Legionário, N.º 316, 2 de outubro de 1938

7 DIAS EM REVISTA

Estamos perfeitamente solidários com o oportuno gesto do Chefe da Nação que se solidarizou com o Presidente dos Estados Unidos na atitude que este assumiu perante o conflito europeu.

O “Legionário” é bem insuspeito nesta matéria, porque nunca foi partidário de uma política de exagerada aproximação com a América do Norte, e sempre combateu a influência muitas vezes excessiva, que esta tem pretendido exercer na América Latina.

No entanto, uma linha de solidariedade de toda a América na crise porque passou o mundo, era uma atitude que se impunha imperiosamente.

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O “Regime Fascista”, jornal italiano de grande responsabilidade no Partido Fascista, publicou um acerbo artigo contra o Santo Padre Pio XI, porque este tomou atitude de simpatia compassiva para com o povo tcheco, tão duramente provado nos últimos meses.

Fazendo ironia, disse aquele jornal que o Santo Padre ficaria só ao lado dos tchecos, contra todas as potências da terra, e que com este apoio não se manteria de pé.

Não é exato, preliminarmente, que o Santo Padre tenha tomado em relação aos tchecos uma atitude ou outra, que não a de uma simpatia que não excluísse a rigorosa neutralidade do Vaticano na hipótese de um conflito internacional.

Em segundo lugar, ao Santo Padre pouco importa ficar com ou sem o apoio dos tchecos, do Sr. Mussolini, do Sr. Daladier, do Sr. Chamberlain ou de qualquer outra potência da terra. Ele tem em suas mãos a arma invencível com que o próprio Átila foi rechaçado. Com a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele não teme os canhões ou o ouro de quem quer que seja.

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A “Folha da Noite” de 28 do passado cita a opinião do Dr. Enéas de Carvalho Aguiar sobre a hereditariedade da lepra, para reforçar os argumentos com que o Sr. Rubens do Amaral combatera, nesse mesmo jornal, a esterilização dos leprosos preconizada por um médico especialista em lepra.

Afirma o Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, que é diretor do Asilo Colônia Aimorés, do Serviço de Profilaxia da Lepra, que os filhos de leprosos, quando afastados imediatamente depois de nascer do convívio com os pais, tem tanta probabilidade de contraírem a moléstia como outra pessoa qualquer. Daí a desnecessidade de esterilização dos leprosos.

A “Folha da Noite” tem toda a razão em combater essa medida imoral preconizada para os leprosos. E isto apenas porque os filhos dos leprosos não herdam o terrível morbus paterno como principalmente porque ninguém tem o direito de alterar as leis da vida, seja por que motivo for.

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O Sr. Alexandre Hirgué, scroc acusado de espionagem bolchevista e causador do processo do Sr. Emílio Romano, ex-delegado do Rio, apesar de já ter sido decretada a sua expulsão do território brasileiro, foi posto em liberdade no dia 21 próximo passado.

Alega-se para a sua soltura que ele deve aguardar em liberdade a sua expulsão. Esse motivo nem sequer merece comentários, de tal forma é ridículo. (...)

Espera-se por ventura que o Sr. Hirgué fuja antes de ser expulso e consiga se refugiar em algum canto do Brasil até que o silêncio caia sobre esse processo, para que ele possa voltar a praticar sua scroquerie no Rio de Janeiro?

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O Sr. Embaixador japonês declarou ao “Globo” que as crianças de origem japonesa são criadas no Brasil como perfeitos brasileiros, e que se adaptam, perfeitamente aos costumes de nossa terra.

Antes de fazer essas declarações, S. Ex.a, deveria ter procurado conhecer mais de perto os seus patrícios que se encontram aqui no Brasil, e a sua desilusão seria às vezes amarga.

Ao contrário do que afirmou S. Ex.a recusam freqüentemente de se adaptar ao Brasil e se educam como perfeitos japoneses, em núcleos rurais isolados e impenetráveis. Naturalmente, será do próprio interesse japonês modificar essa mentalidade com que vem para cá, a fim de que possam ser mais estreitadas as relações entre o Brasil e o Japão. Neste sentido, não conhecemos obra mais proveitosa para o Japão e o Brasil do que a ação evangelizadora do R. Pe. Gualandi e de outros missionários que criam entre os dois povos uma larga base de recíproca compreensão e de concórdia.

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Uma lei singular acaba de ser assinada pelo Sr. Lázaro Cardenas, presidente do México, que recomendamos ao governo brasileiro não imitar.

O Sr. Cardenas estendeu aos funcionários públicos o direito de greve. Naturalmente, essa lei fica apenas no papel, porque senão os negócios públicos não caminhariam mais, dada a proverbial falta de disposição dos funcionários públicos em trabalhar.

Isso no Brasil, então, seria um desastre. Era bastante o café chegar atrasado em uma repartição para que todo o funcionalismo público do Brasil se declarasse em greve para reparar essa injustiça.