de Paiva Meira, Presidente da Liga das Senhoras Católicas. A ilustre dama paulista foi agraciada pelo Santo Padre Pio XI com as insígnias da Ordem Pro Ecclesia et Pontifice”, uma das mais altas distinções que a Santa Sé costuma conferir às Senhoras que se destacam pela sua atuação em prol da Igreja.

A figura de Da. Olga de Paiva Meira é das que já se impuseram à geral consideração dos paulistanos.

É supérfluo, pois, mostrar os motivos que tornam particularmente merecida essa distinção.

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O Rev.mo Sr. Padre Luís Gonzaga de Moura despediu-se desta folha por motivo de sua nomeação para o cargo de Vigário de Água Branca, nesta Capital.

O Padre Luís Gonzaga de Moura deixa, em Santa Cecília, uma profunda recordação dos anos que passou como coadjutor do Vigário de Santa Cecília.

O cargo de confiança a que o elevou o Ex.mo. Sr. Arcebispo Metropolitano é um índice expressivo da merecida consideração que lhe alcançou sua atividade apostólica.

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O Governo da França acaba de condecorar, como oficial da Academia, o Rev.mo Sr. Padre Marcel Gaydon, capelão da colônia francesa nesta Capital e do Ginásio Franco-Brasileiro.

O “Legionário” recebeu com prazer esta notícia, pois que o Rev.mo Padre Marcel Gaydon, pelos seus trabalhos apostólicos e pela sua obra de aproximação franco-brasileira, se tem tornado merecedor da simpatia não só de seus conterrâneos, mas dos católicos brasileiros.

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Uma sessão secreta é sempre coisa que chama a atenção.

Não admira, pois, que a sessão secreta que o Tribunal de Segurança realizou, sobre o pedido de exclusão do Sr. Sussekind de Mendonça, e de que durou três horas sucessivas, causasse geral curiosidade.

No fim de tão laboriosa e secreta reunião, o Tribunal resolveu inocentar o Sr. Sussekind de Mendonça.

Há, nisto tudo, uma coisa que não compreendemos: porque realizar uma sessão secreta quando se trata de inocentar uma pessoa.

Se a sessão tivesse tido como resultado a manutenção da denúncia, compreende-se que, por relevantes razões de ordem pública, os debates se tivessem conservado secretos.

Mas se chegou à conclusão de que o Sr. Sussekind é inocente, por que não publicar os motivos sobre os quais se fundamenta tão inesperada conclusão(!!!)?

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O “Diário de Pernambuco” publicou uma nota sobre a conivência com o comunismo do Sr. Coronel João Alberto Lins de Barros, recentemente nomeado ministro plenipotenciário de 1ª classe.

Entre outros fatos sobre os quais se fundamentava a nota, figura uma carta encontrada no arquivo de Luiz Carlos Prestes, na qual o Sr. João Alberto afirmava que “chegara a hora do governo” deste.

Note-se.

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Um telegrama de Roma informa, a título de “consta”, que a Itália está fabricando material bélico para a Rússia.

Tão surpreendente é esta notícia à primeira vista que nós não lhe daríamos maior importância, se não procedesse de Roma o telegrama.

Como todos sabem, as notícias transmitidas de Roma são todas “revisadas”.

Isto lhes dá um cunho de veracidade digno de nota.

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O Sr. Ademar de Siqueira, oficial da Marinha e Ajudante de ordens do Sr. Presidente da República, prestou depoimento a respeito da culpabilidade do Sr. Hercolino Cascardo, atualmente processado perante o Tribunal Especial.

Disse o Sr. Ademar de Siqueira que o Sr. Hercolino Cascardo é um branco cordeiro, em cuja lã não se encontra a menor tintura vermelha de procedência moscovita.

Contestou que o Sr. Cascardo fosse comunista. Disse ter sido seu companheiro íntimo, e ter presenciado sua atuação à testa de importantes funções em nossa Marinha de guerra. E certificou que, em nenhum destes cargos, o Sr. Cascardo demonstrou a menor simpatia para com o comunismo.

O Sr. Ademar Siqueira, como ajudante de ordens do Sr. Getúlio Vargas, é pessoa de confiança deste.

Nunca disse todas estas coisas ao Presidente, o Sr. Ademar Siqueira? Se o Presidente está em desacordo com o depoimento do Sr. Siqueira, por que o conserva no cargo que ocupa?

Quanta coisa singular em torno do processo dos extremistas!

Os leitores argutos não percebem o que há atrás do véu?

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Destacamos esta bela mensagem do Sr. Mauriac aos intelectuais Brasileiros:

“Peço ao meu amigo, Sr. Renato Almeida, expressar a todos os meus amigos brasileiros a minha profunda gratidão. Ela é testemunha de que a França está sempre no seu lugar, sempre viva, a despeito de todas as ameaças que escurecem os seus momentos. A Frente Popular existe, mas os católicos franceses existem também e a alma francesa não foi afetada pelas convulsões sociais e políticas. Que os nossos amigos nos dêem a sua confiança. O papel providencial da França no mundo não está ainda terminado. Não estamos desesperados. Muitas coisas morreriam conosco se devêssemos perecer. Eis porque - através de tantas provações, tantos erros - ao país de Racine e de Pascal caberá dizer a última palavra.”

Através dela, falou a voz gloriosa e autêntica da França católica, que continua a ser hoje, como ontem, um dos baluartes mais firmes da Igreja de Deus.

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Na “Revista das Revistas” de 30 p.p., o “Estado de São Paulo” comenta um artigo de Henri Massis, na “Revue Universelle, em que este escritor acentua o papel de extraordinário relevo que os carlistas espanhóis estão desempenhando na repressão ao comunismo na sua Pátria.

O “Legionário” já teve oportunidade de fornecer aos seus leitores um amplo noticiário a respeito do movimento carlista, que é, de todos os movimentos políticos espanhóis, o que reflete com mais fidelidade o pensamento da Igreja.

Hoje, voltamos ao fato para mostrar que, enquanto o Sr. Mussolini fabrica armas para a Rússia, o Sr. Hitler prossegue numa política educacional de cunho francamente comunista, etc., só nas fileiras católicas se cristaliza com uma fidelidade indefectível o verdadeiro pensamento anticomunista.