Legionário, No 309, 14 de agosto de 1938

Sete dias em revista

Acolhemos com viva satisfação a notícia de que se estão desenvolvendo negociações entre a Santa Sé e o Sr. Mussolini, no sentido de fazer cessar os incidentes verificados na Itália entre a Ação Católica e elementos do Partido Fascista. Queira Deus que essas negociações, que encontram em seu caminho tantas e tão duras dificuldades, possam conduzir à paz e à tranqüilidade que a Igreja deseja. Não portanto a uma paz qualquer. Mas à paz honrosa que é a única que Pio XI aceitará: a paz obtida sem o sacrifício dos direitos inalienáveis da Igreja.

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Se, no tocante à Ação Católica, as coisas parecem bem encaminhadas, não se pode dizer o mesmo quanto ao problema racial. Pelas notícias telegráficas que nos chegam da Itália, notícias estas aliás pessimamente redigidas e muitíssimo obscuras, percebe-se que continua, em certa imprensa fascista, a propaganda contra a orientação da Igreja em matéria racial. E é doloroso verificar que à testa dessa propaganda está o Sr. Farinacci, recentemente nomeado, pelo Sr. Mussolini, Ministro de Estado.

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Nesta semana tão sobrecarregada de notícias sombrias, de novos conflitos e de novas lutas, a nota mais melancólica foi a de uma agência telegráfica que, comentando com o maior sangue-frio a situação moral das tropas russas e japonesas, disse laconicamente o seguinte: as tropas russas tem a grande vantagem de que seus soldados tem a morte à sua espera, quer nas linhas de frente, quer na retaguarda, porque o terror na Rússia é tal que ninguém está livre de uma execução sumária. Por esta razão, caminham eles para a guerra com maior desprendimento!

Eis aí a que ficou reduzido o povo russo. Nem os maiores horrores da literatura trágica podem igualar esse desespero de imensas massas humanas, evoluindo sob o céu brumoso e frio da Sibéria, cercados pela morte por todos os lados.

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É curioso notar que a cooperação econômica do México [...] comunista com a Alemanha nazista continua muito estreita. Assim, o governo mexicano ainda esta semana exportou para a Alemanha dois navios carregados de petróleo com evidente desgosto dos Estados Unidos.

Com esta cooperação mexicana, como ousa ainda o Sr. Hitler se apresentar como campeão do anticomunismo? (...)

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Por recente decreto do Sr. Interventor Federal, foi criada novamente no Estado a Censura dos Teatros e Divertimentos Públicos.

Nossos melhores votos são no sentido de que essa Censura exerça efetivamente suas atribuições, não se limitando à atitude tímida e ridícula de idênticos departamentos que, anteriormente, têm funcionado neste Estado.

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Vai crescendo cada vez mais a importância do rádio na formação dos espíritos. Confirmou-o ainda recentemente o Sr. Goebels, em discurso pronunciado na Alemanha. S. Ex.a disse que considerava o rádio um importantíssimo fator para a “formação nacional-socialista” da Alemanha, razão pela qual mandou construir 800.000 aparelhos de rádio para o povo.

E nós, católicos, o que fazemos neste sentido? Cooperamos realmente com os que querem pôr ao serviço da consciência católica esse incomparável meio de apostolado?

Eis aí delicado tema para meditações.