Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 24 de setembro de 1939, N. 367

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A atitude assumida por esta folha no conflito teuto-polonês foi ultimamente confirmada de modo claro e positivo pelo “Osservatore Romano”.

Fazendo abstração das questões econômicas, históricas e políticas que possam estar envolvidas no presente conflito, o “Legionário” tomou em consideração um único fato, que é evidente e de importância tão primordial que põe à margem quaisquer outras considerações: a Polônia é um país católico, no qual a Religião encontrava livre exercício para o culto e plenas garantias legais para o exercício de sua atividade apostólica; d'ora avante, esse país católico gemerá sob a chibata de feitores heréticos, comunistas ou nazistas, pouco importa, e o culto católico passará a sofrer todos os entraves possíveis.

Em outros termos, a entrada de tropas soviéticas e nazistas na Polônia marcou para aquele país o início de uma atroz perseguição religiosa.

E não há razões humanas suficientemente fortes para consolar um coração verdadeiramente católico de uma tal catástrofe.

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Não foi outra a atitude do “Osservatore Romano”. O órgão da Santa Sé, depois de historiar a origem da guerra oriunda “monstruosamente da mais sangrenta campanha da Alemanha”, dirige as mais veementes críticas ao despudor com que o governo soviético atacou o povo polaco, que já se encontrava sob o peso da terrível agressão de um outro inimigo, muito superior em recursos militares. Acentua ainda o “Osservatore Romano” que a invasão da Polônia pela Rússia representou uma abominável violação dos tratados assinados anteriormente com o governo de Varsóvia.

O jornal “Itália” de Milão, conhecida folha católica, também fez considerações análogas a esta.

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A este propósito, o “Osservatore Romano” teve uma frase particularmente digna de nota, quando manifestou sua impressão de que, “além dos objetivos declarados da belicosa neutralidade soviética, outros há que poderão espalhar o fogo da guerra e transformá-la de luta política e militar em conflito destinado a efetuar conquistas de caráter ideológico, moral e social”.

Assim, pois, e com evidente razão, o órgão do Vaticano vê que, no atual conflito, o aspecto ideológico vai assumindo uma importância cada vez mais acentuada, constituindo um verdadeiro assalto do naturalismo pagão nazista e soviético ao mundo civilizado.

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Em outro local desta folha, publicamos com o devido destaque o artigo de S. Ema o Cardeal Verdier, Arcebispo de Paris, sobre o caráter ideológico do presente conflito. Constitui ele uma declaração impressionante sobre o cunho ideológico da presente guerra. E esta declaração tanto mais impressionante se torna, quanto até o presente momento não nos chegou a notícia de um único gesto de colaboração do Episcopado alemão com as atividades bélicas do país, ainda que seja em serviços de retaguarda. É absolutamente certo de que a Igreja, na Alemanha, não estará descuidando da assistência aos feridos ou aos desamparados, dever que lhe impõe a despeito de quaisquer considerações políticas. Não nos chegou, porém, a notícia de um único gesto de algum Cardeal alemão, análogo à atitude patriótica que o Episcopado daquele País tomou em 1914.

A explicação é fácil. Em 1914, era a Alemanha que estava em guerra, e o Episcopado sempre timbra em dar o exemplo em matéria de patriotismo. Hoje, parece cada vez mais claro que quem está em guerra não é a Alemanha, mas o nazismo. Quando o nazismo invadiu a Tchecoslováquia, o Episcopado alemão se recusou a felicitar o Führer. É lógico que ele tome, agora, idêntica atitude quanto à Polônia. (...)

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O “Osservatore Romano” acentuou que o caráter anticatólico do nazismo ficou ainda mais claramente patenteado pelo fato de não terem sido tomadas medidas análogas [de fechar várias Igrejas católicas, e recolher os objetos preciosos que se encontravam em muitos templos de nossa Religião] com igrejas de outras religiões, o que indica que a perseguição que o Sr. Hitler move contra elas se destina exclusivamente a disfarçar seus propósitos autênticos que só visam a Igreja Católica.

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Em seu mais recente discurso, o Sr. Hitler tem suas habituais diatribes contra o Tratado de Versailles. É preciso acentuar, a este propósito, que a opinião católica, como tal, não é infensa a uma cordial e honesta remodelação daquele Tratado, e que nenhum católico, como tal, é obrigado a achar que ele não continha cláusulas draconianas e injustas. A oposição dos católicos à política do Sr. Hitler vem exclusivamente do caráter profundamente pagão que ela tem, e da inconsistência de seu tão proclamado quanto irreal anticomunismo.

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O “Legionário” já tem premunido os católicos contra precipitadas e infundadas simpatias para com indivíduos que, sem se dizerem explicitamente católicos, vivem com o Santo Nome de Deus nos lábios. Em nossos dias, é este um dos disfarces preferíveis dos lobos, quando eles resolvem tomar a pele de ovelhas, para mais facilmente assaltar o aprisco do Bom Pastor.

Disto é uma prova muito eloquente o Sr. Hitler. Cada vez que ele pratica algum grande atentado contra os direitos da Santa Igreja de Deus, costuma ele fazer um discurso em que invoca o seu Santo Nome.

Assim, disse o chefe do nazismo em recente alocução: “Rogamos a Deus Todo-Poderoso que abençoe nosso povo e que ilumine nossos inimigos, mostrando que estão lutando pelos interesses de guerra”.

Pouco nos importa a questão dos “negociantes da guerra”. Porém, não podemos deixar de manifestar nossa profunda dor, vendo profanado de tal modo o Santo Nome de Deus.

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Lamentamos profundamente que o Consulado francês no México esteja aceitando recrutas comunistas daquele País.

Outrora, a Primogênita da Igreja se defendia com a espada de Joana d’Arc. Não terá ela, hoje, elementos de defesa melhores do que a espada dos adeptos de Moscou, daquela mesma Moscou comunista que infligiu à sua diplomacia a mais cruel das desilusões?


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