Legionário, N.o 324, 27 de novembro de 1938

7 DIAS EM REVISTA

Numerosas são as disposições legais referentes à nacionalização que tem sido ultimamente promulgadas pelo Governo Federal.

Ninguém ignora que o ponto de partida para a elaboração de tais medidas legislativas foi a necessidade imperiosa e evidente de amparar o país contra infiltrações que atingiriam simultaneamente a integridade da Pátria e da Fé.

Por isto, aconselhamos vivamente nossos leitores estrangeiros a que se informem junto às autoridades competentes a respeito de todas as formalidades necessárias para o cumprimento da lei.

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É muito importante, principalmente, que os dirigentes de instituições católicas estudem com diligência as conseqüências que a aplicação de tais leis poderá acarretar para os respectivos estabelecimentos. É possível que muitas disposições de tais leis tragam conseqüências práticas talvez não previstas nem desejadas por seus autores. E a prudência parece indicar que estudemos quanto antes as providências necessárias para evitar que se criem situações difíceis e talvez insolúveis.

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Realmente, o espírito que anima todos os católicos não é de oposição nem de fronda, mas de cooperação efetiva e hábil. Ora, dentro deste espírito de cooperação, não há lugar para lamentações estéreis, mas para providências úteis. E uma destas providências é, sem dúvida, que os interessados representem aos poderes competentes a fim de expor suas dificuldades e auxiliar o Governo a cumprir a lei dentro das intenções que somos obrigados a supor em nossas autoridades.

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Quais são essas intenções?

A habilidade do Sr. Getúlio Vargas é uma coisa inegável; mais do que isto, é proverbial. Provou-a a maestria com que S. Ex.a soube fechar nossos mais velhos partidos políticos.

Ora, S. Ex.a é bastante clarividente e hábil para compreender que uma coisa é fechar partidos políticos, e outra muito diversa seria fechar estabelecimentos através dos quais vive e se irradia a Igreja no Brasil. Porque no dia em que estas portas se cerrassem, estariam cerradas irremediavelmente as portas do coração brasileiro.

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Merece aplausos calorosos a deliberação do Sr. Waldemar Falcão, Ministro do Trabalho, de inaugurar solenemente, no edifício do Ministério, um quadro a óleo executado por ilustre pintor nacional, representando S. S. o Papa Leão XIII, o imortal autor da encíclica “Rerum Novarum”.

É um gesto expressivo que não pode deixar de sensibilizar os católicos.

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Em virtude do número especial de domingo, o “Legionário” não pode ainda comentar a resposta do rei da Itália e Imperador da Etiópia à carta que lhe foi dirigida por S. S. o Papa, a propósito da recente e deplorável violação do Tratado de Latrão pela lei sobre o casamento.

O rei da Itália, que tem exercido um nobre e belo papel moderador na Itália, respondeu à Sua Santidade que “o assunto será cuidadosamente estudado”.

Queremos crer que o monarca use da influência de que dispuser junto ao Sr. Mussolini a fim de impedir que o fascismo siga as pegadas do nacional-socialismo alemão, salvando a Itália da barbárie.

Entretanto, até o momento em que escrevemos, não nos consta que o Sr. Mussolini tenha respondido à carta que o Pontífice também lhe dirigiu e nem que tenha sido feita a alteração lembrada por Pio XI.

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A “Igreja” do Sr. Salomão Ferraz, que quer à força se intitular Católica e procura por todos os meios confundir os espíritos, anunciou uma Missa em sufrágio da alma de S. Ex.a Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano.

Além do descaramento com que procura essa seita passar por católica, essa “Missa”, plenamente nula, é um insulto à memória veneranda do Sr. Arcebispo, que sempre foi inimigo acérrimo das atitudes dúbias e não pactuou nunca com os semeadores do erro.

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O Sr. Carlos Pomaret, ministro do Trabalho francês, propôs há dias o voto secreto para a declaração de greves como um dos meios de se acabar com elas.

É interessante que justamente o voto secreto, que à primeira vista parece uma arma do operário para se libertar da tutela do patrão e fomentar as greves, seja proposto justamente como remédio a essa epidemia de greves que existe na França.

O fato é que a chamada opressão dos patrões não passa, às vezes, de demagogia comunista e o que realmente existe é uma formidável opressão dos kominterns russos sobre o operariado de todo o mundo.

A proposta do Sr. Carlos Pomaret visa justamente libertá-lo dessa perseguição bolchevista e assim voltar à normalidade as relações entre patrões e operários na França.

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A 2ª Região Militar teve um belo gesto mandando suspender o juramento à bandeira dos reservistas, que devia se realizar no dia 19 deste mês, em virtude das solenes exéquias por alma de D. Duarte Leopoldo e Silva.

É nessa mútua compreensão e colaboração entre a Igreja e o Estado que os nossos dirigentes cumprirão o seu dever, dando ao povo a felicidade a que tem direito.

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Noticia-se a libertação do Sr. Kurt von Schuschnigg, sem julgamento.

O governo nazista não pode encontrar prova nenhuma a favor das acusações que fazia contra o ex-chanceler austríaco, pois se houvesse o menor indício favorável, seria motivo de processo retumbante e com o cenário bem preparado para armar efeito.

No entanto, isso não impediu que o Sr. Schuschnigg fosse martirizado na prisão e a ordem de soltura que agora talvez lhe seja dada como uma graça do Sr. Hitler, esconde apenas o medo que tem o governo alemão da morte do Sr. Schuschnigg na prisão em conseqüência dos maus tratos ali sofridos.

Aliás, isso já é praxe do nacional-socialismo. Ossietski, prêmio Nobel da Paz, só foi solto para morrer fora da prisão.

É incalculável a falta de pudor e de responsabilidade do Sr. Hitler. Conta muita prosa quando sabe que não encontrará resistência, mas não tem coragem de assumir a responsabilidade da morte das pessoas que ele assassina com maus tratos em suas prisões.

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Foi criada, em São Paulo, uma sociedade “Turnerschaft de 1890”, cujo fim é a cultura da ginástica alemã como meio de fortalecimento corporal e moral de seus sócios.

Ainda agora seus estatutos foram registrados no 2º registro de Títulos desta Capital.

Não se compreende que uma sociedade alemã, cuja finalidade é propagar a cultura alemã com fito moral, possa ainda existir no Brasil depois das leis nacionalizantes do governo federal.

Pedimos para este fato a atenção das nossas autoridades.