Legionário, N.° 4 de junho de 1939 

7 Dias em Revista

É digna de calorosos aplausos a atitude da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro solicitando, mediante proposta do ilustre cientista Dr. Carlos Fernandes, que o Sr. Ministro da Educação e Saúde tome medidas tendentes a evitar a propaganda pelo Rádio de doutrinas espíritas. São conhecidos os males produzidos pelo espiritismo, que, com suas práticas charlatanescas, contribui largamente para aumentar o número de alienados. Não se compreende, pois, como se permite que proliferem os “Centros Espíritas” e, mais ainda, que o espiritismo seja propagado pelo rádio e pela imprensa. É de esperar que tão oportuno apelo, procedente de uma Sociedade com tais títulos científicos, seja acatado pelas nossas autoridades, pondo-se em execução as medidas solicitadas, não só na capital da república, como em todo o território do Brasil.

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Acaba de ser detido no Rio de Janeiro um livreiro americano, estabelecido naquela cidade e acusado de ter lesado firmas nacionais e estrangeiras. O fato mais importante, porém, apurado pela polícia, é o de que o referido livreiro mantinha relações estreitas com espiões nazistas que agiam na Argentina. Esta última verificação é de suma importância. Existirão espiões nazistas apenas na Argentina? Resumir-se-ão suas atividades em manter correspondência com um “scroc” americano residente no Brasil? Estamos certos de que não é assim, mas, que a ação desses agentes, é muito mais profunda do que se pode supor. A descoberta feita pela polícia carioca vai, certamente, abrir caminho, assim temos o direito de supor, para uma atitude enérgica contra elementos estrangeiros que subterraneamente procuram abalar os alicerces da nossa nacionalidade.

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Pela primeira vez acabam de ser elevados ao Episcopado dois sacerdotes africanos, um de Madagascar e o outro de Uganda. Continua, assim, o Santo Padre Pio XII o trabalho iniciado por seu antecessor, da criação de uma hierarquia eclesiástica nos países missionários. Enquanto nações de velha civilização cristã se paganizam e se enclausuram em estudos e anti-científicos preconceitos raciais, a Igreja afirma sempre a igualdade de todos os homens perante Deus e não receia de elevar ao Sacerdócio  e ao Episcopado chineses, hindus, indo-chineses ou pretos, dando, dessa maneira, uma belíssima manifestação de sua sobrenatural catolicidade.

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A notícia de que sacerdotes católicos espanhóis estariam fazendo propaganda em Porto Rico a favor da restauração da hegemonia espanhola naquela ilha é mais uma das muitas balelas atribuídas à Igreja e aos seus ministros. Em todos os lugares, atribuem-se aos sacerdotes atitudes políticas que eles não tomam, mas com as quais se procuram incompatibilizar as populações com a Igreja. O mesmo fato se observa entre nós, onde certa imprensa tem procurado colocar os sacerdotes estrangeiros em situação desfavorável aos olhos do público.

Seria, aliás, muito louvável que tal publicidade, inútil para uma sadia  nacionalização do povo, cessasse quanto antes. Se há abusos, por que não os denunciar devidamente documentados às autoridades eclesiásticas, em lugar de os transformar em pretexto para pasquinadas?

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Os jornais da Capital noticiaram que se instalará numa das Igrejas do Rio de Janeiro, em uma gruta de Nossa Senhora de Lourdes, um reservatório contendo água procedente do famoso Santuário Francês. Estamos habilitados a confirmar a noticia, acrescentando que o reservatório conterá 4 mil litros de água, não sendo, porém, destinada a água ao uso dos fiéis.

A importação desta água tem um caráter piedosamente evocativo, como o de quaisquer objetos trazidos da cidade de Lourdes.