Legionário, N.º 233, 28 de fevereiro de 1937

Sete dias em Revista

Um telegrama de Paris informa que o Sr. Leon Blum vai conceder a um semanário parisiense, que se chama Sept, uma entrevista em que procura demonstrar que os católicos franceses não devem hostilizar seu governo. A entrevista ainda não foi publicada. No entanto, não hesitamos em afirmar que, sejam quais forem as promessas do Sr. Blum, os católicos devem manter em relação a ele e a seu clã, uma atitude de grande reserva.

O Sr. Blum é, politicamente falando, herdeiro de todas as tradições do anticlericalismo francês. Representa o que há na política francesa de mais hostil e mais suspeito à Igreja. Tomou as rédeas do governo em virtude da coligação de partidos infensos ao Catolicismo. E governa com o apoio desses partidos. Quem, pois, entre os católicos, lhe poderá dar atenção, quando prometer mais ou menos vagamente respeitar a Igreja?

Marx dizia, e todos os comunistas repetem, que a Religião é o ópio do povo, e que constitui o maior obstáculo à revolução social.

Se o Sr. Blum apoia sinceramente a Igreja, desfere um golpe profundo no comunismo. E se os comunistas não romperam com ele, é porque esse golpe não é real.

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Aliás, por toda a parte, os elementos comunistas prosseguem numa ativa campanha de desorientação da opinião pública.

“La Croix, o valoroso órgão católico francês que tantas bênçãos tem recebido da Santa Sé, em uma recente notícia denuncia as manobras do comunista francês Thorez, que fez um discurso na assembléia de seu partido em que externou uma perfídia e insincera simpatia pelos católicos.

E “El Pueblo, órgão brilhantíssimo dos católicos portenhos, informa que, discursando em Valência perante os governistas espanhóis, Thorez procurou demonstrar que os católicos deveriam dar seu apoio à causa do governo espanhol.

Parece-nos que a atitude de Thorez deixa entrever bem os móveis da atitude do Sr. Blum.

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Em torno de tudo isto, porém, há uma observação curiosa a fazer. Desde 1789 até nossos dias, todos os inimigos da Igreja procuraram esmagá-la sempre que ocupavam o poder. Daí o Kulturkampf de Bismarck, as perseguições religiosas da França republicana, o garibaldismo ou gambetismo italiano, etc.

Agora, porém, a coisa é outra. Os inimigos da Igreja, mesmo quando detentores do poder, não a atacam de frente. Procuram iludir os católicos, anestesiar suas prevenções, paralisar seus esforços com mil boas maneiras. E só depois disto tentarão o golpe.

Por que? Porque, por toda a parte, a ação do Divino Espírito Santo sobre as almas vai tornando mais aguerridos os fiéis na defesa dos princípios católicos. E tal é hoje a força dos católicos que os próprios comunistas procuram contemporizar com ela.

E é realmente deplorável que muita gente, ignorando esta força, que vem de Deus, procure apelar para outros recursos, que vêm dos homens.

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A política da desorientação não se pratica somente na França. Os jornais nos trouxeram, há dias, a notícia quase escandalosa de que a Universidade do Rio de Janeiro fará celebrar uma Missa para pedir o completo restabelecimento da saúde do Santo Padre Pio XI.

Há algumas semanas, o telégrafo nos informava de que os professores de Direito e de Medicina eram favoráveis à soltura dos professores comunistas.

Essa Universidade que deseja igualmente o restabelecimento da saúde do Papa e a soltura dos comunistas não é o espelho fiel desses figurões católicos que acendem uma vela a Deus e outra ao diabo?

Aliás, sua política não é má. Muitos católicos confiam neles porque eles rezam pelo Papa. E muitos comunistas os pouparão, porque eles foram solidários com o Sr. Hermes Lima.

Não queremos, aliás, afirmar que todos os professores da Universidade do Rio sejam desse estofo, o que seria evidentemente injusto.

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Fazemos nossa a observação de um jornal alemão que, aludindo às crises internas que parecem processar-se na Rússia, mostrava aos seus leitores que nem por isto se deve ter um momento de descuido quanto à propaganda comunista.

Com ou sem desordens intestinas, o monstro comunista continua poderoso e vigilante.

E, quanto ao perigo comunista, descuido ou traição têm sentido idêntico.

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Um telegrama do Rio de Janeiro informa que o Sindicato dos Distribuidores de Jornais e Revistas resolveu apoiar a Associação Brasileira de Imprensa nos seus esforços tendentes a obter a soltura de jornalistas que teriam sido presos como comunistas.

Não sabíamos que a Associação Brasileira de Imprensa tivesse tomado tal atitude.

Contra ela, nosso mais formal e categórico protesto.