Legionário, N° 363, 27 de agosto de 1939 

 

7 Dias em Revista

 

Ocupando-se esta Folha, em outras seções, dos dramáticos acontecimentos que empolgam todo o mundo contemporâneo, queremos, em “7 Dias em Revista”, chamar a atenção de nossos leitores para o dever da prece que lhes incumbe gravemente no momento que passa.

O apelo dirigido neste sentido pelo Santo Padre Pio XII a todos os fiéis, não constitui apenas, como certos espíritos frívolos e sem fé poderiam supor, uma atitude platônica destinada a fazer lembrar a Santa Sé em um momento em que os chefes de Estado parecem ter-se esquecido inteiramente do papel de supremo juiz internacional que cabe ao Pai comum da Cristandade.

O Santo Padre teve, na sua formosa alocução, o propósito de provocar uma verdadeira cruzada de orações em prol da paz, ciente como está de que as orações confiantes e humildes dos justos têm mais valor, aos olhos de Deus, do que todo o esforço das chancelarias contemporâneas, e que a oração perseverante das almas fervorosas pode pesar mais no curso dos acontecimentos, se for ouvida por Deus, do que as deliberações dos poderosos deste século.

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Deus é um Pai clemente e misericordioso. Por isto, se é certo que as orações dos justos têm grande valor perante Ele, não é menos certo que Seu Coração se deixa freqüentemente enternecer pela súplica contrita dos pecadores. Na parábola do Filho pródigo, se este tivesse feito a seu Pai, no momento exato do regresso e da reconciliação uma prece qualquer, com que amor seria ela atendida!

Se muito poucos dentre nós podemos nos colocar no rol das almas realmente fervorosas, sem qualquer dúvida podemos tomar lugar entre os pecadores acolhidos por misericórdia na Casa paterna, que é a Igreja de Deus.

Também nossa oração, pois, pode ter um grande valor pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, ante o Trono da clemência de Deus. E é o concurso desta oração que o Papa nos pede. Quem poderá não ver neste pedido uma ordem?

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Muita gente poderá sorrir à vista destas considerações. Enquanto os exércitos se alinham em intermináveis fileiras de combatentes, os tanques, os submarinos, os aviões e os canhões se põem em forma de combate, do que valerá a oração?

Atrás de nós estão vinte séculos de História da Igreja a atestar, como resposta insofismável, a fidelidade de Deus à sua dupla promessa: de jamais consentir na destruição da Igreja e de atender sempre a oração confiante e humilde dos fiéis.

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Consideramos digna de todo o aplauso a iniciativa de 2a Região Militar, com sede nesta Capital, referente à comemoração do Duque de Caxias. Para nós católicos brasileiros, o grande Marechal é uma glória autêntica. A grande envergadura de sua personalidade mostra claramente a que altura moral a doutrina e a vida espiritual ensinadas pela Igreja podem elevar um brasileiro em que se notam todos os traços distintivos da mentalidade de nosso povo.

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O fato de ter sido convidado o Ex.mo Rev.mo Sr. D. Aquino Corrêa, Arcebispo de Cuiabá, para pronunciar uma oração durante as comemorações, foi uma feliz idéia. Uma comemoração de Caxias na qual não se fizesse ouvir a voz da Igreja, ao lado da do Exército, não seria completa.

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Falamos há pouco a respeito do dever da prece. Com as devidas proporções, aquelas considerações se aplicam também aos sofrimentos que cruciam atualmente muitas regiões do Brasil em virtude da seca. S.Ema o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro ordenou, em sua Arquidiocese, preces litúrgicas especiais para que cesse o flagelo. A elas se devem associar todos os católicos ligados aos habitantes das regiões flageladas pelos vínculos da co-nacionalidade e pelo dulcíssimo laço da Fé.

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Continuamos a aguardar com ansiedade a decisão do Sr. Ministro da Justiça, acerca do pedido que a S. Ex.a foi enviado pela Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, no sentido de ser reprimida a propaganda espírita.

De modo acintoso, os espíritas anunciaram a próxima realização de um “Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas”, cujo fim consiste exatamente na maior difusão do espiritismo pela imprensa. E isto exatamente no momento em que uma das mais acatadas corporações científicas do país denuncia às autoridades competentes as conseqüências verdadeiramente catastróficas da propaganda espírita.

Esperemos que tal acinte precipite a adoção de prontas e enérgicas medidas repressivas por parte das autoridades, largamente munidas, para tanto, de atribuições e poderes conferidos pelas leis que nos regem desde 10 de Novembro de 1937.