Legionário, N.o 273, 5 de dezembro de 1937

Sete dias em Revista

Em edital da Cúria Metropolitana, ordenou S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano, que em todas as matrizes, igrejas, capelas e oratórios de comunidades religiosas deve ser feita uma novena em louvor da Imaculada Conceição de Nossa Senhora para conseguir:

1) O triunfo da Igreja sobre os erros do liberalismo, do socialismo, do comunismo e do hitlerismo, recentemente condenados pelas Encíclicas do Santo Padre Pio XI;

2) a paz do Brasil;

3) a felicidade da família brasileira.

Esses devem ser os votos de todos os corações católicos bem formados que devem dirigir, neste sentido, as suas mais ardentes preces a Nossa Senhora Aparecida, a Virgem Imaculada, Rainha e Padroeira do Brasil.

Lembramos a todos os católicos que estão na absoluta obrigação de desejar e de pedir que sejam satisfeitos os anseios apostólicos de S. Ex.a Rev.ma. E isto não só porque o que ele pede é um bem inestimável, mas porque é pedido por Ele, que é nossa Autoridade. Nunca será demais insistir sobre este segundo ponto.

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Os católicos não podem deixar de receber com a maior simpatia a nomeação do Sr. Waldemar Falcão para a pasta do Trabalho. S. Ex.a foi, em 1934, um dos mais valorosos constituintes eleitos pela Liga Eleitoral Católica do Ceará, que, posteriormente, lhe deu a senatoria pelo mesmo Estado. O discurso por S. Ex.a pronunciado quando de sua posse no Ministério do Trabalho, abre as mais favoráveis perspectivas para os católicos na sua pessoa. (...)

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As numerosas homenagens que se vão prolongando pelo país inteiro em memória das vítimas da revolução criminosa de 35, merecem nosso mais entusiástico e irrestrito apoio. É preciso que o nome dos brasileiros mortos em defesa da civilização católica esteja inscrito na gratidão de todos os corações verdadeiramente amantes da Igreja e da Pátria.

A tantas e tão merecidas homenagens, acrescentamos as nossas, que são completadas por uma prece em sufrágio de suas almas. Porque, agora, é só isto que lhes pode valer.

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À medida que cresce a rivalidade entre as grandes potências, aumenta a importância do Brasil como inesgotável celeiro de recursos econômicos de toda a ordem. Daí o empenho de elementos internacionais em formar uma “zona de influência” em nossa Pátria, “zona de influência” esta que outra coisa não seria senão um disfarçado protetorado.

Neste sentido, chamamos muito insistentemente a atenção de nossos leitores sobre os manejos de origem norte-americana e alemã, respectivamente denunciados pela “Ação” e pelo “Diário de São Paulo”. Nem a influência do protestantismo norte-americano nem a do nazismo alemão servem para o Brasil. Em primeiro lugar por serem anti-católicas, e em segundo lugar por serem categoricamente anti-brasileiras.

Nesta hora de exaltação nacionalista, devemos ser muito categóricos e este respeito.

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Realizou-se no Rio de Janeiro a benção das espadas dos aspirantes a oficial da Escola-Militar.

Esperamos que, na ordem de coisas recentemente inaugurada, esta cerimônia altíssimamente expressiva seja estendida a todas as forças armadas e em todas as solenidades congêneres, porque nada pode colocar o gládio do militar mais à altura de sua elevadíssima missão do que a benção da Santa Igreja de Deus, penhor de que ela será usada sempre que a Pátria dela precisar, e só quando a Pátria dela precisar.

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A Sagrada Congregação do Santo Ofício colocou no Index a obra de Ernest Bergman, definindo o conceito de Deus na nova Igreja nacional alemã, fundada pelo Sr. Hitler e sua seqüela. Segundo o Dr. Bergman, a crença em Deus poderia ser simplesmente uma “espécie de panteísmo”.

É neste sentido que o ministro Kerrl declarou, em recente conferência realizada na sede do partido nazista, que “a ideologia nacional-socialista reconhece Deus”.

Reconhece Deus, mas um deus que, no fundo, não é coisa nenhuma.

Em outros termos, isto se chama tapeação.

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Tem, pois, plena significação e grande oportunidade a belíssima carta pastoral que os Bispos Norte-Americanos endereçaram aos seus irmãos no Episcopado da Alemanha, afirmando-lhes sua plena solidariedade na dolorosa luta que eles tem de sustentar contra o Sr. Hitler.

Estes gestos mostram claramente a unidade da Igreja, na qual qualquer sofrimento em uma das partes do corpo repercute dolorosamente no organismo inteiro, porque nem as rivalidades internacionais, nem as divergências políticas, nem as distâncias interpostas pelos oceanos pode separar aqueles que estão unidos no corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Santa Igreja Católica.

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Finalmente, mais um comentário. Um telegrama do Vaticano noticia que S.S. o Papa bem como todo o sacro-colégio está em retiro espiritual. Esta notícia traz para os católicos um dever e uma lição. Um dever, porque eles estão na obrigação de rezar pelo Santo Padre e pelos Cardeais em retiro; obrigação que lhes importa pelo amor que devem à Santa Igreja. Uma lição porque lhes mostra que, se até o Santo Padre e os membros do Sacro Colégio, colocados nas culminâncias da Igreja pelo seu saber e sua virtude, fazem seu retiro espiritual, que dizer-se de nós que sem os mesmos dotes nos julgamos às vezes dispensados de o fazer?