Legionário, No 291, 10 de abril de 1938

Sete dias em Revista

O Sr. Cardoso de Mello Netto iniciou seu discurso em Marília afirmando sua íntima e particular satisfação em ver inauguradas as festas com que Marília comemorava o 9º aniversário da fundação do Município com uma Missa campal - afirmação de fé, diz sua Ex.a - no grande princípio moral que a religião encarna, princípio que precisa, hoje mais do que nunca, ser resguardado.

Registramos com prazer essa afirmação do Sr. Interventor Federal que constitui um explícito reconhecimento da vital necessidade do catolicismo na vida nacional, pois só a Igreja poderá salvar os povos contemporâneos do abismo para o qual caminham.

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Estamos de perfeito acordo com as declarações dos Srs. Interventores Federais no Paraná e em Santa Catarina, a respeito da votação de alemães aqui residentes, no plebiscito organizado pelo Sr. Hitler para desculpar a conquista da Áustria.

O alemão, tanto quanto o francês, o inglês, o turco ou chinês que aqui venha residir definitivamente, é um indivíduo que se segrega voluntariamente do convívio com os habitantes de seu país natal, e se inclui de fato, se não de direito, em outra comunidade nacional, a cuja soberania vão ficar submetidos os melhores fatores de sua felicidade terrena, isto é, sua família, suas propriedades, e a sua segurança pessoal.

As alterações políticas, econômicas e sociais ocorridas em seu país de origem já não afetarão seus interesses vitais nem os de sua família. Se o Füehrer aumentar os impostos, não é ele que os pagará. Se a vigilância da Gestapo apertar as malhas em torno de todas as liberdades individuais oprimindo a Fé e as consciências, não é ele que o suportará. Que tem ele de ver, pois, com o governo de seu país? É justo que seu voto seja tão influente no plebiscito quanto o de um alemão residente na Alemanha? Evidentemente, não.

 É certo que entre o emigrante e a mãe-pátria subsistem sempre vínculos afetivos que nem o tempo nem a distância podem romper. Mas a situação do emigrante perante seu país de origem não é muito diversa da que existe entre um filho que foi trabalhar em terras distantes, deixando em poder dos irmãos a soberba fazenda ou a modesta sitioca que o viu nascer. Embora aquele lugar seja sempre para ele, em todas as vicissitudes da vida, o torrão natal inesquecível e sempre querido, cujos progressos acompanha com olhar sempre carinhoso, nenhum poder lhe cabe exercer sobre sua administração, toda entregue aos irmãos que ficaram.

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A este argumento de ordem moral, outro se poderia acrescentar do maior valor político.

Nosso Governo, ao que parece, fechou os núcleos nazistas que funcionavam no Brasil, sob a razoável alegação de que a existência de partidos estrangeiros em nosso território é contrário a nossa soberania.

No entanto, o exercício do direito de voto supõe sempre a existência de um partido político, ainda que seja só o do Governo. Autorizar que os alemães aqui residentes votem, ainda que fora do País, é implicitamente autorizar o exercício de atividades de propaganda nazista no País.

A atitude dos Srs. Interventores no Paraná e no Rio Grande foi, pois, de uma coerência irrepreensível.

Dizer-se que tal votação nada têm a ver com nosso País, uma vez que ela não se realiza em águas brasileiras, é pois um erro.

Esse exercício dos direitos políticos dos cidadãos estrangeiros dificulta sua assimilação no ambiente brasileiro, e torna inevitável a propaganda nazista no Brasil, uma vez que, se os alemães aqui residentes tem o direito de votar, é imperioso interesse do Füehrer conquistar o seu voto por uma propaganda feita, publicamente ou não, em território brasileiro.

Na Argentina, cresce tanto a preocupação popular em torno do assunto que “La Prensa”, o conceituado jornal portenho, publicou uma nota em que convida o governo a se explicar a este respeito. E “La Prensa” tem carradas de razão...

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Por ocasião do aniversario de S. Ex.a Rev.ma o Sr. D. Duarte Leopoldo e Silva, o Sr. Dr. Guilherme de Almeida, em nome da Associação Paulista de Imprensa enviou telegrama de felicitações ao ilustre Antístite.

Como jornal católico, o “Legionário” não pode deixar de registrar essa gentileza que constitui uma merecida homenagem da imprensa paulista a um Prelado que tem prestado à sua Pátria serviços tais que ele é hoje um dos mais sólidos florões de glória do Estado que o viu nascer. (...)

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O Sr. Arthur Greenwood, que ocupa o importante cargo de vice-lider parlamentar do partido Trabalhista, acusou o atual governo inglês de fazer concessões às ditaduras, devido a influências ocultas que se exercem, segundo aquele deputado, no castelo de Clivedeu, lugar de reuniões e “week-ends” dos homens de Estado e das Finanças.

Essa acusação é mais um indício do propalado financiamento por capitalistas da alta finança internacional de certos regimes fortes, acusação essa muito corrente hoje em dia.

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A Argentina ordenou o fechamento das escolas nazistas lá existentes. O Brasil, embora não tenha tomado ainda essa medida, certamente também o fará, dada a sua imperiosa necessidade, como o faria indubitavelmente o Sr. Hitler com as escolas que, na Alemanha, propagassem doutrinas de origem brasileira, contrárias ao nazismo.

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É inqualificável a “simplicidade” do Sr. Edgard de Castro Rebello, que se julga com força no atual regime para protestar contra a abertura do concurso da cadeira de que foi professor na Faculdade de Direito do Rio, e da qual foi demitido por suas atividades extremistas.

Esse ex-professor, ao ter notícia do concurso, apresentou um protesto ao juiz da 1ª vara dos feitos da Fazenda Pública, alegando que sua exoneração é contrária à Constituição. O que pensa o Sr. Castro Rebello que foi o golpe de 10 de Novembro? Uma pilhéria?