Legionário, No 277, 2 de janeiro de 1938 

Sete dias em Revista

Para os católicos a notícia mais digna de nota na semana transacta foi a nomeação do Sr. Dr. Alceu Amoroso Lima para o alto cargo de Reitor da Universidade do Distrito Federal.

Basta ponderar o altíssimo valor do novo Reitor e a importância para os católicos do cargo para o qual ele foi chamado, para se compreender a repercussão favorabilíssima que este fato teve em São Paulo.

Como jornalista, escritor e sociólogo, Alceu Amoroso Lima é hoje um nome nacional. Como Presidente da Ação Católica Brasileira, cargo para o qual foi designado por S.E. o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro como pessoa naturalmente indicada, é ele a figura máxima do laicato católico do Brasil.

A designação de um católico de tais e tantos méritos para o cargo de capital importância que ora ocupa, tem um significado que abre para o futuro da Educação no Brasil lisonjeiras perspectivas.

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Nas suas recentes e peremptórias declarações do Santo Padre sobre a Alemanha, disse S.S. que a despeito das informações falsas veiculadas no Exterior, a Alemanha está às voltas com uma das mais graves perseguições que a História registra.

Com vistas ao Ex.mo Sr. Cônsul da Alemanha em São Paulo.

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Novas declarações fez o Sr. Chefe de Polícia de Porto Alegre sobre a infiltração nazista no Brasil.

Entre outras informações S. Ex.a disse estar de posse de uma ampla documentação fotográfica e outro material de propaganda hitlerista. Nesse material, os nazistas aconselhavam a boicotagem das casas que não simpatizavam com suas idéias.

Estas declarações justificam largamente nossas apreensões. Pode-se imaginar iniciativa mais sintomática e mais irritante do que tal boicotagem?

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O Sr. Presidente do Tribunal de Apelação baixou normas para evitar fraudes e irregularidades nos processos da habilitação de casamento.

Evidentemente, é muito louvável o zelo daquele alto magistrado. Mas a medida que S. Ex.a tomou lembra-nos a necessidade de se promulgar quanto antes uma legislação da máxima energia contra as anulações fraudulentas de casamentos.

Ninguém ignora que o divórcio a vínculo está, na prática, introduzido em certos meios sociais, sob o rótulo de anulações vergonhosas, obtidas a custo de subornos e de depoimentos falsos.

Tolerará o Estado forte este ludibrio da Constituição que impôs a indissolubilidade do vínculo conjugal?

Não devemos crer, uma vez que a coibição de tão insuportável abuso está única, total e absolutamente em suas mãos.

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Deplorabilíssima a nota em que a “Folha da Manhã” reclama medidas violentas e imorais para a supressão da prole eventual dos loucos.

Diz o autor da nota que deseja que o Estado forte disponha imediatamente medidas nesse sentido.

Em outros termos, deseja ele que certos princípios da política racista anti-  científica e imoral do nazismo se alastre no Brasil. E que, implicitamente, nossas leis sejam anticatólicas.

Note-se.

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Com o recente decreto-lei que criou o Serviço Nacional do Teatro, instituto oficial destinado a utilizar o teatro para a “elevação e edificação espiritual do povo”, ficou o governo plenamente habilitado a suprimir de vez as peças teatrais subversivas e imorais contra as quais tanto tem protestado os católicos.

Está, pois, plenamente nas mãos das autoridades a moralização dos nossos palcos.

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Em um leilão, realizado em Paris, foi vendida por 240 mil francos uma tela magnífica de Grecco, representando Nosso Senhor Jesus Cristo carregando a Cruz. O quadro pertencia à coleção do Príncipe Francisco de Bourbon.

Entretanto, estranhou o público que esse quadro famoso alcançasse preço inferior ao de outro de um autor inferior a Grecco, Natier, representando uma grande dama do século XVIII.

Sinal dos tempos.

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(...) O Ministro das Colônias da Inglaterra foi multado e suspenso durante 6 meses do direito de guiar automóveis, em conseqüência de uma contravenção de que foi culpado.

Sirva esta notícia de lição para certos régulos de nossa república, tão amigos de violar vistosamente todas as leis de trânsito.

Quando perto de algum teatro ou cinema se vê algum auto vistosamente colocado fora de mão, já se sabe que é de algum “jovem príncipe” de nossa república.