Legionário, N.º 232, 21 de fevereiro de 1937

Sete dias em Revista

Por ocasião do nascimento de um filho do Príncipe do Piemonte, o Governo italiano anistiou diversos criminosos. Intencionalmente, porém, excluía os criminosos políticos. Preferiu soltar ladrões, assassinos, gente da pior espécie, a soltar criminosos políticos.

Muita gente dirá que fez mal. E nós afirmamos que fez muito e muito bem.

Nos dias que correm, o crime comum, praticado contra a segurança dos indivíduos, é em geral muito menos grave do que o crime praticado contra o Estado. Porque o mal praticado contra o Estado atinge toda uma ordem política e social muito abalada. E o crime praticado contra o indivíduo tem, necessariamente, uma repercussão menor.

Deveriam os brasileiros lembrar-se disto ao comentar os processos dos crimes políticos de Novembro de 35.

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Um dos militares que estão sendo processados em virtude da participação na revolução de 35, o ex-tenente Raul Pedroso, procurou negar que o movimento tivesse caráter comunista. E levou o descaramento a ponto de afirmar que ele tinha cunho nitidamente nacionalista.

É a esses extremos de cinismo que o fanatismo comunista conduz militares que deveriam honrar a farda que usam.

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Os telegramas nos trouxeram a notícia de que o Parlamento inglês está inquieto com a propaganda comunista desenvolvida na Inglaterra.

Interpelado sobre isto, um dos membros do Ministério declarou não poder evitar essa propaganda, pela simples razão de que tem feito reiteradas reclamações ao governo russo que sustenta sempre que não é responsável pela propaganda da III Internacional.

Assim, o Governo inglês, que está acumpliciado com os comunistas na obra da destruição da Espanha, cruza os braços diante da onda vermelha que ameaça devorar a Inglaterra.

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Enquanto o grande Império Britânico se deixa envenenar de comunismo para não consentir na menor incoerência na aplicação dos princípios liberais, a pequena democracia suíça, animada de mais espírito prático, reage vigorosamente contra o comunismo.

Assim é que um telegrama procedente de Genebra informa que foram dissolvidas na Suíça diversas sociedades comunistas, e que há um forte movimento de opinião tendente a suprimir a liberdade de propaganda dos comunistas na República Helvética.

Os ultra-liberais do Brasil podem contentar-se com este exemplo. A Suíça passou, sempre, por ser um dos países mais rigorosamente democráticos que há no mundo. No entanto, não recuou diante do sacrifício dos seus princípios para manter a sua civilização, ameaçada pelos comunistas.

E o Brasil? Acabará mesmo por soltar todos os criminosos de 35?

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Confirmando o que escrevíamos sobre a ressurreição do Club “3 de Outubro”, devemos assinalar aos nossos leitores a notícia publicada pelos “Diários Associados” de que o antigo interventor em São Paulo se encontrava em Minas a intervir na política daquele Estado.

O General Waldomiro Lima acaba de oferecer um churrasco ao Presidente da República. Ao ágape estiveram presentes numerosos políticos.

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Ao que nos consta, não teve prosseguimento o inquérito publicado sobre as atividades da artista Sônia Veiga, acusada de, mediante gordas remunerações, promover, junto a políticos muito e muito seus conhecidos, a soltura de presos políticos.

Gostaríamos, no entanto, de poder acompanhar o desfecho do interessante inquérito.

Por que não lhe dão andamento? Dizem que a política tem razões que a moral não conhece...