Legionário, N° 368, 1º de outubro de 1939

 

7 Dias em Revista

 

Dentre as numerosas homenagens de que tem sido objeto o Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano não podemos deixar de acentuar com particular carinho a grande manifestação operária que se realizou no Palácio São Luiz, bem como a que, hoje à tarde, oferecerão a S. Ex.a Rev.ma os criados, lixeiros e outros elementos pertencentes às classes mais modestas da população.

Já se tem dito com muita razão que o esforço do apostolado no Brasil se deve dirigir preferivelmente às duas classes mais trabalhadas pelas doutrinas deletérias e mais afastadas da influência da Igreja, que são respectivamente a alta sociedade e o operariado. A isto acresce que ninguém ignora existir, no coração do Arcebispo de São Paulo, uma corda particularmente sensível para os operários, que por sua vez já souberam compreender toda a delicadeza dos sentimentos que lhe dedica seu pastor.

A convergência destas circunstâncias deu à manifestação dos operários, e dará à manifestação de hoje, uma nota afetiva que não pode deixar de abrir as maiores esperanças para o futuro.

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Entre as muitas outras manifestações recebidas pelo Excelentíssimo e Reverendíssimo Sr. Arcebispo, teríamos dificuldade em acentuar as mais dignas de nota. Entretanto a visita coletiva da oficialidade da 2ª Região Militar, constituindo como constitui, um acontecimento talvez inédito nos anais do Brasil republicano, merece um tal destaque que não podemos deixar de lhe dar o devido relevo.

Já se tem mais de uma vez escrito nesta folha que o Brasil padeceu, durante toda a história da República, de dois males que herdamos do Império, e que depois de 89 se agravaram singularmente: a questão religiosa e a questão militar.

Infelizmente, os elementos empenhados em destruir as tradições católicas do Brasil trabalharam sempre no sentido de indispor o clero e as forças armadas com a população, quando na realidade eles são dois baluartes da segurança do Estado. Um representante de Deus, fonte de todo o Direito. O outro representa a força organizada para servir o mesmo Direito. Se estes dois setores da sociedade são, como foram, em todo o Ocidente civilizado, e também no Brasil, objeto de um trabalho de impopularização muito profunda na opinião pública - os que conheceram São Paulo há 20 anos poderão contar a história ainda não muito remota do anti-clericalismo de encomenda - não pode o Estado deixar de vacilar sobre suas bases.

Por outro lado, uma formação positivista minou a fundo nosso Exército, e o eriçou de prevenções para com a Igreja, completando assim este triste panorama.

Graças a Deus, a situação de tempos para cá já se alterou sensivelmente. E à visita que a oficialidade da Região fez ao Ex.mo. e Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano é uma prova de que a compreensão começa a reinar cada vez mais, e que podemos esperar uma efetiva cooperação com as forças armadas para a grandeza espiritual e temporal do Brasil.

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Evidentemente, se situa em um plano ímpar a visita da Magistratura do Estado ao Excelentíssimo e Rev.mo Sr. D. José Gaspar de Affonseca e Silva.

As augustas funções do Poder Judiciário tornam cada vez mais conveniente, nos dias que passa - o Direito é mais do que nunca conspurcado pela força e do terreno internacional este ambiente se projeta sobre toda a ciência do Direito - que a Magistratura firme cada vez mais sua autoridade nos verdadeiros princípios que a fazem decorrer de Deus e só d’Ele, e que por isto tornam excelsa e inviolável a dignidade dos juizes.

Graças a Deus, o Poder Judiciário tem, em São Paulo, à sua testa, a figura culta e digna de um Magistrado que em muitas circunstâncias tem afirmado desassombradamente a verdade que enunciamos.

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Eternamente preocupados em fechar os olhos às mais evidentes verdades, há muitos espíritos que supõem que o comunista, se prega doutrinariamente a supressão de todas as pátrias, é, entretanto, no terreno prático, um bom patriota, capaz de pegar em armas para morrer pelo seu torrão natal, no campo de batalha.

Para desfazer esta romântica balela, chamamos a atenção de nossos leitores para o movimento que se esboça na França pelo fechamento do Partido Comunista, sob a alegação de que este, dado o pacto teuto-russo, é inteiramente simpático à Alemanha nazista e trabalha contra os interesses da França.

Este movimento, encabeçado por elementos da mais alta responsabilidade na política francesa, representa virtualmente a violação da tradicional “union sacrée”, o que não teria sido feito se os comunistas não tivessem dado motivo a isto por seus manejos criminosos contra o próprio país em que nasceram. Sirva-nos esta experiência!