Legionário, 370, 15 de outubro de 1939

7 DIAS EM REVISTA

Seria supérfluo dizer com que sentimento de indignação o “Legionário” vem acompanhando o alastramento da ofensiva soviética no mar Báltico, ofensiva esta que parece desejar fazer da Finlândia a maior, porém não a última, de suas vítimas.

Duas notas merecem ser acentuadas nestes dolorosos acontecimentos.

A primeira é incontestavelmente a da violação de todas as regras do Direito Internacional por um Estado poderoso como a URSS, em detrimento de pequenos Estados que não poderiam conceber a esperança de uma resistência vitoriosa contra o gigante moscovita.

A segunda nota, entretanto, que deixamos para o fim por ser a principal, e por merecer implicitamente nossa atenção, é a ruína desses países organizados senão de forma ideal ao menos de modo compatível com a moral natural e o direito das gentes. Estes países, nos quais há uma porcentagem muito ponderável de católicos, vão agora ser esmagados pelo tacão da bota russa, e intensamente bolchevizados. E o “Legionário” não poderia, sem uma traição à sua missão, deixar de registrar seu protesto contra tal fato.

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Aliás, sabemos que nossa opinião reflete a de todos os brasileiros. Um país profundamente católico como o nosso não pode ser indiferente à bolchevização dos países bálticos.

Incontestavelmente o prisma pelo qual o golpe de 10 de Novembro recrutou na opinião pública os seus mais ardentes partidários, foi a perspectiva de que a reforma das instituições debelasse de vez a propaganda comunista. Sem este visceral horror ao comunismo, o golpe de 10 de Novembro não teria contado com muitas das melhores e mais ardentes dedicações que encontrou no público. Ora, o mesmo estado de espírito que determinou tais entusiasmos deve logicamente determinar descontentamento vivaz e efetivo em relação à bolchevização de quaisquer outros países.

O mal que não desejamos para nós, não podemos ser indiferentes a que sobrevenha para outros.

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Registramos a solidariedade da imprensa soviética às propostas de paz do Chanceler Adolph Hitler. Segundo um telegrama da agência Reuter, publicado no “Estado de São Paulo” do dia 10 pp., eis o que a este respeito escreveu o grande órgão comunista “Isvestia”:

“As propostas do Chanceler Hitler podem ser aceitas, recusadas ou modificadas, de uma forma ou de outra. Mas não é possível fugir à admissão de que, em qualquer caso, elas podem servir como base real de negociações para uma rápida conclusão de paz. Após a dissolução do Estado Polonês, não há mais justificação para que a guerra continue”. Prosseguindo, diz o “Isvestia” que se a França e a Grã Bretanha desejarem continuar a guerra, não o farão com o objetivo de “esmagar Hitler”, mas para consolidar “o seu domínio no mundo”.

Assim, pois, a imprensa comunista, pelas razões enunciadas ou outras quaisquer não enunciadas, desejou ardentemente o sucesso da proposta de paz do Reich.

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A Itália fascista e a Espanha nacionalista tomaram atitudes semelhantes à dos sovietes, isto é, apoiaram também as propostas do Sr. Hitler.

Em declarações contendo, aliás, belas palavras a respeito de Religião, o General Franco fez sentir sua apreensão de que se a França e a Inglaterra não acolhessem os propostas do chefe do nazismo, uma guerra se desencadearia sobre a Europa, que provocaria a ruína dos países burgueses e o triunfo implícito do comunismo. A diplomacia soviética parece não considerar provável este sucesso, supomos nós, uma vez que, a despeito do motivo apontado pelo Chefe do estado Espanhol, ela formou declaradamente na frente pacifista. Sem o apoio declarado da Rússia, do que teria valido a proposta alemã?

Também a diplomacia italiana se manifestou a favor da paz. Esta atitude, aliás, não se refletiu tanto por gestos diplomáticos, quanto comentários da imprensa italiana, toda ela de inspiração oficiosa. A imprensa fascista, coincidindo suas vistas com a soviética, acolheu com simpatia o discurso do Chanceler Adolph Hitler.

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É de se notar que a mesma linha de conduta assumida pela Rússia foi seguida por várias outras correntes políticas. Na Bélgica, o chefe fascista sr. Leon Degrelle, que é o leader do rexismo, lançou um manifesto a favor da paz. Na Inglaterra, o partido fascista do sir Oswald Mosley faz propaganda da paz, apesar de estar o país em plena guerra. E assim, em outros países as “direitas” tem o mesmo ponto de vista.

Como se vê, pois, houve um largo esforço de caráter internacional pela paz, no qual os membros das “direitas” belga e inglesa tiveram parte saliente. Na França, não sabemos o que fizeram as “direitas”. Sabemos, entretanto, que as manobras dos comunistas franceses a favor da paz secundaram de tal modo as dos fascistas ingleses e belgas, que o Governo francês se viu forçado a iniciar uma enérgica atividade anticomunista.

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Muito diversa desta foi a atitude de S.Ema o Cardeal Arcebispo de Paris que, fiel ao pensamento enunciado pelo Santo Padre em sua recente alocução aos polacos, tomou francamente posição em prol da restauração da Polônia.

Segundo já publicamos em nossa última edição, S.S. o Papa disse aos polacos que não os aconselhava a enxugarem as suas lágrimas. Assim como Nosso Senhor só fez estancar as suas à ressurreição de Lázaro, assim também os polacos só deveriam cessar de chorar quando ressurgisse a Polônia.

Em outros termos, significam estas palavras que o Papa aconselha os polacos a que não se conformem com sua desdita, mas que envidem esforços perseverantes, e sobretudo ofereçam orações ininterruptas a Deus, para que a Polônia seja restaurada.

Dentro deste pensamento, na semana anterior à que hoje finda, em todas as Igrejas de Paris, simultaneamente, foram celebradas Missas pela restauração da Polônia.

Na já histórica Basílica do Sagrado Coração de Jesus de Montmartre, o próprio Cardeal Verdier celebrou Missa solene pela Polônia. Estava presente o novo Presidente daquele país.

No sermão então pronunciado por S.Ema, notam-se as seguintes palavras expressivas: “Se é certo que toda a grandeza moral se consegue pelo sacrifício, que magníficas esperanças se abrem para a Polônia e para nós.

“Com uma claridade sempre maior, a luta atualmente travada tem, como penhor, a civilização sob que nos abrigamos - a civilização cristã.

“É comovedor verificar que a Polônia católica foi a primeira barreira contra a torrente devastadora, e as suas primeiras vítimas são o prenúncio da vitória que amanhã salvará tudo quanto nos é precioso”.

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Não podemos deixar de registrar com pesar o falecimento de S. Ema o Cardeal Mundelein, ilustre prelado norte-americano, piedosamente sepultado em presença de 50 bispos e de uma multidão de mais de 500.000 pessoas, em sua Pátria.

Sua Eminência, que era de família originariamente alemã, foi infatigável no combate aos ...... [problema tipográfico].